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Sábado - 19 Julho 2025

CHEGA ao Chega: A Dignidade Não Se Negocia

Destaques

Por Marisa Monteiro Borsboom


Há um limite para tudo. Há um ponto em que o debate político deixa de ser confronto de ideias e se torna um espetáculo grotesco de desumanização. Há momentos em que não se pode relativizar, não se pode desculpar, não se pode argumentar que “é só política”. E este é um desses momentos.

O que aconteceu com a deputada Ana Sofia Antunes na Assembleia da República não é apenas um ataque pessoal. É um atentado contra a dignidade humana, um sintoma alarmante de uma sociedade que começa a normalizar o inaceitável. Insultar uma mulher cega, diminuí-la por ocupar um espaço de poder, ridicularizá-la pelo que representa – a inclusão, a diversidade, a resiliência – não é apenas política agressiva. É ódio, puro e simples. E o ódio não se debate, condena-se.

Quando um partido que se diz patriota se permite a esta linguagem, não ataca apenas uma deputada. Ataca os valores mais básicos de uma sociedade civilizada. Ataca o respeito, a empatia, a solidariedade. Ataca a própria essência do humanismo que nos define, seja na tradição dos direitos humanos ou na nossa matriz cristã, que – independentemente da fé de cada um – sempre defendeu que o respeito pelo outro é o mínimo exigível para uma convivência digna.

A postura do Chega no Parlamento ultrapassou há muito os limites do aceitável. A sua estratégia é clara: transformar a política num ringue de insultos, destruir qualquer noção de decência no debate público, reduzir o outro a um inimigo a abater. Mas não podemos permitir que esta degradação se normalize. Há uma linha vermelha que precisa de ser traçada, e ela foi ultrapassada.

É preciso dizer CHEGA ao Chega. Não com silêncio, porque o silêncio é o oxigénio da impunidade. Não com complacência, porque a indiferença legitima. Mas com uma condenação firme, inegociável, sem recurso. A política pode ser um espaço de confronto, sim, mas jamais de desumanização. E quem ultrapassa esse limite deve ser lembrado de que, em democracia, a dignidade não está em causa.

Ana Sofia Antunes não precisa da nossa piedade, precisa da nossa indignação. A política não pode ser um espaço onde a brutalidade vence. O Chega já mostrou ao que vem – agora, cabe-nos a nós mostrar que há coisas que nunca terão lugar no espaço público.

Chega de impunidade. Chega de banalização do ódio. Chega ao Chega.

Sobre a Cronista: Marisa Monteiro Borsboom é uma voz irreverente e incisiva no debate público, combinando o olhar crítico da política com uma defesa intransigente dos direitos humanos e da dignidade individual. Advogada, empreendedora e especialista em políticas emergentes, é uma presença ativa na interseção entre tecnologia, governação e impacto social.

Com uma trajetória marcada pelo ativismo e pela advocacia em prol da justiça social, Marisa não teme expor as contradições e hipocrisias do sistema, desafiando as narrativas dominantes com análises contundentes e uma escrita afiada. Defensora de uma política baseada na ética e na responsabilidade, recusa-se a aceitar a degradação do discurso público e a normalização do ódio disfarçado de opinião.

A sua formação jurídica e experiência em governança conferem-lhe uma visão estratégica e pragmática, enquanto a sua sensibilidade humanista – enraizada numa sólida base filosófica e cultural – lhe permite abordar temas complexos sem perder de vista o essencial: a defesa intransigente da dignidade humana.

Como cronista, Marisa Monteiro Borsboom escreve com a coragem de quem não aceita a passividade como opção e com a determinação de quem acredita que as palavras, quando bem usadas, são um dos instrumentos mais poderosos de transformação social.

Marisa Monteiro Borsboom, Correspondente no Benelux

Marisa Borsboom / Correspondente no BENELUX
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