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Segunda-feira - 9 Dezembro 2024

Banco Alimentar: Isabel Jonet e a realidade portuguesa

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O país, e o mundo estão a atravessar um caminho sinuoso. O aumento das taxas de juro afetam direta e indiretamente o custo de vida, e logo à cabeça vêm as taxas de juro referentes aos empréstimos à habitação que quase duplicaram há mais ou menos um ano. Não é fácil para as famílias terem de pagar renda (quase duplicada), e dividir com as contas correntes, como água, luz, aquecimento e alimentação. O cenário é um pouco preocupante.

Isabel Jonet, Presidente do Banco Alimentar, fala de quão difícil está a situação para muitas pessoas em Portugal. Felizmente a taxa de desemprego é muito baixa, mas poderá alterar-se esta situação.

Portugal é um país com elevada taxa de pobreza, com quase 19% da população em risco de pobreza ou exclusão social, Portugal é um dos países da UE a 27 com maior proporção da população a viver em vulnerabilidade social e económica. “É também o Estado-membro com maior aumento dos níveis de desigualdades de rendimento entre os 20% mais ricos e os 20% mais pobres. Importante notar a taxa de pobreza das crianças e dos jovens embora com uma tendência para reduzir.”, refere a Presidente.

O aumento acelerado da inflação, com impacto nos bens alimentares, na energia e no aumento das taxas de juro veio castigar um conjunto de famílias que vivem com muito pouco, na medida em que dificilmente conseguem acomodar estas subidas nos seus orçamentos familiares já completamente esticados. Uma situação que se vai ainda agravar.

Há pessoas – idosos – que vivem com pensões de 180€, um milhão de pessoas vive com menos de 250€ por mês e cerca de dois milhões de pessoas vivem com menos de 450€ por mês.

O Banco alimentar consegue dar respostas a todos pedidos: “É desafiante”

Tentamos satisfazer os pedidos que nos chegam diretamente ou via instituições sociais. Mas tem sido um desafio grande e a pandemia só veio piorar a situação.

A ideia base do Banco Alimentar é a luta contra o desperdício de alimentos, bem conhecido de todos, em atividade desde 1991. Hoje são 21 Bancos Alimentares, autónomos juridicamente, mas congregados numa Federação.

Recuperar alimentos, evitando o seu desperdício para os entregar a pessoas com carências comprovadas através de parcerias com instituições sociais que, no terreno, conhecem cada situação e podem apoiar.

Em seguida criamos a ENTRAJUDA, com uma proposta de levar mais gestão e organização ao setor social para aumentar a eficácia e a eficiência e evitar o desperdício de recursos. Nasce em 2004, fruto da experiência no terreno adquirida no Banco Alimentar e da constatação que mais do que o “pão” poderia ser dada à instituições do sector social “gestão e organização”. Ou seja, com uma lógica estruturante e não assistencialista, pela perceção que a capacitação das instituições sem fins lucrativos (IPSS, ONG’s, Misericórdias, Conferências Vicentinas e outras) e ao nível da organização e gestão tem um impacto enorme na qualidade dos serviços prestados ou no número de pessoas necessitadas que deles podem beneficiar.

Naturalmente, no início foram as instituições do “universo” Banco Alimentar Contra a Fome de Lisboa as primeiras a beneficiar do trabalho desenvolvido pela ENTRAJUDA, mas as várias áreas de atuação cedo se estenderam a todas as instituições que se candidatam a apoio e cuja candidatura seja aprovada, não sendo a ligação a um Banco Alimentar critério determinante de decisão na concessão desse apoio. A ação da ENTRAJUDA assenta na construção de uma Cadeia de Solidariedade e na mobilização de esforços e boas vontades voluntários. Esta solidariedade pode ser expressa de diversas formas ou com diferentes níveis de intervenção e de envolvimento.

E neste âmbito lançamos a Bolsa do Voluntariado, concebida para permitir o encontro online entre a procura e oferta de trabalho voluntário. Trata-se de um projeto de âmbito nacional, transversal a toda a sociedade e economia, que fomenta o exercício da Cidadania e da Responsabilidade Social. Hoje é o maior site português de voluntariado.

Criamos ainda o Banco de Bens Doados que entrega bens com utilidade social a Instituições de Solidariedade localizadas em território nacional. Estes produtos podem ser utilizados na própria instituição ou encaminhados para as famílias beneficiárias. A Economia Circular é aqui totalmente aplicada dado que a reutilização de bens e equipamentos é privilegiada em detrimento da destruição de bens com utilidade social que ganham nova vida ao serviço de quem mais precisa. Na mesma lógica, mas dadas as características específicas dos produtos, a ENTRAJUDA criou o Banco de Equipamentos que promove a recuperação de equipamentos elétricos e eletrónicos doados por empresas ou particulares, que ainda se encontrem aptos a ser utilizados, dotando-os assim de uma “nova vida” e evitando-lhes uma “morte prematura”.


Mais pessoas a pedir ajuda ao Banco Alimentar, do que no ano transato?


Estou no Banco Alimentar há 30 anos e vejo que a pobreza de hoje é diferente da de então: os pobres têm mais escolaridade, mais bens de consumo, mas sentem-se tão pobres quanto antes e essa perceção é estigmatizante.

As famílias foram deitando menos leite no copo e chegaram a um momento em que não têm dinheiro para comprar leite todos os dias. Gente com uma expectativa de vida boa e que ousou comprar casa porque um dos grandes problemas é a habitação: casas muito caras, rendas incomportáveis e muitas famílias a viver no mesmo espaço para partilhar despesas.

As situações são muito diversas, mas há grupos de maior carência e assim de maior risco: os idosos, em partícula mulheres viúvas, com baixas pensões de reforma, as famílias que têm empréstimos e que foram muito afetadas pelo aumento das taxas de juros e as pessoas com baixas qualificações.

Medidas para cativar mais doações ao Banco Alimentar


Procuramos sempre ser transparentes e mostrar a quem nos quer ajudar que ao doar alimentos ou donativos está realmente a ajudar a levar comida à mesa de quem precisa e assim a minorar o sofrimento.


E o maior número de pedidos é na região de Lisboa e Setúbal, Algarve, Madeira e Grande Porto. A pobreza urbana é muito mais impactante do que a do interior onde há ainda muita solidariedade de vizinhança.


A Emigração

Muitos portugueses tiveram de partir e têm hoje uma vida boa. É certo que fizeram muitos sacrifícios e que é preciso muito esforço e trabalho para vingar noutro país. Mas peço-lhes: nunca se esqueçam de Portugal e dos portugueses mais pobres. Podem, por exemplo dar alimentos no site www.alimentestaideia.pt


Se puderem não deixem de ajudar o Banco Alimentar e, através deste, as pessoas com dificuldades de cada região. Os emigrantes portugueses nunca falharam a Portugal e tenho a certeza que nunca se esquecem do seu país.

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