Pedro Vilar, Presidente da Direção da Associação Intercultural São-tomense
O surgimento da Associação Intercultural São-tomense tem na sua génese uma vontade de apoiar todos os São-tomenses, e não só, na integração no mercado de trabalho. Dotá-los de capacidades técnicas, tendo como um dos objetivos, ajudar arranjar emprego e estudar em Portugal. Estas ajudas são extensíveis a outras comunidades, mas com maior prevalência aos São-tomenses, que por uma questão linguística os aproxima mais a Portugal. Mas nem tudo são rosas, pois a Associação (sem fins lucrativos) debate-se com um problema grave, a falta de capital.
A “Associação Intercultural São-tomense, é uma Associação formada por pessoas de Portugal e de São Tomé, particularmente, as São-tomenses que estiveram a estudar, e a formar-se em Portugal. É uma Associação criada em dezembro de 2005”, refere Pedro Vilar, Presidente da Direção.
A Associação teve na sua origem o Cônsul de São Tomé no Porto, e um conjunto de estudantes, que estavam em Portugal na altura, e que sentiram a necessidade em função de todas as carências que estavam a enfrentar. Criaram esta Associação vocacionada para esses interesses, ajudar, todos os estudantes, todas as pessoas que decidissem vir para Portugal, para estudar, ou trabalhar, e que estavam um pouco desamparadas em Lisboa.
Segundo o seu Presidente, mencionou que a “Associação Intercultural São-tomense, também tem no meio de isto tudo, uma vontade de afirmação da cultura de São Tomé, e de tudo aquilo que aproxima ao Estado Português, uma fusão de culturas, e de conhecimentos.”
De uma forma tão simples e espontânea, nasce um projeto comum, para desenvolver “desígnios que venham a facilitar a integração futura de todos os São-tomenses, e Luso-são-tomenses, aqui em Portugal”.
O objetivo principal desta Associação é apoiar os imigrantes. Em particular os imigrantes de São Tomé, mas não só, “temos uma delegação com os nossos concidadãos da Língua Oficial Portuguesa, mas estamos abertos a todos os imigrantes,” obviamente que os países da língua oficial portuguesa “têm mais proximidade connosco, são aqueles que nos procuram mais, e daí termos centrado a nossa vocação mais nesses países, com os quais estamos a desenvolver uma série de projetos e de iniciativas, quer de desenvolvimento cultural, quer em termos de parcerias de formação profissional, e de todo o tipo de integração. Há problemas muito sérios que temos de procurar soluções.”
O imigrante da CPLP quando chega a Portugal enfrenta dois grandes embaraços, que também acabam por ser nacionais, “um, é o emprego, e o outro, o alojamento”. São duas questões que preocupam bastante os imigrantes que vêm para Portugal.
Paralelamente, “temos uma questão importantíssima e que de forma direta ou indireta ajudará a potenciar todas as ajudas que se possam dar nesse sentido. Temos o problema da formação profissional que é muito importante e que no caso dos que vêm dos países da CPLP se sente com particular incidência, a questão da formação profissional. Para terem uma atividade têm um fator que os favorece que é a língua portuguesa, mas a formação profissional é um outro fator decisivo, absolutamente imperativo na integração de toda a comunidade”. Avançou o Presidente da Direção.
Quantos são os membros
“Nós cumprimos todos os órgão sociais que nos são exigidos na lei, a par disso temos um conjunto consultivo de outras pessoas com quem trocamos experiências, com quem trocamos informação diversa. Ao trocamos informação diversa, ao dedicarmos o nosso objetivo com todas estas questões, temos de nos assessorar de pessoas que estão envolvidas em muitas áreas, nomeadamente, nas migrações, nas questões jurídicas, nas questões sociais. Subdividi-mo-nos em muitas ajudas e em muitas pessoas. Isso envolve uma mão humana maior do que aquela que a direção tem. A direção é composta por cinco membros, depois temos os membros oficiais da mesa da Assembleia que são três, e o Conselho fiscal que também são três. Mas para além disso temos uma série de pessoas que colaboram connosco, e com as quais temos feito contactos com o estabelecimento de parcerias, por exemplo com as faculdades, têm dado uma especial ajuda em termos de parceria e ao desenvolvimento deste trabalho, posso referir um caso, a Business School Atlântico”.
