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Domingo - 16 Fevereiro 2025

EXCLUSIVO: Emigrar não por motivos financeiros, mas sim por causa do tema de Doutoramento

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Rafael Amoedo, licenciou-se em Engenharia Química no IST, em Lisboa, e terminou em TU Wien, em Viena, Áustria. Sempre teve um fascínio pela engenharia e pela química, e o resultado não poderia ser o melhor. Decidiu emigrar, não pela falta de condições financeiras ou profissionais em Portugal, apenas saiu do país porque o tema do seu doutoramento que lhe foi proposto, estar-lhe ao alcance na EPFL, na Suíça. Neste momento vive em Zurique e gosta bastante de lá viver. O regresso, já está mais ou menos definido, e com um prazo de validade.

“Sempre fui um indivíduo muito curioso”. Desde novo que adora saber coisas novas, perceber como tudo funciona. De todos os ramos da ciência, aquele onde sempre teve mais curiosidade foi a área da química – perceber como as partículas se agregam para criar moléculas que por sua vez constituem tudo aquilo que somos e conhecemos. “Acho fascinante”. Ao escolher um curso, decidiu tirar engenharia química no IST (Universidade de Lisboa), numa tentativa de conciliar uma parte mais prática (engenharia) com uma ciência de base (química).

Foi um curso excelente, com menos química do que estava à espera, mas que adorou do princípio ao fim. Acabou o curso na TU Wien, em Viena, na Áustria, com um trabalho de dissertação na área da química inorgânica. Contudo, percebi que trabalho clássico em laboratório “não era para mim” e começou a interessar-me pela área da otimização (matemática é outra das suas paixões, mas o nível de abstração é grande). Foi com base nisto que se doutorou em otimização de sistemas de energia na C, (na Suíça, em Lausane), um doutoramento que conseguia conciliar matemática e engenharia química. A experiência foi excelente e com base em alguns resultados do doutoramento fundou a Emissium com o Alessio, “que foi não só meu colega de doutoramento mas também um bom amigo”. A Emissium é uma empresa que rastreia as emissões de carbono da eletricidade – “algo que precisamos urgentemente no caminho para uma descarbonização acelerada e justa.”



Porquê decidiu emigrar?

Provavelmente, e talvez ao contrário da maior parte dos que saem de Portugal, não saiu por questões económicas ou falta de oportunidades. Tinha uma ótima vida em Portugal e podia ter feito o doutoramento por Lisboa. Decidiu sair pelo tema de doutoramento que lhe foi proposto, pelo seu orientador e pelo prestígio da Universidade para onde foi. Com toda a certeza outros fatores foram importantes, como a experiência internacional e viver fora da casa dos pais (neste aspeto “estamos muito atrasados a outros países da Europa”, onde aos 18 anos os estudantes vão ficar sozinhos, trabalham e são independentes). “Acabei assim por me instalar na bonita cidade de Sion, (Suíça) no vale dos Alpes, onde a EPFL tem um polo dedicado à energia.



Profissionalmente considera-se um ‘empreendedor’ porque tem uma start-up onde é o CEO. “Não sou grande fã de rótulos, mas acho que é capaz de ser aquele que mais se aproxima”. Os seus dias são sempre diferentes, com mil coisas para resolver “fora da minha área de formação”. Contudo, tem a certeza de que tantos os anos no IST, como na EPFL lhe prepararam para conseguir resolver os problemas que tem pela frente: a capacidade analítica, a disciplina, os “skills” de comunicação e a “capacidade de síntese são fundamentais naquilo que faço”.


Está fora de Portugal há 6 anos. Trabalhou em Portugal por um curto espaço de tempo como assistente na Nova SBE e no IST. A experiência que teve foi excelente, tanto em Portugal como fora.

Já se sentiu de alguma forma discriminado por ser português?

É uma questão interessante. Refletindo bem, “posso ter sido ligeiramente discriminado por ser português, mas mais por associação.” Na Suíça, onde vive, a comunidade portuguesa é grande. Contudo, a maior parte (e sem qualquer tipo de pretensão) têm uma formação académica relativamente baixa e acabam por trabalhar em supermercados, construção, trabalhos domésticos, entre outras ocupações menos qualificados. De facto, “já me aconteceu dizer que sou português e sem me conhecerem assumirem que ou trabalhava no supermercado ou voltava todos os anos de carro para Portugal no verão.” Nada que “seja muito ofensivo, ou que me transtorne”. Contudo, há um trabalho a fazer nas comunidades portuguesas, de apostar na qualificação das novas gerações, de puxar pelas nossas comunidades e promover a integração social e apostar no ensino superior. É preciso mostrar que há valor acrescentado em estudar e em ir mais além.


Sente-se bem onde vive, “se não sentisse não estava onde estou”. O que mais gosta são as oportunidades para empreendedores como “eu”, onde há investimento sério em inovação e onde se aposta no desenvolvimento de novas tecnologias. Há também a questão da segurança e nesse aspeto a Suíça é incrivelmente seguro – pode-se ir a qualquer lado a qualquer hora, e é seguro.

O regresso a Portugal, é um claro que sim. “Eu acredito e quero acreditar ainda mais em Portugal. Precisamos que pessoas como eu, tenham condições para voltar (ou para não saírem). A minha linha temporal é voltar entre 5 a 10 anos – dependente claro das minhas atividades profissionais e condições pessoais.” Finaliza Rafael Amoedo.

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