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José Augusto Duarte, é o Embaixador português de Paris em funções há quase um ano. Narrou-nos que os portugueses são muito bem vistos em França. A emigração, para aquele país, continua a praticar-se, não na mesma proporção dos anos 60 e 70, mas há muitos portugueses que continuam a chegar a França, para trabalhar e fazer investigação.
Jornal Comunidades: Como Embaixador, como vê a comunidade portuguesa em França, pode indicar-nos quantos estão inscritos na Embaixada?
Embaixador José Augusto Duarte: A comunidade portuguesa que vive em França é composta na sua larga maioria por cidadãos portugueses que já emigraram há bastante tempo e que se foi integrando bem na sociedade francesa. É certo que nos dias de hoje continuam a chegar a França portugueses que aqui procuram trabalho ou que vêm para cá estudar e fazer investigação. Contudo, a maioria do total de cerca de um milhão e duzentos portugueses que vive em França já cá vive há mais tempo e está integrada.
JC – França é conhecida pela forte emigração portuguesa que vivia nos arredores de Paris, nas zonas mais pobres, isto nas décadas de 60/70. O que mudou desde então?
EJAD – É um facto que a maioria dos portugueses que emigraram para França nas décadas de 60 e 70 do século passado vieram acima de tudo para as periferias de Paris, tendo muitos vivido em situações de imensa precariedade e miséria. Contudo, força do seu próprio mérito, da sua capacidade de trabalho, da sua resiliência, estas pessoas conquistaram um nível de bem-estar material que seria difícil de imaginar quando viviam em Champigny ou outros bairros semelhantes. Hoje, temos vários milionários, algo que deve orgulhar-nos a todos como forma de reconhecimento das qualidades da nossa comunidade e do respeito que conquistou junto da sociedade francesa.
JC – Como tem sido a evolução da emigração dos emigrantes portugueses aos olhos dos franceses, ainda consideram os portugueses “a mão da força do trabalho”, ou já se começam a perceber que os portugueses estão cada vez mais a ocupar lugares cimeiros, quer nas empresas privadas, quer nos órgãos do Estado?
EJAD – Hoje temos muitos portugueses em posições de relevo seja no mundo privado seja no Estado franceses. Temos muitos empresários e Diretores de empresas como temos muitos luso-eleitos em várias estruturas do poder político. Esta é uma evolução saudável e desejável, que atesta por um lado o nosso nível de progressão e até de ascensão social como, há que o reconhecer, não deixa de ser um sinal da abertura e esforço de inclusão que a própria sociedade francesa vai implementando. Ou seja, esta progressão da comunidade portuguesa é tão importante e tão útil para nós portugueses como para os próprios franceses que nos acolhem. Todos ganhamos com isso.
JC – Na qualidade de supremo máximo da diplomacia deve ter presenciado episódios interessantes, pode partilhar algum em particular?
EJAD – Sou diplomata de carreira há 34 anos e estou há quase um ano em França. É inevitável que no exercício das minhas funções tenham surgido muitos e variados acontecimentos ou episódios interessantes, mas por dever profissional de sigilo a que me sinto obrigado julgo preferível deixar isso apenas à livre imaginação de cada um.
JC – Como decorreu a festa do dia de Portugal? Houve celebrações, participou nelas?
EJAD – A Embaixada de Portugal organizou a celebração do Dia de Portugal, de Camões e das comunidades portuguesas num local fora da Embaixada, tendo assim sido possível convidar mais pessoas. Foi uma celebração muito bonita, no Palais d’Iena, que é a sede do Conselho Económico, Social e Ambiental de França. Tivemos a Orquestra D. Fernando II de Sintra e o Maestro Cesário Costa, atual Diretor de Programação Musical do Centro Cultural de Belém, que fizeram um belíssimo espetáculo evocando alguns dos melhores compositores de música clássica portuguesa e francesa. Eu participei naturalmente nestas celebrações, que só foi possível organizar com esta grande escala graças ao generoso patrocínio de três importantes investidores portugueses em França: Mapril Baptista, Fidelidade e Caixa Geral de Depósitos. Isto é importante porque nos recorda que os portugueses também são grandes investidores e criadores de emprego em França.
JC – Como tem sido lidar com os emigrantes portugueses em França? Recorrem muito aos serviços da Embaixada, ou já sabem movimentar-se melhor num país, que apesar de ser também europeu, tem a sua própria cultura?
EJAD – A relação com a comunidade portuguesa tem sido fácil e fui sempre extremamente bem acolhido pelas diversas associações de portugueses que vou encontrando um pouco por toda a França. Quanto aos serviços de apoio à comunidade portuguesa eles são prestados mais do que pela Embaixada são-no acima de tudo pelos vários Consulados-Gerais de Portugal em França, que são: Paris, Bordéus, Lyon, Estrasburgo e Marselha. Para além destes Consulados de grande escala temos ainda outros de menor dimensão, mas que são muito importantes também para apoiar localmente os portugueses que o necessitem, que é o caso dos Consulados Honorários.
JC – Como é ser Embaixador num país onde há tantos emigrantes portugueses?
EJAD – É excelente porque a presença em grande número de cidadãos portugueses em França contribui também para a relevância do nosso país aos olhos da sociedade e do próprio poder político franceses. As relações entre Portugal e a França são excelentes mas elas nunca seriam tão expressivas se não tivesse esta tão grande comunidade portuguesa em França