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Quarta-feira - 13 Novembro 2024

EXCLUSIVO: A educação e o ensino da língua na linha da frente da Cônsul-Geral de Toronto

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Em fevereiro, a cidade de Toronto acolheu uma nova Cônsul-Geral: Ana Luísa dos Santos Gonçalves Riquito. A educação da diáspora, o ensino da língua e a ligação a Portugal são alguns dos objetivos que a ambiciosa diplomata fixou. Estivemos à conversa com a Cônsul para perceber os seus motivos e as suas dificuldades neste novo posto.

“Cheguei a 2 de fevereiro de 2024 a Toronto. Por acaso, cheguei com um dia de atraso porque houve uma greve de trabalhadores aeroportuários na Alemanha” conta a sorrir a nova Cônsul-Geral de Toronto Ana Luísa dos Santos Gonçalves Riquito. Após 4 anos, ela deixou o seu posto de conselheira política da embaixada portuguesa em Berlim para começar algo completamente diferente.

“Quando estava em Berlim, só muito ocasionalmente substitui as colegas que estavam à frente da secção consular. E a secção era bem mais pequena, em nada comparável ao consulado em Toronto” explica. Mas se o seu posto em Toronto é diferente e novo, a diplomata não é uma novata pois começou a carreira em 2007 e já esteve em várias partes do mundo nomeadamente na China, no Timor-Leste e na Turquia.

“Depois de quatro anos em Ankara, regressei a Lisboa para ser adjunta diplomática do senhor Ministro da Defesa Nacional. Portanto estive num gabinete governamental numa função que assumi durante dois anos e meio. Daí saí para a Direção Geral de Assuntos Europeus na capital portuguesa, no meu ministério: ou seja, no Ministério dos Negócios Estrangeiros no departamento de Justiça e Assuntos Internos onde entre outros dossies seguia a gestão do asilo e imigrações na Europa” indica. E essas questões ligadas à proteção dos direitos fundamentais e dos direitos humanos foram sempre temáticas importantes para a diplomata.

E de fato, um dos seus principais objetivos enquanto Cônsul-Geral está ligado à educação: um direito fundamental para todos. “Acho que nunca é demais enfatizar o valor da educação. Sabemos que a primeira geração de imigrantes no Canada vinha a fugir do analfabetismo, da iliteracia e da estanquidade social. As classes sociais eram rígidas, não havia porosidade social no Portugal do fascismo. E evidentemente isso demora a superar” expõe.

Mas se as gerações mais novas da diáspora estão cada vez mais qualificadas, a evolução da educação dos portugueses em Toronto não é “tão rápida quanto gostaríamos” segundo a diplomata. Para ela, isso tem muito a ver com o sistema socioeconómico do Canadá, para o qual é “bastante conveniente” manter a possibilidade de recrutar mão-de-obra em setores onde ela falha como a construção, o comércio, etc.

“Sabemos que na primeira geração isso aconteceu frequentemente: os filhos de imigrantes eram desviados para o ensino técnico e eram desviados de um percurso mais académico. Isso tem-se modificado mas todos nós devemos estar atentos e em primeiro lugar as famílias” acrescenta. Além do sistema socioeconómico do país, o ensino superior é muito caro na América do Norte e os jovens endividam-se para poderem estudar.

“Pode ser apelativo aos 16 anos um mini-job porque o filho ou a filha vai ganhar bastante dinheiro mas passado alguns anos, o fato de não ter continuado a estudar vai determinar que esse ordenado seja duramente muito mais baixo do que para quem continuou a estudar e depois teve um emprego onde já se requer qualificações. Sabemos isso e devemos manter-nos atentos a isso” sublinha.

Para a senhora Cônsul há “uma intuição muito certeira” de várias associações em Toronto em dedicar a sua filantropia à atribuição de bolsas de estudo porque o caminho da “plena integração” e da “plena realização pessoal” passa pela valorização da educação. “Não há dúvida nenhuma que não me vou cansar, ao longo dos anos que vou aqui passar, em fazer essa pedagogia junto das famílias: estejam atentos às carreiras escolares dos vossos filhos e filhas!”

