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O passado das Sanjo tiveram o seu “nascimento” em 1933, em pleno Estado Novo. O país vivia num cinzentismo muito carregado, a indústria estava muito atrasada, e o país não se desenvolvia ao mesmo ritmo dos nossos congéneres europeus. Estávamos virados de costas para a Europa, e à nossa frente tínhamos um imenso mar que nos fazia crescer a um ritmo muito lento. As Sanjo eram as sapatilhas que marcaram a “democratização” no modo de calçar.
“A nossa história começa em 1933 numa fábrica que não era de sapatos, mas sim de chapéus”.
Esse item, outrora indispensável em qualquer cabeça, estava aos poucos a cair em desuso que levou a empresa a explorar novas técnicas e matérias-primas, entre as quais a borracha vulcanizada.
Daí ao calçado do desporto foi um pulo, e depois de algumas experiências, eis que surgem as primeiras sapatilhas portuguesas, “que cedo viriam a calçar o país inteiro”.
Nas décadas que se seguiram, e sem a concorrência de outras marcas, as Sanjo tornam-se um fenómeno nacional.
Durante os anos 80, saltam dos pavilhões para a rua. E enquanto que o mundo se rendia às marcas internacionais, Portugal calçava orgulhosamente as suas K100 e K200.
Com o fim da ditadura, em 74, e a adesão à CEE já na década de 80 (1986), as barreiras que separavam o país do resto do mundo dissiparam-se.
As marcas internacionais começaram a ganhar terreno, ao mesmo tempo que as Sanjo iam perdendo popularidade. Em 1996, a fábrica declara falência.
Design continua atual
Ao nível da identidade visual o grande objetivo foi manter e respeitar o modelo original de modo a entregá-lo tal e qual ele foi projetado na sua primeira conceção e na sua origem.
A nível de qualidade houve obrigatoriamente um processo de melhoria que nos obrigou a reunir alguns esforços de modo a ir de encontro daquilo que pretendíamos:
Trazer a produção de outros países, nomeadamente de Espanha ou da China, para Portugal obrigou a que fossem tomadas algumas decisões acerca do processo produtivo. Foi imperativo abandonar a vulcanização da sola, método de produção que já não existe em Portugal devido a políticas ambientalistas. A sola passou assim a ser colada, método mais amigo do ambiente, quando comparado com o procedimento anterior. Esta mudança permitiu diminuir a pegada ecológica da marca, fazendo da SANJO uma marca 100% nacional – desde as suas origens até ao seu produto final. Foi sem dúvida “o maior desafio com que nos deparamos e enche-nos de orgulho ter conseguido chegar ao produto final tal como idealizamos”.
Produção Nacional
Trazer a produção para Portugal e optar por construir as novas K100 e K200 com outra técnica que não a vulcanização obrigou ao desenvolvimento das solas de raiz, processo que teve muitos avanços e recuos “até chegarmos à sola final”, assim como do ponto de vista da modelação da gáspea, em “que fomos insistentemente criteriosos de modo a que a modelagem respeitasse todo o legado que estes dois modelos carregam”.
Outro desafio foi acrescentar valor e qualidade à SANJO. Isto implicou abandonar as técnicas de impressão que a sapatilha tinha, como por exemplo, na pala ou na palminha e substituir tudo por etiquetas têxteis, com maior durabilidade e mais estético. Os ilhós e revestimentos foram substituídos por materiais visualmente idênticos mas de qualidade superior. As novas K100 e K200 apresentam-se agora com um forro interior para que torne a sapatilha mais confortável e ainda lhe “acrescentamos, nos lançamentos de Outono/Inverno, uma espuma interior de modo a promover o aquecimento da sapatilha aumentando significativamente o conforto para os dias mais frios”.
Tal como aqueles que nos acompanharam, a Sanjo também cresceu. “Voltamos os mesmos, mas ligeiramente diferentes. Prontos para mais 90 anos de história”.
O regresso das Sanjo ao mercado
A entrada da Sanjo numa nova era dá-se em 2019, quando foi comprada por uma empresa de Braga a, M2BEWEAR, que se dedicou a limpar a imagem deixada pela seu anterior dono. “Costumo dizer, quase em tom de brincadeira, que a Sanjo é um velhinho com quase 90 anos que durante um período de tempo foi muito maltratado, referiu, Vitor Costa, o diretor criativo. “As marcas são sobre amor, comunicação e imagem, e senti que no início havia algum mal-estar. Foi um trabalho difícil de fazer, com dificuldade que acabou por se superar rapidamente. A partir do momento em que fizemos o primeiro editorial, a nossa imagem passou a ser mais cuidada, as pessoas começaram a perceber que houve essa mudança, e desde então o feedback tem sido muito bom.”
Fazer o relançamento de uma marca tão icónica como esta não foi, no entanto, um processo fácil Existe um legado e um imaginário popular que tem de ser respeitado. “Houve alguns constrangimentos causados por um ADN tão vincado, o que dificultou um pouco a produção de novos modelos. No entanto, “tentei trazer muitos dos elementos da Sanjo antiga”. Até porque, tendo em conta que era uma marca com um arquivo tão rico, não fazia sentido ignorar essas referências. Claro que houve alguma resistência, “mas quando criei os modelos skater tudo mudou.”, afirmou o diretor criativo da marca.
Mudanças da marca
As mudanças da Sanjo não se ficaram por aqui. Ainda que a princípio não fizessem planos de se dedicarem ao vestuário, em 2021 apresentaram a sua primeira linha de roupa. “Inicialmente fiquei um pouco reticente, mas depois, quando mergulhei no legado, percebi que a marca, devido à sua origem – serem sapatilhas feitas por uma fábrica de chapéus – tinha sido extremamente ousada. Então assumi essa inspiração”, conta Vitor Costa.
Atualmente, a Sanjo continua a apostar na otimização dos seus produtos, tanto ao nível do conforto como também de sustentabilidade.
Em termos de internacionalização “estamos a dar os primeiros passos em Espanha, Itália, França, Itália, Alemanha, Bélgica, Suécia, Sérvia, Israel”. E em 2022 representou 13% da faturação de 2,2 milhões de euros, o que representa um crescimento de 57% face ao ano anterior.
Os planos para o futuro passam por abrir uma loja física na baixa de Lisboa e “vamos continuar com a aposta na internacionalização, em agosto vamos realizar a primeira feira da marca que será em Copenhaga”.