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Quinta-feira - 15 Maio 2025

Sheila Abranches neta de Aristides Sousa Mendes: a vida de um ser humano não tem preço

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O “Jornal Comunidades Lusófonas” conversou com a neta de Aristides Sousa Mendes, Sheila Abranches, que atualmente vive na Califórnia, Estados Unidos. É uma pessoa muito sensível e assertiva, fala do avô, Aristides Sousa Mendes, com uma proximidade impressionante. Ela tenta seguir os passos dele, mas sabemos que é impossível fazer o que ele fez pelas vidas que salvou. Um homem muito dedicado a Deus e com muita fé. Assim morreu, na pobreza (de bens), mas com uma fortuna imensurável de afetos, caridade, e reconhecimento internacional.

Sheila Abranches Pierce, é a terceira filha do 13º filho de Aristides e Angelina, John Paul. Foi criada na Califórnia e passou 27 anos na cidade de Nova Iorque, (morou em Queens, e trabalhou no distrito financeiro).

Atualmente, regressou à Califórnia (área da baía de São Francisco), e trabalha em finanças, como gestora de projetos. Além de Sheila, John Paul e a sua esposa Joan tiveram dois filhos (Paul e Peter) e uma segunda filha mais nova (Eileen).

Além da sua família, é casada e tem uma enteada e um enteado. Fato interessante: ela cresceu e atualmente mora a cerca de 24 quilómetros de distância de onde a família morava, quando vieram para os Estados Unidos, na Califórnia, na década de 1920.

Pai e mãe de Sheila Abranches

Ela tem muito orgulho dos avós e quanto mais adulta se torna, mais impressionada fica com eles, os tios, tias e primos que ajudaram naqueles dias sombrios em França e em Portugal. Embora os seus avós passassem os dias a meditar sobre a situação, e ter que fazer a escolha e seguir em frente, exigindo muita coragem e fé.

À medida que ela ia crescendo, ouvia histórias do seu pai sobre como ele brincava com Aristides Sousa Mendes, a fazer de ‘tourada’ com ele, revezando quem era o touro e quem era o matador. O seu amor pela música também era bem conhecido na família e compartilhado entre os filhos (alguns dos seus tios e tias tinham formação clássica).

Família de Sheila Abranches

Aristides era uma pessoa com muito sentido de humor e de uma natureza alegre, bem como sua devoção a Deus, faziam parte das histórias que ela ouviu enquanto crescia. Sheila admira muito o seu avô, mas infelizmente ele faleceu antes dela nascer, só o “conheceu” através de histórias do seu pai, familiares e/ou outras pessoas que o conheceram.

Um deles foi Isaac Bitton. Quando era jovem em Portugal, servia aos refugiados num refeitório local e partilhou com Sheila a versão dos acontecimentos do seu avô e como ele transmitiu que se um homem pode sofrer por tantos, e ele sofreu por muitos, e “estava em paz com a sua decisão e que faria tudo novamente, com Amor”.

É impossível para Sheila compreender totalmente a gravidade daqueles dias (ou mesmo o tempo de guerra) para sequer adivinhar hipoteticamente o que “eu ou qualquer pessoa faria – no entanto, faço o meu melhor para viver com o coração aberto”. Ela só imagina que o raciocínio dele, era a emissão de passar os vistos. Gostava muito de viajar. Conhecer novas pessoas, viver em culturas diferentes apenas para descobrir que todos querem a mesma coisa.

Toda a gente quer que a sua família esteja alimentada, vestida, segura e aproveite a vida. “Sei que ele tinha orgulho de ser português e todos conhecem a hospitalidade portuguesa.” Isso não muda quando se está num país diferente. Sabemos também que ele amava os seus filhos, por isso “imaginamos ver famílias fora da sua residência a bater à porta de sua casa.”

Não demorou muito, antes da Segunda Guerra Mundial, os seus avós perderam a filha mais nova, bem como o seu segundo filho, sabiam que tipo de perda é “o meu palpite é que ele não poderia ficar parado e não fazer nada”. Isso iria contra tudo o que eles eram e em que acreditavam. Como ele disse: “Prefiro estar com Deus contra o homem, do que com o homem contra Deus, e acolhi a oportunidade com Amor”.

À medida que ia crescendo, Sheila sempre foi muito sensível ao fato de que seus avós desistiram de tudo, que o seu pai e seus irmãos (os mais novos) tiveram que emigrar para a América do Norte. “O meu pai contava histórias de professores a perguntar-lhe se ele era filho de Aristides ou de César e erravam quase sempre.”

Por causa desta e de outras histórias, “sempre senti que lhes devia o meu melhor (não que sempre tenha sucesso), mas tento”. Sheila acredita que ele era igual a todos nós. Um ser humano imperfeito que gostava das pessoas e foi colocado numa posição, para um bem maior. (Como ouvi do meu pai, um ano depois de perder o filho e a filha, ele tentou conseguir uma transferência para a Ásia, mas foi forçado a ir para a França.

“Acredito que tudo isso estava nos planos de Deus.”) Desde o falecimento de Aristides em 1954, a sua família tem trabalhado incansavelmente para a sua reabilitação, e em 1988 o Parlamento português rejeitou oficialmente as alterações contra ele. No início dos anos 2000, a família criou a Fundação Portuguesa de Aristides de Sousa Mendes (FASM) que se dedica a dar a conhecer a sua vida e ação.

Em 2010, a Fundação Americana Sousa Mendes (SMF) foi criada pelos netos de Sousa Mendes, beneficiários de vistos/filhos de beneficiários de vistos e apoiantes de longa data de Sousa Mendes. A SMF também tem trabalhado para transmitir a história dos seus avós através de vários programas, incluindo as viagens Jornada no Caminho para a Liberdade, que seguem o caminho que os refugiados percorreram, começando em Bordéus e terminando em Portugal.

Quando questionada, Sheila identifica-se como uma americana de ascendência portuguesa e irlandesa, que gostaria de pensar que carrega a hospitalidade dos seus avós e sabe que herdou o amor da família pela exploração (visitar novos lugares e conhecer novas pessoas), música, boa comida e longas despedidas!

A tradução deste artigo foi feita por Lígia Mourão.

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