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Domingo - 18 Maio 2025

Cônsul-Geral de Newark: “Os portugueses nos Estados Unidos são empreendedores, têm determinação e capacidade de trabalho”

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O Jornal Comunidades esteve em entrevista exclusiva com o Cônsul-Geral Luís B. Sequeira, de Newark, onde abordou temas da emigração nos Estados Unidos, nomeadamente no Estado de Nova Jérsia, Pensilvânia e Delaware, da sua área de competência. Os portugueses que lá residem souberam e sabem aproveitar o que os Estados Unidos proporcionam, e o sonho americano para uma grande maioria é uma realidade bem alicerçada.

O Cônsul começou por dizer que o “Consulado-Geral em Newark tem registados perto de 100.000 cidadãos nacionais residentes nos 3 Estados sob a sua jurisdição: Nova Jérsia, Pensilvânia e Delaware, embora o número de portugueses neste último seja diminuto”. São comunidades relativamente recentes, que começaram a formar-se nas primeiras décadas do século XX, oriundas sobretudo de Portugal Continental, em particular das regiões da Beira Litoral e do Minho e que, passadas várias décadas, sentem e vivem atualmente Portugal de forma muito intensa. O reconhecimento e visibilidade adquiridos nos planos político, económico, cultural ou social, sendo prova dessa vitalidade, não impediram que fossem nutridas raízes profundas que, ainda hoje, estreitam a ligação íntima a Portugal.

Enfatizou que o “empreendedorismo, determinação e capacidade de trabalho contribuíram decisivamente para a sua integração natural na sociedade norte-americana que as acolheu.” Estas características são amplamente reconhecidas por todos e contribuíram para o sucesso dos portugueses e luso-descendentes desde os negócios à política, passando pelas profissões liberais ou a ocupação de cargos na administração pública norte-americana.

O Consulado-Geral “promove uma programação cultural vasta e multifacetada assente na organização regular de diversas atividades distribuídas ao longo do ano”. Em janeiro, “organizamos o habitual Concerto de Ano Novo dedicado à e com a participação da Diáspora; segue-se em março o lançamento da edição anual do Concurso Literário dirigido aos estudantes de português, dos 8 aos 17 anos de idade; em abril, realiza-se o Concerto de Primavera; em maio, comemoramos o Dia Mundial da Língua Portuguesa; em junho, celebramos o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, onde a habitual Receção de caráter social para a comunidade é acompanhada de um evento de cariz cultural, por exemplo, uma exposição ou um espetáculo; e, em outubro, o Consulado-Geral organiza a cerimónia de entrega dos prémios do concurso literário e o Festival de Cinema Português, que designei de “5 Filmes, 5 Clubes”.

As áreas de intervenção do Cônsul-Geral

São atividades muito variadas, desde a realização de Concertos de piano de música clássica e de composições musicais portuguesas, de guitarra portuguesa, espetáculos de fado ou a projeção de filmes portugueses recentes que foram grandes sucessos de bilheteira. “Tenho procurado envolver sempre os mais de 40 Clubes e Associações de Portugueses e Luso-descendentes na minha área de jurisdição, não só ao nível da promoção das atividades, mas também na utilização dos seus espaços para a realização destes eventos, com vista a trazer público e ainda mais vida a esses mesmos Clubes e Associações.” Numa segunda dimensão – e com o objetivo de divulgar a nossa cultura entre os norte-americanos de uma forma ainda mais presente – “também tenho procurado e conseguido colaborações com diversas entidades culturais norte-americanas que estão, de alguma forma, ligadas à cultura e história de Portugal, como o Museu de Arte de Newark que mostra peças reveladoras da interculturalidade, o “melting pot” da cidade, a Universidade Rutgers ou o Liberty Hall, na cidade de Union, que alberga a coleção de garrafas de Vinho Madeira mais antiga de todos os EUA, de 1796. Como é sabido, foi esse o elixir servido para brindar após a assinatura da Declaração de Independência dos EUA.”

“Gostaria ainda de abordar o trabalho de divulgação e apoio ao ensino de português, liderado pelo Instituto Camões e ancorado no Consulado-Geral. Para além das classes de português oferecidas no ensino público, temos cerca de 500 alunos de português que são ensinados por 30 professores em 10 escolas comunitárias associadas aos Clubes de portugueses, no Estado de Nova Jérsia.” Com isto, Nova Jérsia tornou-se o Estado dos EUA com o maior número de alunos que aprendem português em Escolas Comunitárias, a fazer os exames NEWL, o que lhes atribui créditos para as candidaturas às Universidades norte-americanas, e que têm obtido as melhores classificações nestes exames, a nível nacional.

