Ana Rita Gomes é portuguesa formada pela Faculdade de Ciências e Tecnologias (FCT) da Universidade Nova de Lisboa, onde se licenciou e fez mestrado em Engenharia Geológica (Georecursos), pela Heriot-Watt University em Engenharia do Petróleo, o que lhe pertimitiu ter uma visão integrada de vários temas do setor da energia. Lançou-se à “aventura” da emigração e esteve em Houston, no Texas, Estados Unidos, durante um ano e meio. Uma experiência que seguramente a marcou para toda a vida.
“Durante o meu tempo na FCT tive oportunidade de ser assistente numa unidade curricular transversal para alunos de 1º ano”, de todas as licenciaturas, denominada “Competências Transversais para a Ciência e Tecnologia”, e foi bolseira de investigação em vários projetos, o que incluiu um pouco de tudo, desde trabalho de laboratório, trabalho de campo a modelação e análise de dados.
Desde essa altura que lhe despertou um gosto pela abordagem holística, o que agora é altamente vantajoso para as funções que desempenha. Se no início da sua carreira achava que era algo penalizador, com o tempo foi percebendo que todas as áreas de atuação precisam de ter especialistas e generalistas. “Os especialistas que abordam os temas em profundidade e os generalistas que os interligam e têm uma visão integrada.” Explica Rita.
Infelizmente, o contexto económico nacional em 2015 e a baixa empregabilidade, fez com que estivesse algum tempo à procura de trabalho “na minha área de formação após terminar o curso”. Acabou por ser 1 dos 6 portugueses selecionados para receber uma bolsa de formação da Galp para realizar o mestrado em Engenharia do Petróleo da Heriot-Watt University, em 2017. Esta bolsa era direcionada a Portugueses e Brasileiros, lecionado em Portugal pelos docentes da Heriot-Watt University e professores convidados, cujos projetos foram realizados com as equipas de Exploração & Produção da Galp. “Como me disseram na altura numa entrevista, esta seria a oportunidade que me abriria não só portas, mas também janelas e portões.”
A vontade de procurar oportunidades fora de Portugal surgiu muito antes do terminar o mestrado da Heriot-Watt University, mas foi após terminar este mestrado (dos mais conceituados e reconhecidos internacionalmente na sua área) e da necessidade de expandir a sua carreira internacionalmente numa área que, em Portugal, encontra-se bastante limitada, nomeadamente pelo baixo número de empresas a atuar na área do O&G upstream (ainda menor nos dias de hoje), limitando-se sobretudo à investigação. Tendo trabalhado em investigação durante a faculdade, “sabia que queria estar no negócio, onde a ação acontece e as decisões de investimento são tomadas.”
Houston é conhecido por duas indústrias, por ser o centro médico dos USA e um dos hubs de O&G do mundo, neste último caso, o mais importante das Américas. Ainda “que me tenha candidatado a esta vaga por ser numa empresa de referência do setor mundialmente (Total Energies), Houston parecia um sonho, que à medida que o processo foi avançando começou a tornar-se possível.”
Atualmente trabalha na direção de Política, Regulação e Stakeholders da EDP, como especialista em políticas energéticas. “Tenho a sorte de ter começado no sector energético, que me apaixona desde o início, no entanto, nunca imaginei que estaria nesta área atualmente.”
Durante a sua experiência em Houston, mapeava e avaliava novos prospetos para adquirir novas áreas para prospeção de O&G no Brasil. Estava integrada num departamento altamente multicultural e multidisciplinar, o enriqueceu ainda mais a experiência. Ao regressar a Portugal, após o término do programa, no início de 2020, aconteceu a pandemia covid-19 tendo o preço do petróleo baixado para preços negativos nos USA. Nesse contexto de incerteza, todas as possíveis ofertas foram canceladas ou adiadas.
Ainda em 2020, surgiu a oportunidade de integrar a Apetro, numa função focada na área de advocacy e policy de combustíveis de baixo carbono, onde era responsável por vários grupos de trabalho na área do Ambiente e Segurança e participava ativamente em associações nacionais e europeias. Desde 2023 que se juntou à EDP, na mesma área, fazendo a transição para o setor elétrico e renovável.
A sua experiência internacional foi de um ano e meio em Houston. Foi a sua primeira experiência empresarial, até então só tinha feito investigação e estudado. “Julgo que as principais diferenças estão relacionadas com as diferenças culturais entre Portugal e o país onde esteve, que se espelha na cultura da empresa e do escritório regional.” Apesar de estar nos USA, a empresa em que trabalhava (Total Energies) tinha uma forte cultura francesa, mas o departamento onde trabalhava era multicultural, vários locais com backgrounds culturais diferentes e expatriados de todos os cantos do globo.
“Posso dizer que a cultura de segurança no trabalho e a promoção da equidade e inclusão foi o que mais me marcou. Num país dividido e diverso socialmente como os USA, as regras e condutas para evitar discriminação são altamente desenvolvidas, de forma a respeitar cada indivíduo, etnia e cultura.”
Principal diferença que sentiu ao voltar para Portugal?
A principal diferença que sentiu ao regressar foi adaptar novamente à nossa cultura, sem filtros, por vezes sarcástica. “Lembro-me de ficar indignada com alguns dos comentários pouco tempo após regressar a Portugal (ainda continuo), e de refletir o quanto o contexto e a experiência que tive me moldou no que respeita a alguns temas de discriminação e unconcious bias. Este é um trabalho que requer reflexão constante e que tento fazer com as pessoas que me rodeiam.”
Esta experiência fê-la ficar mais alerta para temas relacionados com a diversidade, equidade e inclusão. Ao integrar a administração do programa Future Energy Leaders Portugal (FELPT) foi confrontada com a fraca presença de mulheres na discussão, assim como a baixa adesão a candidaturas ao programa FELPT, o que se refletia no baixo número de mulheres no grupo. Sabendo da quantidade e qualidade das profissionais femininas no setor energético, “fez-me questionar os motivos para tal estar a acontecer.” Dessa reflexão, do apoio da Associação Portuguesa da Energia, e de outras mulheres que tal como eu sentiam a mesma inquietação, surgiu o “Mulheres na Energia”, um programa que pretende desenvolver ações para conectar e empoderar mulheres que trabalham no setor energético.