Inês Gaspar fez a sua formação académica em Lisboa no Instituto Superior Técnico Engenharia Eletrotécnica e de computadores, tendo o seu início em 2015. Durante a sua passagem pelo técnico, acabou por fazer Erasmus durante o mestrado, no quarto ano e decidiu ir para a Alemanha onde requentou um semestre no Karlsruhe Institute fur Technology, “que é uma faculdade bastante conhecida”. Por que o Karl Benz estudou lá e então é muito boa na área de eletrotécnica e mecânica. Daí a sua decisão em ir para lá.
Depois de ter feito Erasmus, gostou muito da experiência Internacional, bem como de poder ter estado em contacto com várias pessoas de vários países, mas principalmente de ter sentido que o ensino também era diferente. “Não é nem melhor nem pior”, simplesmente a forma de ensinar e de avaliar era bastante distinta. E achou que era bastante complementar e ficou com uma perspetiva “de… se calhar quando acabar os estudos quero ir trabalhar para fora. E foi aí que começou, o pensamento.”
Entretanto, quando esteve na Alemanha, teve uma proposta para ir trabalhar na Porsche, uma das cadeiras que fez com o professor era da parte da inteligência artificial da Porsche e teve um teste oral, – ao contrário do que acontece em Portugal, só os alunos com médias mais baixas é que vão à oral. “Nesta Universidade as coisas não são vistas dessa forma.”
Na Alemanha era bastante comum, um teste escrito e oral, e foi assim que acabou por privar diretamente com o professor e fez-lhe essa proposta se queria fazer a tese de mestrado com ele. Achou a ideia de recusar de loucos, por rejeitar uma proposta tão boa. “Mas a verdade é que eu não tenho qualquer paixão pela área automóvel, pois a minha paixão era o setor energético, trabalhar com o mercado energético” “e pensei, não é só porque fica bem no meu CV que vou aceitar esta proposta.” Argumenta Inês.
Regressou a Portugal e fez uma tese na área de mercados sobre sistemas de armazenamento. Nomeadamente a otimização, como é que uma bateria poderia fazer carregar, descarregar, tendo em conta os vários mercados que há no Mibel, que é o mercado ibérico, de eletricidade de Portugal e Espanha.
A sua tese de mestrado foi sobre esse tópico. Embora tenha sido durante o Covid. “Eu estava muito feliz a fazer a tese, portanto aproveitei”, “já que não posso sair de casa. Vou esforçar-me ainda mais, já que eu gosto do tópico e tenho tanto tempo livre durante o dia”, e acabou por fazer mais do que o professor tinha proposto. Cada vez que atingíamos um novo patamar na tese eu continuava a trabalhar… “agora se adicionaram isso… e o Professor Rui Castro, foi sempre incrível”.
“Como gostei tanto da minha tese de mestrado. Eu continuava com a ideia de procurar trabalho lá fora, mas eu quero continuar a trabalhar nesta área. Esta área é incrível.
O Covid não estava a ajudar, e estava a ser bastante complicado que as empresas internacionais que estivessem noutros países se quer autorizassem uma entrevista porque a primeira pergunta era logo: já não está no país?
Mas mesmo assim “eu estava a tentar ir para fora e continuar nessa área. Uma colega viu uma oferta de emprego no Reino Unido, numa empresa chamada Aurora Energy Research, que é baseada em Oxford, viu uma vaga e disse, “isto aqui é muito parecido com o que estavas a fazer na tua tese, se calhar és capaz de gosta! Continuei a candidatar-me noutras coisas.” Começou a ver outras vagas na mesma empresa, um pouco menos técnicas – que não implicasse fazer código – como estava a fazer na tese, e mais ligadas a lidar com o cliente. A parte consultoria, tudo na área da energia, mas mais estratégico, “e acabei por me candidatar”.
Candidatou-se por ter as entrevistas todas online, e por receber a oferta de emprego. Foi assim que em pouco tempo, “terminei a tese em Outubro, mas as entrevistas decorreram entre Agosto e Setembro. Estava ativamente à procura de trabalho, mas com medo do Covid”, queria arranjar trabalho o quanto antes “e acabei por ir para para o Reino Unido trabalhar nesta empresa, na área do setor energético a cobrir o mercado ibérico, fazia um pouco de tudo a nível de projetos de consultoria, desde auxílio em transações de parques eólicos, parques fotovoltaicos, desde avaliação monetária lucrativa de setores estratégicos.
“Queremos insistir aqui numa bateria. Será que faz sentido, com os mercados disponíveis hoje em dia? Um pouco de tudo, desde projetos de consultoria mais standard ou de auxílio em transações ou financiamentos de projetos renováveis” mas também tópicos (…) como armazenamento, hidrogénio, etc. Como as coisas estavam a correr bastante bem, o mercado ibérico é bastante dinâmico e atrativo para investidores internacionais, na área das renováveis, a empresa decidiu abrir um escritório em Madrid. E então em Julho de 2022, acabou por mudar-se para Madrid para o escritório, “e começámos a instalar uma equipa para cobrir Espanha em Portugal “quando comecei a trabalhar para a empresa, éramos só 4, 5 pessoas. Neste momento o escritório já tem cerca de 20.”
