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Segunda-feira - 9 Dezembro 2024

A Política e o Terceiro Poder

Destaques

A vitória de Trump, mais do que um aviso à democracia, é um aviso à política moralista e à imprensa. 

Quando um candidato como Donald Trump vence por duas vezes a corrida à Casa Branca, isso diz tanto de quem vota, como tanto de quem vai a eleições. Invariavelmente, uma elite moralista que não se preocupe com a vida comum de um cidadão será castigado. Em política, mais do que definir moral (papel da religião e dos costumes, para o bem e para o mal) deve-se definir uma visão que permita ao cidadão ter maior liberdade, e tal não se encontra numa definição de género, sexo ou raça, mas antes em linhas gerais de economia, isto é, em políticas que permitam ao cidadão ter energia, transporte e trabalho. E hoje, o que se tem notado é que os detalhes se tornaram mais importantes do que as linhas mestras. 

E se o Partido Democrata falhou em não representar o cidadão comum, optando antes por representar a moral das celebridades, por outro lado, a Imprensa preocupou-se, uma vez mais, em hostilizar Trump, em vez de criticar o essencial, sobretudo na Europa, que passaria, pelo papel que a Política Externa Americana poderá perder com um regresso dos EUA a uma postura mais isolacionista. E ainda assim, apesar de crer que tal acontecerá, nem sequer tenho fortes convicções neste sentido, visto que, foi com Trump que os históricos Acordos de Abraão se deram entre Israel, Emirados Árabes Unidos, Bahrain e Marrocos, algo inédito, em décadas, entre judeus e árabes (e que embora não tenha resolvido o conflito Palestina- Israel, promete pelo menos uma balança de forças na região). 

Como tal, a vitória de Trump é, sobretudo, uma oportunidade para a União Europeia finalmente assumir-se como um bastião no mundo, ou em sentido inverso, declarar a sua própria queda pela falta de ambição em ser aquilo para o qual se instituiu – uma Federação de crescimento. E tal só poderá ser possível com um mercado económico e financeiro igual entre todos os países, com linhas comuns de industrialização, ciência e energia, que torne possível um igual ritmo de crescimento entre todos, sem paraísos fiscais a concorrer entre Si no seu seio. Sei que é difícil pôr de lado os carinhos nacionalistas e culturais, mas a Europa só é Europa porque o seu berço cultural é comum, e portanto mais do que uma paradigma de nações, importa agora na UE estabelecer uma identidade continental que seja capaz de vencer bloqueios e existir a uma só voz e tal só será possível com um verdadeiro Parlamento e Governo Europeu, com um último Supremo Tribunal Europeu e com uma Força Conjunta Europeia. E tal não só é novo, como já tinha sido muito defendido, contra todos, quando Charles de Gaulle, o Presidente Francês do pós-segunda guerra mundial defendia que tinha de ser a Europa, e não os EUA  a ser eles mesmos os responsáveis pela defesa da Europa e, tal só é possível se a EU tiver a coragem para uma nova linha política e de defesa que transcenda a atual União e a velha NATO, mesmo que isso implique deixar de fora da União quem se oponha, por meros interesses eleitorais próprios do seu cantinho. 

Por último, também devo bater no cidadão comum que bate na imprensa, ou por esta se focar no folclore das discussões ou por esta não mais conseguir fazer grandes trabalhos de investigação optando antes por abraçar certas linhas ideológicas mais elitistas. Tal cidadão é também responsável pela Imprensa visto que esta só poderá existir e ter recursos para investigar se tiver dinheiro, e não, isso não se faz nem pelo papel do Estado, que a pode manipular, nem pela publicidade que mais se preocupa em alimentar-se de polémicas do que com factos ou dados. O financiamento da Imprensa só poderá passar pela vontade do Cidadão Comum financiá-la e suportá-la, pela sua subscrição, promovendo até o jornalismo independente fora do Big Brother das massas. Só o hipócrita pode desmerecer aquilo que não paga, e se eu pago por energia, porque razão também não devo pagar, em liberdade, por quem me promove a informação? 

Dito isto, a vitória de Trump é um desafio a criar políticos que se preocupem não com a manutenção das coisas mas, em contracorrente, com a criação de novas instituições que permitam não só mais liberdade, mas também a defesa da mesma, face ao ressentimento, migração, inflação e paradigmas continentais; sem no entanto esquecer que a liberdade só é possível se cada cidadão se preocupar ou, em ser um agente ativo da liberdade de imprensa, ou quanto muito, seu mini-mecenas. 

Autor: Pedro Miguel Santos

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