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Segunda-feira - 14 Outubro 2024

De Madeirense a cidadão do mundo: uma história para ser contada

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Avós de Diogo Goes (naturais do Funchal, foram emigrantes na Venezuela durante 36 anos) e mãe de Goes (criança na foto, natural da Venezuela) – no navio, em viagem de regresso da Venezuela para a Madeira, em 1973.

Diogo Goes é um português com um historial familiar um pouco peculiar. O pai é português, a mãe é Venezuelana, e os avós maternos (portugueses) viveram 36 anos na Venezuela. A sua mulher é da África do Sul, e os seus pais estiveram emigrados no Canal da Mancha e na África do Sul. Parece um pouco complicado, mas o próprio explicou ao Jornal Comunidades a sua história.

Sou Diogo Goes, docente do ensino superior, leciono na licenciatura de Turismo, no Instituto Superior da Administração e Línguas na Madeira, (ISAL). Exerço as funções de Diretor do Departamento de Ciências e Humanas e Sociais e tenho andado a desenvolver investigação na área do Turismo e da cultura, e concorri para um Doutoramento que espero que seja aceite.

A minha relação com a diáspora portuguesa prende-se pelo lado materno, a minha mãe é Venezuelana, os meus avós maternos estiveram emigrados mais de 36 anos na Venezuela e pelo lado da minha esposa, é Sul Africana, e por sua vez os seus pais, e um pouco toda a família, estiveram emigrados quer nas ilhas no Canal da Mancha, quer na África do Sul durante vários anos. Esse contacto com a emigração, faz-se direta ou indiretamente. Quer pelo contacto de atividades profissionais, quer na América do Sul quer no território europeu, que me tem vindo a possibilitar investigar, também o sobre a cultura portuguesa, no âmbito da investigação cientifica em português.

A minha avó, era uma excelente contadora de história, sei que no período do Estado Novo, e duma alta taxa de pobreza e iliteracia na Madeira, era muito usual todas as famílias terem uma história rodeado em torno da emigração, seja para a Venezuela, seja para a África do Sul. O meu avô foi o primeiro a ir para a Venezuela. Durante o Estado Novo, era obrigado para a mulher poder sair do país, ser casada. Na altura a minha avó namorava com o meu avô, e casou por procuração, depois o meu avô, fez uma carta de chamada, e situado da época, fez várias viagens para a Venezuela no navio Santa Maria, que depois seria assaltado mais tarde por Henrique Galvão, num enquadramento contra o regime, que seria chamado à posteriori de “Santa Liberdade”. O meu avô, foi para a Venezuela num navio de vapores, no Vera Cruz, e a minha mãe por razões familiares voltaram para a Madeira, da Venezuela 36 anos depois. Com a a minha mãe nascida, vieram no Navio Frederico C. Designado Vapor da companhia C, e que é elucidativo no ambiente festivo e de glamour, desses paquetes – como se pode ver na foto principal.

A minha avô fazia tricô, e provinha de uma família humilde, e foi ajudando o meu avô na mercearia. Foi esse esforço, que ajudou a minha mãe prosseguir os estudos. E que se formou em arquiteta.

Quando o meu avô faleceu, foi a minha avó com o tricô que pagou a licenciatura à minha mãe. É um exemplo que não é muito diferente de muitas famílias madeirenses, que tiveram que emigrar para que filhos e netos tivessem melhores condições de vida.

“Muitas vezes pensei em emigrar, por questões familiares, e por questões profissionais, quer no meu caso, quer no caso da minha esposa, e polos laços familiares, e por aquilo que me identifico na ilha da Madeira, mas não é algo que esteja no meu horizonte.” Mas como cidadão crítico, no campo da investigação com as transformações sociais económicas do nosso mundo, acho que ainda há muito que fazer para captar os jovens, e assegurar os jovens qualificados, permaneçam, na Madeira ou no continente. Não fazendo intenção de emigrar, é algo que tantas vezes me vem à mente se não faria sentido emigrar, para sermos mais valorizados lá fora, do que aqui, na nossa terra natal.

Estudei no Porto Belas Artes, essa é a minha primeira formação académica, esse sentido que vem desde criança, talvez movido pela profissão da minha mãe, que é arquiteta, como referi anteriormente.
Fui contagiado por esse universo. Mas a vida vai dando voltas e deparamo-nos com outras realidades e outras atividades profissionais.

“Lido com camadas de jovens universitários, e se calhar a emigração é benéfica, e por isso é preciso por vezes é preciso sair da terra, onde nascemos.”

Há um filósofo espanhol que diz que o racismo cura-se viajando, e o fascismo cura-se lendo, de Miguel Unamuno. “Temos visão do mundo. Já visitei a América do Sul várias vezes, em ambiente familiar e académico envolvido em contexto científico. Não tive oportunidade de residir no estrangeiros, as minhas estadias lá fora não foram muito prolongadas, a do Brasil foi de três semanas, um mês. E noutras ocasiões foi ambiente de férias, mas sempre que se viaja encontra-se Portugueses por todos esses recantos. Há pouco tempo estivemos no Reino Unido em Gales, fomos a um restaurante de portugueses e madeirenses, em Londres também, e é curioso, em Paris e Roma, e é encontrar laços culturais, que são enriquecidos pelo contacto com outras culturas e com outras realidades.

O que levaria a emigrar e que país?

No enriquecimento profissional, acima de tudo, no contexto das belas artes e até da investigação sobre turismo cultural e economia criativa, apesar do constrangimento linguístico, a Alemanha tem revelado, um grande dinamismo, de cariz cultural e do alicerçar revitalização dos antigos espaços pós-industriais. Convertendo em espaços “convertidos” para a economia criativa, a Alemanha seria um bom destino e no Reino Unido tem um grande, potencial, apesar de os laços latinos facilmente me inclinaria para Itália, e é um belíssimo país e que conheço e que já desenvolvi vários espaços artísticos. Mas penso que escolhendo desenvolver uma carreira profissional fora do país, quer o Reino Unido, quer a Alemanha, possibilitam à sua própria escala, um conjunto de oportunidades que alavanca a promoção cientifica e o desenvolvimento das Artes Plásticas.

Mas o que é curioso é que nos últimos anos tem havido um grande retorno de muitos madeirenses à ilha da Madeira, quer familiares, quer outras pessoas.

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