No passado dia 13 de setembro, a professora Deolinda Adão, proferiu a conferência “Participação Feminina nas Sociedades Fraternais Portuguesas da Califórnia”, no âmbito da programação do Museu das Migrações e das Comunidades, sediado em Fafe.
Uma das marcas mais características das comunidades portuguesas espalhadas pelos quatro cantos do mundo é indubitavelmente a sua dimensão empreendedora, como corroboram as trajetórias de diversos compatriotas que criam empresas de sucesso e desempenham funções de relevo a nível cultural, social, económico, político e associativo.
Nos vários exemplos de fautores da cultura e língua de Camões na diáspora, cada vez mais percecionados como um ativo estratégico na promoção e reconhecimento do país, tem-se destacado, ao longo dos últimos anos, o percurso altruísta e consagrado da professora Deolinda Adão, na Califórnia.
Dotada de uma forte personalidade e de uma grande sensibilidade, Deolinda Adão chegou, na companhia dos pais, ao estado com maior diáspora de origem portuguesa nos Estados Unidos da América, no princípio da década de 1970.
Estabelecida inicialmente em Albany, uma cidade localizada no estado americano da Califórnia, no condado de Alameda, perante um contexto sociocultural diametralmente oposto ao da pátria de origem, porquanto no decurso da ditadura portuguesa a mulher era educada para ser essencialmente uma mãe extremosa, uma esposa dedicada, uma verdadeira fada do lar, submissa ao poder patriarcal do pai, do irmão e, mais tarde, do marido. Deolinda Adão, concluiu no território norte-americano, durante a adolescência, os estudos liceais, tendo mais tarde concluído a licenciatura, mestrado e doutoramento em Literaturas e Culturas Luso-Afro-Brasileiras pela Universidade de Berkeley, uma das mais importantes e prestigiadas universidades do mundo, onde até aos dias de hoje tem construído uma sustentada carreira académica.
Professora e Diretora Executiva do Programa de Estudos Portugueses na Universidade da Califórnia, em Berkeley. A sua especialização em mulheres, género e sexualidade, na esteira da sua dissertação “A study of the construction of feminine identity in Portuguese literature”, tem-na impulsionado a publicar regularmente livros e artigos sobre o género feminino.
A sua abordagem e dedicação académica tem sido de enorme relevância para a língua e cultura lusa, com especial destaque no contexto da emigração portuguesa na Califórnia. Um dos lados, como refere Irene Vaquinhas, uma das mais conceituadas investigadoras no domínio da História das mulheres e do género, “menos conhecido e estudado do fenómeno migratório”.
Eleita, em 2018, Presidente da Luso-American Education Foundation, organização da qual já era membro desde os anos 90, e que tem como missão promover a cultura e língua portuguesa na Califórnia, Deolinda Adão integra desde 2013 o Conselho da Diáspora Portuguesa. Uma associação sem fins lucrativos, constituída em 2012, com o Alto Patrocínio do Presidente da República Portuguesa, e cujo propósito demanda estreitar as relações entre Portugal e a sua diáspora, portugueses e luso-descendentes (residentes fora do país há mais de três anos), para que estes através do seu mérito e influência contribuam para a afirmação universal dos valores e cultura portuguesa, bem como para a elevação e reforço permanente da reputação do país.
Uma das figuras mais consideradas e respeitadas da comunidade académica luso-americana, a eminente académica foi recentemente uma das dez personalidades distinguidas com a Medalha de Mérito Científico 2023. Uma iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, que periodicamente galardoa individualidades nacionais ou estrangeiras que, pelas elevadas qualidades profissionais e de cumprimento do dever, e que se tenham distinguido por valioso e excecional contributo para o desenvolvimento da ciência ou da cultura científica em Portugal.
Sem nunca esquecer as suas raízes, e nunca abdicando da coragem, frontalidade e audácia de pensar, dizer e fazer, o exemplo de vida e a profícua carreira académica de Deolinda Adão, relembra-nos o pensamento do insigne pedagogo português Agostinho da Silva: “O professor deve sempre aparecer ao seu discípulo como uma pessoa de cultura perfeita; por cultura perfeita entenderemos tudo o que pode contribuir para lhe dar uma base moral inabalável, sem subserviências nem compromissos”.