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Sexta-feira - 18 Julho 2025

Exclusivo: A Ópera veio à cidade, “It’s not over until the Soprano dies”

Destaques

Na entrada do Coliseu do Porto junto à entrada da sala de espetáculos o burburinho já se fazia sentir. Quase ninguém estava vestido a preceito, pois a obra a apresentar não exigia grande aperalto, mas um toque de classe impunha-se, para não estragar o que nos esperava lá dentro. A sala estava quase repleta, e nós fomos gentilmente acompanhados para o camarote, onde a vista alcançava todos o “cantos” e “recantos” do Coliseu. Vinte e uma horas, marcava o relógio, e o espetáculo ainda não tinha começado. “Típico português”, pensei, mas afinal parecia que fazia parte da cena. Vinte uma e dez, as cortinas começam a levantar-se.

As atenções viravam-se agora para o palco, o Maestro Nuno Côrte-Real, tinha sob a sua responsabilidade “conduzir trinta e nove músicos, excertos de 28 óperas de compositores tão dispares como Henry Purcell e Richard Strauss” e não era para menos, iriam ter lugar 30 alinhamentos numa peça só, é trabalho para veteranos, e ter as vozes bem alinhadas para dar enfoque ao espetáculo.

A obra começa com uma soprano, que sofria e cantava, cantava e sofria no sofá, as odes do amor. Rodeava-a o tenor, à “desgarrada” numa tentativa de quem mais conseguia impressionar o público, e o esperado acontece, a desventurada acaba por morrer com uma facada na barriga, e no sofá findam os seus últimos segundos de vida. Deitada e imóvel permanece quase toda a peça, enquanto outros sopranos cantavam “a morte é uma hóspede bem-vinda”, numa apelação ao inevitável, pois a morte é a única garantia que temos.

“Dizem que o amor tem um sabor ensanguentado” canta o tenor enquanto se esvai em sangue.
Sangue e mais sangue se iria testemunhar na peça. Morriam e renasciam como fénix, mas as cinzas não entravam em cena, mais de uma dezena espalhava-se pelo palco deitados imóveis no chão.

O maestro continuava a conduzir orquestra os terríveis acontecimentos em palco. Mas parecia estar habituado àquele frenesim de mortes.


Tudo parecia muito fácil e simples de fazer, os atores e cantores estavam tão bem treinados que quando cantavam pareciam rouxinóis numa floresta encantada. Nunca nos desafiaram com um “óóóo”, ou um “iiiii” desatinado, pois as vozes estavam todas muito bem colocadas e posicionadas, e desvios nem ouvi-los. A ópera prosseguia, cantaram cerca de meia dúzia, e todos com o mesmo destino, cantar ao amor e morrer por ele. Uma verdadeira tragédia grega.

Os minutos passavam, todas as cabeças que de cima de avistavam estavam bem centradas onde a cena se desenrolava, com a morte e o vermelho do sangue dominar o cenário.

Cantou-se sem interrupções quase duas horas. Podemos apelidar de espetáculo, ao que presenciamos, porque foi exatamente isso que ali ocorreu, um verdadeiro espetáculo de vozes ímpares e de uma orquestra excelentemente bem conduzida, que não havia espaço para o erro, e a falha é um verbo que nunca se pronunciou, bem pelo contrário, quando na última cena o tenor se encontrava num canto a esvair-se em sangue e a morte cai-lhe em cima.

Começam os preparativos para mudar-lhe a roupa e dar-lhe um destino final mais digno. As roupas ensanguentadas deram lugar a vestes como se fosse a uma ópera, todo nos trinques.

A urna vinha em passadas pequenas e contadas. Puseram-no dentro do caixão e saem todos em silêncio, à exceção da Orquestra que acompanhava com sons os movimentos lentos em direção à infinidade. E o pano, que era da mesma cor que o sangue, também desce sem grandes pressas. O resto, foi uma enorme salva de palmas.

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