Tem sido um braço direito desta Associação e doutras também, mas desta em particular através da cedência de estagiários que trabalham “connosco diariamente e que nos tem potenciado uma atividade muito boa, e com a qual nós estamos muito gratos, há outras instituições ligadas também a projetos de inclusão social.” Também há o apoio das autoridades locais e Juntas de Freguesia, e outras Associações com quem são parceiros, e tudo isso são ajudas importantíssimas para o desenvolvimento das atividades, que “nos multiplicamos e nos dividimos por muitas outras entidades e Associações, na Direção estamos cinco, depois temos os núcleos associativos, são à volta três, quatro pessoas por cada núcleo Associativo, incluindo o núcleo Associativo em São Tomé também temos lá membros da Direção e núcleos Associativos.”
Somos uma Associação probono
É uma Associação sem fins lucrativos e que vive carências financeiras tremendas, “precisamos de muito espírito coletivo, e muita vontade de fazer e de produzir, não temos contado com a ajuda de ninguém, são ajudas dos próprios, (estamos a falar de ajudas financeiras) é um dos nosso pontos menos fortes. Procurar parcerias financeiras, ajudas de terceiros, porque a Associação tem vivido, com trabalho probono mas muito gratificante, é um probono, com uma dedicação muito própria, isso tem valorizado naquilo que se produz e daquilo que se faz dentro da nossa instituição. Mas é 100% gratuito.” Em São Tomé, onde “temos muitos associados, a realidade é muito dura, o salário mínimo são de 60 euros”. Sendo “a nossa quota anual de um euro, isso é muito significativo, para o povo São-tomense e para muitos estudantes que estão sem trabalho, e sem colocação. Isentamos as quotas durante um largo período e que se mantém, ainda”.
A realidade de São Tomé
Não há muitos emigrantes portugueses em São Tomé, “vive um período muito crítico e delicado, muito difícil, e este ano está a dirigir a CPLP, e São Tomé vê-se com muitas dificuldades financeiras, e de investimento estrangeiro. O problema do emprego é muito sério, neste momento há todo um conjunto de situações económico-financeiras deploráveis, com o qual o Estado de São Tomé se está a enfrentar neste momento”. Há que buscar soluções, através do estrangeiro. São Tomé vive quase sempre de ajudas internacionais, porque tem uma produção própria baixíssima, que não dá para a autossobrevivência. Como sobrevive da ajuda externa, é muito atrativo neste momento para o capital estrangeiro em termos de investimento.
“Só para termos uma ideia, em função do salário mínimo, de 60 euros, uma só cebola custa um euro.” Mas há casos muito mais “gritantes, este foi apenas um deles.” A agricultura é muito deficitária, tem de ser quase tudo importado. A Saúde é muito má, as infraestruturas são deploráveis, mesmo a captação de turismo “São Tomé é um paraíso, lindíssimo, mesmo para atrair turistas, é complicado. Há falhas em muito setores, há falhas de gasolina, não há energia, se se pretender tirar uma fotocópia, é preciso enfrentar uma fila de quilómetros. Há meia dúzia de fotocopiadoras em todo o arquipélago. Neste momento São Tomé tem 235 mil pessoas, mas com tendência a crescer, “porque a política de planeamento familiar não há, nem uma política sexual decente, para que possa controlar as taxas de natalidade. Não há produção de riqueza, não há emprego, a situação económica é muito complicada, e a população a aumentar, para quase o dobro, o que trará ainda mais problemas naquele arquipélago. “Não é fácil, não vai ser fácil, mas é motivador, porque o arquipélago é um paraíso, se todos derem a mão, e de uma vez que todas as forças políticas em São Tomé, “o país tem solução, tem saída, e as ajudas internacionais aparecem. Têm de ser bem aproveitadas”.
