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Quinta-feira - 15 Maio 2025

EXCLUSIVO: Dos bancos da escola para o mundo da transportadora, “um empresário de sucesso assume-se”

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Estivemos em entrevista com Mário Martins, um português oriundo de “uma terra muito pequena” em Vila Nova de Foz Côa, considera o seu percurso de vida “um bocado banal”, uma visão muito modesta, pois o que nos contou de banal pouco ou nada tem a ver com este homem, que adora o seu país, mas que teve de emigrar para França e reunir-se com o resto da família, quando terminou a quarta classe, com dez anos de idade.

“É um orgulho ser português” diz sem grandes rodeios, pois os portugueses são vistos como pessoas muito trabalhadoras e honestas, e estas qualidades “só nos podem dar motivo de orgulho”. Até os seus netos que nasceram em França se assumem portugueses, uma família verdadeiramente lusa.

Da escola saiu, e com 23 anos de idade pediu um empréstimo ao pai, que naquela época era em francos, quatro mil francos, (6153 euros) para comprar um camião. Muito rapidamente comprou um segundo e a partir daí a sua vida empresarial foi sempre em crescendo, hoje tem uma frota de 480 livretes. O menino de dez anos de Vila Nova, Foz Côa, conseguiu atingir o que muitos não conseguem, ter uma frota de camiões. E estão em várias zonas em França, na região parisiense, perto do aeroporto e em Portugal, em Perafita, no Porto. Tem uma agência pequena em Bordéus. Conheceu a sua atual esposa quando tinha 24 a fazer 25 anos, ela tinha 23 anos, quando finalizou o curso de contabilista e depois veio o casamento, e continuam ligados desde então.

Começaram a trabalhar juntos, “o que não é fácil”, diz Mário Martins, com um leve sorriso, mas para ele foi ótimo, na medida que “eu andava à volta do volante e a minha mulher estava no escritório”. E foi assim “o nosso percurso.” Mais tarde vieram os filhos que se juntaram a eles. Terminaram a Universidade e decidiram começar a trabalhar na empresa familiar.

Os pais de Mário Martins eram pessoas muito modestas, o pai trabalhava numa fábrica como soldador e a mãe era Senhora de limpeza, portanto, os ordenados deles eram muito modestos. Ainda hoje “comento isso muitas vezes, digo que não sei como é possível ter pedido um empréstimo daquele valor aos pais”. Se fosse hoje, “nunca tinha pedido porque era à época muito dinheiro.”

“Os meus pais tiveram 5 filhos e não era fácil naquela época, terem aquele montante.” Sente-se um pouco irresponsável em ter pedido aquele valor, mas os pais acreditaram nele. “O meu pai já não faz parte deste mundo, a minha mãe ainda está connosco” desabafa. Mas o pai sempre acreditou nele e sabe que está orgulhoso nos filhos que tem. “Sempre foi um exemplo para mim”. Mesmo com a sua partida há 14 anos, “continuo a homenageá-lo.

Depois de chegar ao momento da reforma, regressou para Portugal e a paixão dele eram as vinhas, o vinho do Douro e as oliveiras. Continuou a plantar, e em setembro, mês das vindimas, ia sempre ajudá-lo. E hoje continua a homenageá-lo, até tem um vinho dedicado a ele, que se chama: “A vinha do meu pai”.

No mundo dos negócios, na M.R.T.I, Mário Martins diz que o seu negócio começou a prosperar, foi ganhando mercado, e está numa boa fase. Neste momento transportam de tudo um pouco, mas estão mais especializados no transporte do género da Amazon. Desde o COVID, houve uma transição na qual este setor do mercado começou a florescer, o negócio de entrega de produtos em casa. A empresa dele descarrega os seus camiões cheios desses produtos e depois as empresas de distribuição, como por exemplo a UPS, fazem o restante.

Hoje em dia, depois do Covid, o mercado de venda online subiu muito, e as pessoas quando pretende comprar um par de sapatos vão à internet e compram online, é muito fácil e prático, e esta tendência fez alargar ainda mais um segmento de mercado.

Transportam as grandes marcas, “estamos em Paris e temos 120 camiões, todos os dias a descer de Paris para Lyon, e de Lyon para Paris. Cargas completas, que vai do ponto A para o ponto B, “chegamos lá descarregamos e depois vêm as distribuidoras e entregam de porta a porta.”

A empresa continua a crescer e Mário Martins sente-se realizado, quer profissionalmente quer ao nível pessoal e familiar. Nunca se sentiu discriminado em França, bem pelo contrário, os portugueses em França sempre foram considerados como pessoas honestas e trabalhadoras, “e por isso eu tenho muita honra quando vou a qualquer lado, e identifico-me como português. Os portugueses têm uma reputação de pessoas trabalhadoras e honestas” reforça.

Sente-se bem na pele que veste, e há pouco tempo foi homenageado no Palácio de Belém pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, com a distinção de Comendador no dia 5 de outubro, uma data muito especial em Portugal, pois celebra-se a implantação da República de 1910.

“O nosso Presidente viu que realmente há pessoas em França, que foi o meu caso e de outros também, que foram condecorados, sempre fui um homem, um empresário, trabalhador, e sério na minha vida, mas também ajudei centenas de associações e continuo a ajudar outras tantas, e provavelmente foi por isso que fui distinguido pelo nosso Presidente da República.”

As viagens a Portugal

Naquela época ia-se a Portugal uma vez por ano, não se ia com tanta frequência, como vai agora, de dez em dez dias mais ou menos. Mas em criança não era bem assim, e “para mim era uma enorme alegria ir para a minha terra, era um prazer enorme chegar à minha aldeia. E quando tinha que regressar a França ficava muito triste, porque sabia que só voltava um ano depois.”

Mário Martins tem tanto amor a Portugal, que considera tudo fantástico. “Temos um país excecional, já corri alguns países do mundo e até hoje para mim, o meu país ainda é o melhor” diz com orgulho. A gastronomia é fantástica, o calçado português é fantástico. A segurança, fantástica, “temos um país com muito sol, com tudo. Hoje tenho os meus filhos e os meus netos que adoram o país. Quando digo que vou a Portugal, até os olhos deles brilham mais, querem vir comigo e ficar por cá. Não falam português, mas entendem tudo.”

Os filhos falam bem a língua de Camões, porque os funcionários da empresa não falam francês, “têm aquele sotaque característico, mas é normal. Em casa só falamos francês, porque é uma língua mais fácil para nós”. Vivem a portugalidade de uma forma tão intensa que se Mário perguntar aos netos, que nasceram em França, se são franceses ou portugueses, imediatamente dizem que são portugueses!

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