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Estivemos à fala com Helena Sacadura Cabral para sabermos que visão tem sobre Portugal, do ponto de vista económico e cultural. “O país tem ainda muito chão a percorrer”, disse a Economista. Portugal tem muitas coisas positivas, mas tem de ser aproveitado com os recursos que vêm de fora.
Jornal Comunidades Lusófonas – Na qualidade de Economista e escritora como vê a emigração portuguesa, desde a década de 60 até ao presente?
Helena Sacadura Cabral – Com alguma preocupação. Portugal é um país que importa e exporta pessoas. Por outro lado, tem uma taxa de natalidade, que não chega para a a reposição populacional. Assim, estão a fixar-se no nosso país pessoas que são contratadas para o trabalho que os nacionais já não querem exercer e estão a sair para o exterior pessoas com formação superior, nas quais o Estado investiu e de que não obtém o retorno, que vai fica nos países para onde emigram. A prazo isto vai trazer mudanças no nosso tecido populacional.
JCL – Considera Portugal um bom país para se viver, ou temos muito chão para caminhar até chegarmos ao nível dos nossos congéneres europeus?
HSC – Portugal é um excelente país para se viver. Belas paisagens, boa comida, uma população por norma acolhedora, com vida tranquila. Mas tem um baixo nível social, um nível cultural baixo, uma iliteracia grande, quando nos comparamos com um significativo número de países europeus.
Ainda teremos algum chão para caminhar até chegarmos ao nível de determinados países europeus.
JCL – Como vê Portugal do seu ponto de vista de Economista?
HSC – Essa é talvez a questão mais difícil de responder, porque os economistas e a política têm relações perversas. Pessoalmente, entendo que nós perdemos nestes últimos anos a oportunidade – talvez única – de fazer as “grandes mudanças”. E julgo que as ideologias terão sido determinantes naquilo que não soubemos ou não quisemos fazer. É um “gap” que nos irá custar muito caro!
JCL – E do seu ponto de vista literário? Como o descreveria?
HSC – Apesar da fraca contribuição orçamental para a cultura, ainda é neste campo que tenho mais esperanças. A Inteligência Artificial – IA – virá revolucionar toda a sociedade. E se os riscos dela são enormes, acredito que o seu bom uso, venha libertar o homem de tarefas e de tempo, que poderá dedicar à cultura. Mas será necessário reformular todo o sistema de ensino, para que essa transformação seja possível!
JCL – Algum dia pensou em emigrar? Kant dizia que “viajar era aprender”, e emigrar é o quê, no seu ponto de vista?
HSC – Mentiria se lhe dissesse que não. Por dever profissional, andei pelos cinco cantos do mundo. Mas na altura em que admiti fazê-lo, tinha dois filhos menores, cujo pai não admitia que eu os levasse. E por isso optei ficar por cá. Não sou pessoa de me lamentar. Assim, fiz-me à vida e dei o meu melhor a um país que me permitiu ser quem sou.
JCL – Se tivesse de emigrar, que país escolheria e porquê?
HSC – Diria dois. França ou Japão. Em qualquer deles a minha sede de saber ficaria bem satisfeita. Paris, onde vivi, é a minha segunda pátria. O Japão, que visitei bastantes vezes, tem sobre mim um enorme fascínio no campo espiritual e na surpreendente capacidade de misturar velhos e novos de forma tão harmónica. Há, creio, em mim um lado silencioso que desabrocha naquela civilização.