Ocha/Francis Mweze – Lac Vert, Goma, RD Congo. Goma tem mais de 2 milhões de habitantes, com pelo menos 500 mil pessoas deslocadas
Em entrevista exclusiva à ONU News, ministro das Relações Exteriores Téte António reforça papel da diplomacia para acordo de paz entre RD Congo e Ruanda, em processo liderado pelo presidente João Lourenço; conflito, que dura décadas, causou milhares de mortes e milhões de deslocados internos.
Em 15 de dezembro, Angola abrigará uma Cimeira de Chefes de Estado para debater a situação da paz e segurança na República Democrática do Congo.
O Encontro de Cúpula ocorre entre o presidente de Angola, João Manuel Gonçalves Lourenço, o presidente de Ruanda, Paul Kagame, e o presidente da República Democrática do Congo, Félix Tshisekedi.
Diplomacia, único caminho
Em julho, com base na intermediação de Angola, foi firmado o cessar-fogo na RD Congo, que entrou em vigor em 4 de agosto deste ano. Desde então, representantes diplomáticos das três nações têm-se reunido para aprofundar o diálogo na direção de um acordo de paz abrangente.
Em entrevista à ONU News, o ministro das Relações Exteriores de Angola, Téte António, falou das conversações e reforçou que a diplomacia é o único caminho para a paz.
“Mas só insistimos num aspecto. Só o diálogo poderá resolver o problema. As armas já foram experimentadas. A ausência de paz naquele país, a RDC, data desde os anos 1960. Portanto, já são quase 60 anos de instabilidade, de uma forma ou outra, em períodos diferentes. Já é tempo de todos nós vermos esse país em paz porque tem um impacto não só no continente, mas tem na paz mundial.”
A RD Congo é um país rico em recursos minerais que há várias décadas sofre com um conflito que envolve mais de 120 grupos armados.
Verificação da paz e mecanismo ad hoc
O chefe da diplomacia angolana, Téte António, citou alguns aspetos importantes para o acordo como o retorno dos refugiados congoleses, os refugiados tutsis congoleses que estão no Ruanda, o desengajamento das forças no terreno ou levantamento de medidas de segurança de Ruanda.
Outro ponto, segundo o ministro, é a neutralização da Fdlr, um grupo de milícias hutus que saíram de Ruanda durante o genocídio ocorrido em 1994.
Além disso, os negociadores debatem a situação do M23, ativo no leste da RD Congo. O cessar-fogo é monitorizado por um Mecanismo de Verificação ad hoc.
Mais de 7 milhões de congoleses obrigados a fugir da violência
A Missão de Paz das Nações Unidas na RD Congo, Monusco, tem apoiado os esforços do Processo de Luanda, que também foi elogiado pelo secretário-geral da ONU, António Guterres. Para o chanceler de Angola, Téte António, a parceria com as Nações Unidas é um passo importante na direção da paz.
“Na prática, nós temos tido uma cooperação exemplar com as Nações Unidas. No sentido de que, no terreno, temos uma colaboração. Está lembrado que assinei aqui, no Ministério das Relações Exteriores, um Memorando de Entendimento com a Monusco, para a missão apoiar um mecanismo de verificação ad hoc, que foi decidido no Processo de Ruanda Justamente para velar pela prevenção, mas observar qualquer violação que houvesse no terreno pelas partes. É um mecanismo de que fazem parte 18 oficiais angolanos, 3 da RDC e 3 de Ruanda.”
Mais de 1,7 milhão de pessoas vivem deslocadas somente na província do Kivu do Norte. Em todo o país, mais de 7 milhões de congoleses foram obrigados a deixar as suas casas devido a confrontos.