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Domingo - 15 Setembro 2024

“Criadores artísticos ciganos enchem palco do Rivoli com os frutos da sementeira ZHA!”

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Espetáculos de 6 e 7 de junho são pontos altos de um projeto artístico e social, com a assinatura do coletivo Visões Úteis, que visa conduzir o olhar da sociedade sobre o rico legado cultural da etnia em Portugal. Após lançamento de um CD, com oito músicas originais e três videoclipes, na calha está também um documentário da autoria de Vasco Mendes.

Depois de um trabalho participativo – e de cocriação no território – e de muitos meses de germinação, os frutos das sementes que o projeto ZHA! (“vá, vamos”, em romani) anda a espalhar junto de crianças, jovens e adultos das comunidades ciganas, grande parte deles artistas autodidatas, residentes nos bairros portuenses de Contumil, Lagarteiro e Cerco, mostram-se maduros e prontos para colher as palmas da cidade. E logo em cima do palco daquele que é um dos seus escaparates culturais de referência, o Grande Auditório do Rivoli – Teatro Municipal do Porto.

Intitulada de “Laray” (que significa vida ou viver), a festa antevê-se grandiosa, ou não chegasse composta de uma alma especial, feita de música, canto, dança e algumas surpresas. Acontece em duas sessões, nos próximos dias 6 e 7 de junho (quinta e sexta-feira), a partir das 19h30.

A entrada em cena dos criadores ciganos, cerca de uma quinzena, será acompanhada por quatro intérpretes profissionais: pelos argentinos Fernanda de Córdoba, uma das poucas guitarristas de flamenco (filha do famoso guitarrista Enrique de Córdoba), e José El Pájaro Ausina, cantor de flamenco (além de guitarrista e compositor) que tem atuado um pouco por todo o mundo. Serão coadjuvados em palco pela mestra dançarina e coreógrafa Fernanda Durão e, ainda, pela bailarina Marta Coutinho, que, tal como os seus três colegas de jornada, tem emprestado o respetivo saber-fazer ao longo do projeto ZHA!, sob coordenação do coletivo Visões Úteis. E em estreita articulação com os projetos sociais SinergiasE9G, a Equipa de Rua Oriental da Norte Vida e a União Romani Portuguesa.

“No Rivoli, o flamenco surgirá como a linguagem comum, de encontro, entre ciganos e não ciganos. A música e o movimento assumirão uma parte importante da performance, que procurará recuperar momentos e dinâmicas que nasceram durante todo o projeto. É um espetáculo híbrido, inclusive com projeção de vídeos, onde testemunhos de avós assumem uma forte componente afetiva, de passagem de conhecimento, de respeito e de orgulho, que acompanham a cultura das comunidades ciganas. E é por isso que vemos este momento como momento-síntese de todo o programa de intervenção, de cariz multidisciplinar, participativa e de base comunitária, que une realidades sociais através de várias artes”, sublinha Inês de Carvalho, diretora artística da peça e no Visões Úteis (VU).

“A vida acontece como num filme. Um filme (ao) vivo. Quadros vivos e musicais. Imagens, música e dança, movimento e pensamento cruzam-se nas cenas e nos encontros. Entre terras e lugares. Entre famílias e gerações. Para construir um lugar-comum, a família e a comunidade, a casa e a rua no mesmo espaço. Vivo”, enuncia o guião do espetáculo a estrear.

“Zha! Laray” é a segunda grande manifestação da sementeira que o VU anda a cuidar e surge após o lançamento de oito temas musicais originais e três videoclipes, em formato de CD (“Zha! É a nossa vez”), precisamente no Dia Internacional da Pessoa Cigana. Foi também ele um culminar de inúmeras sessões de trabalho, em várias disciplinas, no Batalha Centro de Cinema.

No segundo semestre do ano seguir-se-ão, ainda, fruto dessa interação de criadores, técnicos e intérpretes ciganos e não-ciganos, profissionais e aspirantes – num “longo processo de proximidade, cumplicidade, escuta, criação e superação” -, um encontro final, o lançamento de um documentário, da autoria de Vasco Mendes (com trabalho profícuo no mundo musical), e também um ensaio sobre investigação-ação, de Vanessa Ribeiro Rodrigues.

Tudo para, como enfatiza Inês de Carvalho, diretora artística do Visões Úteis, “fazer soar mais alto e mais longe a voz cigana, para fazer ecoar o direito no avesso e nas costuras da cidade e da sociedade”. E, na passada, validar o provérbio cigano que postula que“a mais bela fogueira começa com pequenos ramos”.

Nas expectativas do coletivo VU, que ZHA! “seja a fogueira que arde e se vê, de perto e de longe, de fora e dentro”.

ZHA!, lembre-se, é um projeto PARTIS & Art for Change, financiado pelas fundações Calouste Gulbenkian e “la Caixa”. E tem como parceiros várias entidades: Ágora, Agrupamentos de Escolas do Cerco do Porto e António Nobre, Alto Comissariado para as Migrações, ARDA Recorders, Equipa de Rua Oriental da Norte Vida, Fios e Desafios, União Romani Portuguesa, Fundação Salesianos, Junta de Freguesia de Campanhã, REDES CLDS4G, APPC e Sinergi@s-E9G/ARRIMO.

ZHA! LARAY – AGENDA: 6 e 7 de junho, às 19h30, Grande Auditório do Teatro Municipal do Porto – Rivoli, Preço dos bilhetes – 2,5€

Sobre o Visões Úteis:

O Visões Úteis é um projeto artístico sediado no Porto, onde foi fundado em 1994. O teatro foi a raiz de uma atividade constante e intensa que rapidamente se alargou a outras áreas das artes performativas. E em reconhecimento da sua ação artística junto de públicos diversificados, o coletivo recebeu em 2001 a Medalha de Ouro de Mérito Cultural da Cidade do Porto. O raio de ação do grupo estende-se a uma panóplia de projetos, paralelos à criação e itinerância de espetáculos, que desde sempre traduziram o desejo de confronto com outras áreas e com públicos distantes da produção artística. O Visões Úteis é membro da PLATEIA – Associação de Profissionais das Artes Cénicas, do IETM – International Network for Contemporary Performing Arts, da APCEN – Associação Portuguesa de Cenografia e da Fundação Anna Lindh.

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