Além da educação da diáspora, a senhora Cônsul-Geral também quer manter e promover a língua portuguesa. Por essa razão, o consulado apoia o ensino público canadiano e o ensino comunitário através da formação dos professores e com material pedagógico, por exemplo com tabletes. Para a diplomata, a promoção do português tem que ser feita “de forma inteligente”. O objetivo não é de ter um perfeito domínio da língua mas é a capacidade do emprego da língua no quotidiano e também para objetivos bem definidos como os negócios. E a cooperação com as universidades de Toronto e de York demonstra efetivamente o crescimento económico da língua porque desde Setembro a Universidade de Toronto vai oferecer pela primeira vez um curso Portuguese for business: algo que já existia em espanhol e italiano por exemplo.

“O nosso objetivo é de manter a língua portuguesa não só porque saber várias línguas tem vantagens cognitivas mas também porque a nível económico é a quinta língua mais falada no mundo e pressupõe marcados de emprego colossal no caso do Brasil, ou marcados de emprego emergentes como Angola. Eu gosto de recordar também que as organizações internacionais falam cada vez mais português. O Secretário-Geral das Nações Unidas é um português e o próximo Presidente do Conselho Europeu também é português. A língua portuguesa é reconhecida como uma língua de cultura, de literatura, de arte, de ciência, de tecnologia mas também de negócios” detalha.

Manter a língua também permite reforçar o sentido de pertença à comunidade algo essencial segundo a Cônsul porque a diáspora em Toronto faz parte de uma “mega comunidade”. “Temos um caderno eleitoral com quase 43’000 eleitores mas temos muito mais portugueses do que isso. Temos uma estatística que vai desde dos 150’000 até aos 300’000 consoante o critério que apliquemos” acrescenta. E essa “mega comunidade” concorre com múltiplas outras etnias e nacionalidades na cidade. “A ideia é manter-nos unidos sem prejuízo da natural integração e da natural dissolução de alguns marcadores identitários mais tradicionais. Antes os portugueses eram todos brancos, católicos e agora não é assim felizmente. Portugal é um país muito diverso e com vários sotaques” adiciona.

Mas se o consulado de Toronto serve a comunidade, ele também tem uma delegada do Turismo e um delegado da Agência de Investimento e do Comercio Externo de Portugal para reforçar as relações económicas bilaterais Portugal-Canada.

“Temos tido boas notícias nessa frente desde a entrada em vigor do CETA (ou seja o Acordo Económico e Comercial Global). Portugal passou da décima sexta posição como fornecedor do Canada dentro do conjunto dos 27 países da União Europeia à oitava posição. É uma diferença significativa. Os fluxos de investimento bilateral também estão de um modo geral a subir consistentemente de um lado e de outro. E o mesmo se verifica no turismo. Portugal está na moda e temos até outro filão da atividade consular que é justamente a conceção de vistos a cidadãos de estados terceiros residentes em Toronto e que querem ir a Portugal” explica a Cônsul satisfeita.

Mas apesar de Portugal estar “na moda” para os estrangeiros é preciso manter o cimento entre Portugal e as suas diásporas. Durante as ultimas eleições europeias apenas 161 pessoas votaram em Toronto (o consulado tem um caderno eleitoral com quase 43’000 eleitores).

“O dia em que se vota é por ventura o dia mais importante em democracia. A liberdade de expressão dos medias é importantíssima mas não podemos esquecer que o dia do voto somos todos iguais, somos todos cidadãos. Nesse dia compre-se verdadeiramente o princípio de igualdade democrática e é uma boa maneira de a comunidade fazer valer os seus direitos e fazer as suas reivindicações junto de Portugal e manter-se próxima de Portugal” assinala a Cônsul no rescaldo das eleições europeias.

Se sabe que é uma luta difícil, ela não perde esperança. “Temos que identificar jovens que sejam capaz de mobilizar intergeracionalmente os portugueses aqui. Não basta pragar aos convertidos. Sabemos que quem tem mais literacia vota, quem tem menos literacia vota menos mas o voto até por isso é importante para todos. Penso que podemos mobilizar também para esta causa como outras, os clubes e associações da comunidade de Toronto. Historicamente foram o amparo dos portugueses, uma via de socialização. Têm um papel importantíssimo a desempenhar e tenho a certeza que com uma ação pedagógica junto das associações e dos clubes, podemos incentivar ao voto” conclui.

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