O escritório de Madrid, teve um crescimento bastante rápido. “Ainda estou aqui baseada.” Em Julho do ano passado, “fiz o meu último projeto para o mercado ibérico, foi um projeto sobre sistemas de armazenamento de longa duração. Em que trabalhei diretamente com o Ministério da Energia espanhol, com o regulador do setor elétrico. A rede elétrica espanhola, em que basicamente era do interesse entender o que é que era necessário, tanto a nível regulatório como a nível político para que estas tecnologias se desenvolvessem.”
Para que haja uma uma viabilidade económica “e o projeto foi das coisas que mais gostei de fazer até hoje, porque tinha essa vertente política regulatória muito acentuada, mas também porque ao mesmo tempo eu estava em contacto direto e tinha reuniões semanais com os próprios desenvolvedores de cada uma das tecnologias que estávamos a investigar.”
Durante 7 meses “a minha vida foi um pouco conversar com os desenvolvedores com estas pessoas incríveis, que inventaram tecnologias novas e que vão possibilitar uma transição energética, e tentar entender quais são as suas preocupações.” Como é que as suas tecnologias funcionam e o que é que o mercado ainda procura? Ou que é que falta a nível de Incentivo económico para as desenvolver?
Após julho, embora esteja baseada em Madrid, “a minha vida é um pouco Madrid -São Paulo, porque depois de terminar este projeto, a empresa continua em expansão e como a ideia era expandir-mos para a América Latina, a minha chefe, convidou-me para começar essa expansão”, “desde Agosto do ano passado, que comecei a focar-me no mercado Brasileiro. A mesma estrutura que foi feita por todos os mercados em que entramos.”
“Temos escritório em São Paulo, e então acabou por ser o meu foco principal na América Latina, o Brasil, desde Agosto e o Chile desde o mês passado também, acabo por estar a viver em Madrid, mas vou muitas vezes a São Paulo.”
A visão dos Ingleses sobre os Portugueses
“Comecei no Reino Unido a trabalhar, e agora que vim para Espanha, e faço esse à parte. A empresa é Britânica, e o escritório é em Oxford, tendo em conta que Oxford é uma cidade universitária com muita gente internacional, mas é capaz de ser o menos internacional de todos os escritórios que temos.”
Na empresa quando começou havia também outra portuguesa, quando estava no escritório de Oxford, nunca se sentiu inferior a ninguém, nem nunca sentiu nenhum olhar de discriminação. Nunca se sentiu em desvantagem perante a mais ninguém nem a nível académico, “porque tive uma formação diferente porque ter estudado em Portugal e nunca vi que olhassem para mim de forma diferente. Eu penso que as pessoas nos veem como pessoas muito trabalhadoras, e a realidade” “é que nós, muitas vezes como portugueses, desvalorizamos as nossas faculdades”. E como há ideia, de a Europa do Sul não quer trabalhar etc. “Acabamos por nos minimizar ou por não nos valorizar. E eu nunca senti isso, muito pelo contrário”.
Por isso só um aparte, “eu estou em Madrid, devo dizer que no escritório de Madrid, as pessoas trabalham mais. Há uma cultura de trabalho. Sempre senti sempre que nos veem como pessoas muito trabalhadoras. E eu nunca senti que a minha carreira, que o meu percurso profissional, fosse menos bom.”
O nosso ensino está equiparado a nível europeu e até a nível Internacional
Sem dúvida, sem dúvida. A nível de formação diretamente sim, o espírito de resiliência. Trabalho, o espírito de resiliência e de entre ajuda, e de equipa: “Tu não percebes, mas eu explico-te”, da acessibilidade, faz toda a diferença quando se entra no mercado de trabalho, porque alguém que é formado com essa perspetiva e com essa visão, depois não está de 5 em 5 minutos a ligar ao Chefe porque não tem informação suficiente. Simplesmente agarra nas ferramentas “e bola para a frente” desenrasque-se, temos boa formação, mas também temos um espírito de desenrasque. “Que não é muito comum”. Afirma Inês Gaspar.
Pensa em regressar a Portugal ou nem pensa nisso?
“Não penso muito a longo prazo ou não tenho objetivos muito estabelecidos a longo prazo. “Daqui a 10 anos. Quero voltar a Portugal.” Porque “eu acho que quando nós temos ideias assim, muito definidas, onde queremos estar, o que queremos estar a fazer depois de surgir algum bocadinho mais fora da caixa nós não vamos olhar para essa proposta, ou para essa possibilidade com os mesmos olhos.”
“Se eu consideraria, provavelmente sim, porque eu acho que também, hoje em dia temos que viver na mentalidade: Estamos no século 21, nem que eu voltasse para Portugal em 2025, isso não quer dizer que eu ficasse em Portugal os próximos 10 anos ou 20 anos. Facilmente voltaria e facilmente emigraria de novo. Como não tenho ninguém a quem dar justificações, todas essas possibilidades estão muito abertas.” Realça Inês Gaspar.
Se a proposta profissional pudesse ser interessante a nível estratégico e económico teria que ser interessante a nível económico, isso seria de ponderar. Uma vez que não tem muitos anos de experiência, Portugal é conhecido pelos salários baixos, mesmo relativamente a Espanha, são bastante mais baixos e quando se tem essa “desvantagem” por não se ter uma experiência profissional de muitos anos. “Acho que seria mais por aí, mas sim consideraria ir para Portugal como consideraria ir para outro país qualquer da Europa.”