No menu items!
15 C
Vila Nova de Gaia
Domingo - 16 Fevereiro 2025

EXCLUSIVO: A única tuna portuguesa da América do Norte é de Toronto

Destaques

Foto: Ricardo Araújo


Se as tunas fazem parte das tradições universitárias portuguesas, espanholas e da América latina, também já foram adotadas na
América do Norte graças às diásporas. No entanto, só existe uma tuna portuguesa em toda a América do Norte: a Luso-Can Tuna de Toronto.

Chiara Picão (foto de Luso-Can Tuna).

“Como somos a única tuna portuguesa na América do Norte, viajamos bastante para promover a nossa cultura. Somos os representantes da nossa cultura e também os que partilham essa cultura para fora” explica a Chiara Picão, a magíster da Luso-Can Tuna. E de fato, o grupo tem-se deslocado e atuado em várias partes do Canadá e do mundo, incluindo Portugal Continental e Insular, França, Estados Unidos, e no México.

Mas se o grupo promove as tradições portuguesas também as moderniza. “A vantagem de fazermos parte de um grupo de jovens é que estamos sempre a inovar. Portanto mesmo se cantamos músicas que são mais antigas, também misturamos músicas modernas e mais recentes. Acho que não faria sentido queremos guardar as tradições sem modifica-las porque o mundo muda e temos que mudar com ele. Os instrumentos usados são os instrumentos tradicionais das tunas como o bandolim, a guitarra e o cavaquinho mas as músicas são recentes. Acho que é uma bela forma de misturar modernidade e tradição” sublinha a magíster.

Além disso a Luso-Can Tuna é um espaço com diversidade porque a maior parte dos membros é luso-canadiana e portanto a tuna também é uma expressão desta identidade múltipla. Por essa razão, o grupo tem canções em Inglês.

Através das viagens, a Luso-Can Tuna também tem sido influenciada pelas outras culturas e vice-versa, adicionando ao seu registo canções em Espanhol por exemplo. Mas se esta partilha é importante para a Chiara porque demonstra a modernidade e vontade de evoluir do grupo, a magíster releva que a tuna nunca esquece as suas raízes nomeadamente a tuna madrinha, a TAUA.

Em 1997, a Tuna Académica da Universidade dos Açores (TAUA) veio a Toronto durante um festival cultural que decorreu na Casa dos Açores. Depois de uma atuação, os estudantes dos Açores desafiaram um grupo de jovens a começar a primeira tuna no Canadá. Foi então que em Março de 1998, como resultado da euforia do desafio e do grande esforço de 17 jovens, nasceu a Luso-Can Tuna. E assim ficou a TAUA como Tuna Madrinha.

“A TAUA sendo a nossa madrinha é a tuna com quem temos mais convívio e celebramos vários eventos juntos. E temos uma grande amizade com a ESCSTUNIS (Tuna Académica Mista da Escola Superior de Comunicação Social) em Lisboa. Mas também temos uma relação muito próxima com outras tunas em Portugal. Aliás cada vez que vou a Portugal de férias, há sempre amigos e amigas a dizerem para ir vê-los. É uma grande sorte poder conhecer tantos jovens e ter umas grandes amizades graças às tunas” conta a Chiara com um sorriso nos lábios.

E este convívio é também uma das razões pela qual a Chiara decidiu juntar-se à tuna em 2019. A jovem luso-canadiana estava à procura de uma comunidade que pudesse compreende-la. “Mesmo se nasci aqui, a minha família é portuguesa e nem sempre consegui ter amigos que compreendiam essa parte de mim. É muito bom estar num grupo com pessoas que entendem esta parte de mim. Eles são como uma família para mim” diz.

Com amizades tão fortes muitos jovens que acabam os cursos ficam na tuna alguns anos depois de terem terminado os estudos. “Fazer parte de uma tuna é como fazer parte de uma segunda família e portanto quando se acabam os estudos, nem sempre nos sentimos prontos a partir. Mas todos dizem que quando é para deixarmos a tuna, há uma sensação clara que nos diz que estamos prontos a dizer adeus à tuna. Eu por enquanto ainda tenho dois anos de mestrado (se tudo correr bem) mas sei que uma vez que acabar os estudos, não estarei pronta a partir diretamente” adiciona a Chiara.

Além disso, fazer parte da tuna é para muitos uma forma mais genuína de participar na comunidade portuguesa de Toronto. “Acho que é muito importante ter um grupo feito por jovens e para os jovens. Às vezes tenho a impressão que não há muitos espaços para a juventude portuguesa na comunidade. Muitas associações querem mais jovens mas o que acontece é que nem sempre são sítios onde a juventude sente-se à vontade. Por vezes também tenho impressão que são sítios onde dizem aos jovens o que têm de fazer mas não estão preparados a receber ideias e iniciativas da parte dos jovens. Portanto estou muito orgulhosa da nossa tuna porque oferece um espaço que existe demasiado pouco na nossa comunidade” acrescenta a Chiara.

E este desempenho da parte dos jovens é apreciado pela comunidade que vê jovens com vontade de fazer algo pela comunidade e que são capaz de fazer um trabalho bem feito. Recentemente a Luso-Can Tuna foi adicionada ao Hall of Fame da comunidade portuguesa em Toronto, destacando a sua importância na comunidade e demonstrando o apoio dos portugueses ao grupo de jovens.

Um apoio que também foi visível durante o evento da Lusofonia em Março, segundo a Chiara Picão. “Estamos muito gratos pelo apoio que recebemos da parte da comunidade portuguesa durante a Lusofonia. O evento necessitou uma grande organização e a comunidade esteve presente para nós. Foi mesmo bom ver isso acontecer” conta.

O evento durou três dias em Março para celebrar os 25 anos da Luso-Can Tuna. “Acho que ainda estamos a recuperar da loucura que foi o evento! Na sexta fizemos uma atuação na Universidade de Toronto e uma noite de serenatas na Casa dos Açores. No sábado tivemos um dia cheio de atuações. Aliás houve uma peça de teatro e muita gente veio ver. E no domingo foi um almoço com atuações das tunas no centro cultural de Mississauga” relembra a Chiara.

O próximo evento será o jantar de Natal da Luso-Can Tuna. Entretanto, os jovens treinam todas as sextas-feiras à noite no salão paroquial da Igreja da Santa Helena em Toronto.

Andreia Saraiva / Correspondente em Toronto (Canadá)
Ver Também

CHEGA ao Chega: A Dignidade Não Se Negocia

Por Marisa Monteiro BorsboomHá um limite para tudo. Há um ponto em que o debate político deixa de ser...