É claro que toda esta programação, para além do apoio financeiro do Instituto Camões, conta com o patrocínio e a adesão significativos da Comunidade que, assim, se revê no esforço de divulgação da nossa cultura, por exemplo enchendo os palcos dos eventos e/ou incentivando os filhos a aproveitarem as oportunidades de estudar a língua e cultura portuguesas.

Por outro lado, e seguindo “o lema por que me tenho guiado, desde que aqui assumi funções em final de agosto do ano passado – proximidade e eficiência – retomei a organização das presenças consulares em Filadélfia, Estado da Pensilvânia, em dezembro passado, interrompidas há quase 3 anos, e iniciei um novo modelo de presenças consulares de proximidade, levando os serviços consulares até mais perto das comunidades portuguesas, em várias cidades no Estado de Nova Jérsia.”

Porém, “estas minhas deslocações acabam por não se limitar à prestação de serviços consulares e servem para alcançar objetivos mais alargados. Visito as instalações dos Clubes portugueses e, se for caso disso, das escolas comunitárias e dos Museus que preservam a história e o legado da nossa emigração, reúno-me com a sua Direção para me inteirar das dificuldades, expetativas, ansiedades e casos de sucesso, bem como inauguro exposições itinerantes ou que expõem peças das comunidades locais de portugueses.”

Procura manter igualmente encontros com as autoridades e entidades relevantes norte-americanas ou com ligação a Portugal. De destacar a visita à Sinagoga da Congregação Mikveh Israel, em Filadélfia, que tem preservado o rito judaico português desde que foi fundada em 1740, havendo partes da liturgia do Shabbat que são lidas em português antigo, e preserva igualmente toras trazidas de Portugal nos séculos XVII e XVIII. Tratou-se da primeira visita de um representante diplomático português àquela sinagoga, facto que não passou despercebido aos anfitriões.

Todo este esforço visa, assim, diversificar a presença cultural, educacional ou institucional e chegar onde haja necessidade de explorar novas oportunidades de cooperação nas esferas académica, económica, científica ou cultural, projetando Portugal como uma porta de acesso à Europa e dinamizando o enorme potencial da diáspora.

Ao mesmo tempo, desde que assumiu funções, tem procurado apostar fortemente na promoção de uma presença mais ativa do Consulado-Geral nas redes sociais (Instagram, X e Facebook) e na revitalização do website do Consulado-Geral, através da atualização regular de conteúdos que possam interessar às comunidades de portuguesas. Este tem sido outro dos seus objetivos, com vista a aproximá-las do Consulado-Geral e a Portugal.

Contributo das Comunidades Portuguesas

Os americanos reconhecem o contributo das comunidades portuguesas para o crescimento económico, estabilidade social e diversidade cultural das cidades onde estão implantadas e, de modo geral, do Estado de Nova Jérsia. Confirmam, sobretudo, a sua excelente capacidade de integração e, prova disso, é a eleição de cerca de 30 portugueses ou lusodescendentes para cargos políticos, a nível local, do condado ou estadual em Nova Jérsia e Pensilvânia, um número “que gostaríamos viesse a crescer”. Também a participação visível e muito expressiva de políticos norte-americanos nas celebrações do Dia Nacional que são organizadas um pouco por todas as cidades ou, ainda, a adesão às iniciativas organizadas pelos Clubes e Associações de portugueses ou luso-descendentes validam de forma irrefutável o agradecimento pelo contributo dos portugueses. Por fim, “não posso deixar de relevar o sucesso dos negócios liderados pelos portugueses e de destacar a existência de mais de 180 restaurantes portugueses no Estado de Nova Jérsia, que contam com inúmeros clientes norte-americanos que os frequentam regularmente.”

Desde a altura da primeira vaga migratória para Nova Jérsia, em especial para a área de Newark, no início do século XX, que os fluxos migratórios continuaram a crescer, intensificaram-se sobretudo durante as décadas de 70 a 90 do século passado e atingiram o atual momento de uma certa estagnação, ao nível do número de chegadas de portugueses. Assinale-se igualmente o fenómeno muito significativo das comunidades transplantadas de portugueses – muito evidente em Nova Jérsia – que se deslocam deste Estado para a Flórida ou, com menor intensidade, para outro Estado dos EUA, para passar o tempo da reforma.

