A música é uma linguagem universal, um elo que une culturas e gerações. Para a comunidade portuguesa na diáspora, eventos culturais como o concerto do Coro da Universidade de Évora em Haia são momentos que reavivam a identidade e fortalecem laços. O Jornal Comunidades Lusófonas entrevistou Joaquim Godinho, presidente do Coro, para conhecer melhor este projeto musical e o impacto da sua recente visita aos Países Baixos.

O Coro leva o nome de Évora e do Alentejo além-fronteiras
Jornal das Comunidades (JC): Joaquim, pode contar-nos um pouco sobre a história e missão do Coro da Universidade de Évora?
Joaquim Godinho (JG): O Coro foi fundado a 11 de abril de 1983, sob a direção do Prof. Dr. Manuel Ferreira Patrício. Originalmente composto por alunos, hoje integra também docentes, funcionários e antigos estudantes da Universidade de Évora. A nossa missão principal é acompanhar as cerimónias oficiais da universidade, mas também fomentar a cooperação com grupos corais nacionais e internacionais. Procuramos prestigiar a Universidade e levar a música e as tradições do Alentejo a todos os locais que visitamos.
JC: Como foi a experiência de atuar em Haia?
JG: Foi uma experiência inesquecível! Tivemos o privilégio de cantar com o Coro Kahelo, um grupo de jovens estudantes portugueses na Holanda. Este encontro de gerações uniu a tradição académica e coral portuguesa a uma nova geração de músicos. Juntos, interpretámos a Missa Pro Pace, um momento carregado de simbolismo, reforçando o papel da música como uma linguagem universal de paz e união.
Além do concerto, participar na celebração da missa na Paróquia Portuguesa de Haia foi particularmente emocionante. A música transportou-nos para Portugal e trouxe um sentido profundo de identidade e comunidade aos portugueses que vivem no estrangeiro.

JC: Como é feita a seleção dos coralistas?
JG: A maioria dos nossos membros tem ligação à Universidade de Évora, seja como alunos, docentes ou funcionários. A seleção é feita pela Direção Artística e pelo Maestro, que avaliam o perfil e a adaptação ao grupo. Apesar de privilegiarmos a entrada no início do ano letivo, estamos sempre abertos a novos coralistas.
A música reforça a identidade da diáspora portuguesa
JC: Como vê o papel do Coro na promoção da cultura portuguesa no estrangeiro?
JG: A música é um veículo poderoso para reforçar a identidade cultural. Ao levarmos o nosso repertório – desde o canto alentejano a peças contemporâneas – não só partilhamos a nossa herança musical, como criamos pontes com a diáspora.
JC: Como é o apoio da Universidade de Évora a projetos culturais como o Coro?
JG: A Universidade de Évora concede um subsídio anual fundamental para mantermos as nossas atividades. Além disso, há um apoio logístico essencial, como transporte e espaços para ensaios. Felizmente, temos sentido um reforço no reconhecimento do nosso trabalho, o que se traduz num maior envolvimento institucional.
A multiculturalidade e o convívio de gerações fortalecem laços
JCL: Tem alguma memória ou atuação especial que gostaria de destacar ao longo da sua trajetória com o coro?
JG: Todas as atuações são únicas e todas têm momentos especiais. Mas, se tivesse que destacar algumas, referiria a primeira vez que participei num concerto, no Natal de 2018, numa ação solidária, o concerto do 40.º aniversário do CORUÉ e, mais recentemente, a nossa visita e concerto em Haia, em que destacaria a calorosa e sentida receção quer dos nossos jovens estudantes quer da comunidade portuguesa. Sentimo-nos em casa e foi maravilhoso sentir a alegria dos portugueses que nos receberam de braços e coração abertos. E, se o concerto era o nosso objetivo, a participação na celebração eucarística foi, sem dúvida, um ponto alto da nossa visita.
JC: Que mensagem gostaria de deixar à comunidade portuguesa na diáspora?
JG: Quero expressar a minha profunda gratidão pelo acolhimento caloroso que recebemos em Haia. A nossa anfitriã Aninhas, a Embaixadora de Portugal, D. Clara Nunes dos Santos, a jovem maestrina Mariana Pinheiro do Coro Kahelo e a Teresa Miguel, responsável pela Paróquia de Língua Portuguesa, foram incansáveis. Estes momentos mostram como a nossa cultura e identidade continuam fortes, independentemente das fronteiras.
JC: E aos jovens músicos que sonham integrar projetos como o Coro?
JG: Participem, saiam da zona de conforto e envolvam-se! A música não é apenas um talento, é uma experiência de vida, uma ponte para a cultura e uma forma de fortalecer a nossa identidade enquanto comunidade.
A conversa com Joaquim Godinho revelou mais do que a história de um coro académico: mostrou a força da cultura portuguesa e a importância de manter vivas as nossas tradições além-fronteiras. A visita do Coro aos Países Baixos foi um testemunho de como a música pode unir gerações e comunidades, e reforçar o sentimento de pertença na diáspora.