Momentos mais difíceis que teve de lidar

Sem dúvida, “foi o momento em que apresentei as minhas condolências e transmiti palavras de conforto à família do bombeiro português que faleceu no início de julho, em Newark, durante o combate ao incêndio que deflagrou num cargueiro atracado no porto da cidade. A morte deste bombeiro, de 45 anos e com 10 de experiência na proteção civil, chocou a comunidade e atingiu profundamente esta família oriunda do distrito de Aveiro e radicada há vários anos em Newark, com três membros ligados à Proteção Civil e Segurança Pública, havendo outros irmãos que trabalham em corpos policiais de cidades próximas.”

Festa do dia de Portugal no dia 10 de junho

Sendo a comunidade portuguesa de Nova Jérsia a mais recente das que chegaram aos EUA, é talvez aquela que sente e celebra mais intensamente o Dia de Portugal e as tradições portuguesas, no conjunto das que residem nos EUA. Este ano, as celebrações começaram em maio e estenderam-se até 11 de junho. Foram várias as iniciativas alusivas à data, desde um festival gastronómico e a inauguração de uma exposição em Newark de um artista plástico consagrado e imediatamente reconhecido e aplaudido pela comunidade portuguesa; a realização de uma Gala para a imposição de faixas aos homenageados deste ano pela Comissão do Dia de Portugal; a habitual missa em português na Catedral de Newark; e a tradicional Receção organizada pelo Consulado-Geral de Portugal que, este ano, foi acompanhada de um espetáculo de fado e contou com a presença de uma delegação de 8 autarcas nacionais que vieram participar nas celebrações. Falta ainda mencionar as 14 cerimónias do içar da bandeira nacional, um pouco por todo o Estado de Nova Jérsia, e os grandes desfiles demonstrativos do orgulho de ser português, em Elizabeth e Newark, este último contando com a assistência de cerca de 300.000 pessoas. Na Pensilvânia, houve ainda celebrações e cerimónias do içar da bandeira nacional em Filadélfia e Bethlehem.

“Procurei participar em todas estas manifestações que foram organizadas, maioritariamente, pelos 42 Clubes e Associações de portugueses e lusodescendentes que existem na área de jurisdição deste Consulado-Geral. Deu-me grande prazer constatar a grande adesão de políticos norte-americanos a todas estas cerimónias, desde Senadores e congressistas federais e estaduais a Comissários, Xerifes, Mayors, Vereadores e líderes destacados de vários serviços da administração pública norte-americana.”

Foi com grato prazer que recebeu a Senhora Secretário de Estado para a Inclusão, que se deslocou a Newark para participar no grande desfile da cidade comemorativo do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.

Como se carateriza a comunidade de Nova Jérsia e Pensilvânia?

A comunidade portuguesa e luso-americana de Nova Jérsia e da Pensilvânia é uma comunidade bem integrada, que logrou garantir uma satisfatória segurança económica e, em muitos casos, mesmo um assinalável desafogo económico, contando com um número significativo de empresários e empregadores. Trata-se de uma comunidade composta por uma população significativa de idosos e é verdade que, nalguns casos, sem a escolaridade completada em Portugal.

Do ponto de vista das áreas ou setores de atividade, a comunidade dedica-se, sobretudo, às áreas da construção (a principal área de atividade) e do comércio. Outras importantes áreas de atividade são a restauração, a indústria e distribuição alimentar, a manufatura, a limpeza, a saúde, a mediação imobiliária e os seguros. É ainda de assinalar a forte presença de luso-descendentes entre as forças da ordem e da proteção civil, tais como polícias e bombeiros, bem como ao nível da administração pública local e distrital. A taxa de desemprego entre os portugueses e luso-americanos é inferior à média global americana e uma parte significativa destes portugueses e luso-americanos é proprietária da sua própria residência.

Este cenário tem vindo a mudar quanto aos níveis de escolaridade e a esmagadora maioria dos jovens prossegue os estudos a nível universitário. Parte da geração mais recente começa já a abraçar as profissões liberais. Para além disso, o próprio perfil da emigração para o Estado de Nova Jérsia tem-se alterado nos últimos anos devido ao crescimento da emigração temporária, constituída por jovens estudantes universitários ou investigadores portugueses que vêm prosseguir os estudos ou trabalhar nas Universidades de Princeton ou de Pittsburgh ou, ainda, desenvolver projetos ao abrigo de contratos de curta duração com empresas norte-americanas. É preciso não esquecer que Nova Jérsia é líder nas áreas da biomedicina, biofarmacêutica, biotecnologia, assim como logística e transporte marítimo. Devido ao aumento dos custos com a habitação, incluindo no Estado vizinho de Nova Iorque, tem-se registado também um fluxo cada vez maior de portugueses que, embora trabalhando no outro lado do rio, optaram por residir em Nova Jérsia e tratar dos seus assuntos consulares no Consulado-Geral em Newark.

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