Isabel Ferreira emigrou para o Luxemburgo com 42 anos, depois de um problema de saúde, que lhe impediu de seguir a sua carreira profissional como enfermeira, mas encontrou no Luxemburgo, o país que preenchia as suas medidas, quer através das regras, disciplina, e educação, onde vive há quase 23 anos. Trabalhou em hotéis, andou pelas vendas, mas foi no Associativismo que encontrou a sua segunda verdadeira paixão, e que a fez chegar à Confraria, que teve um encontro o Luxemburgo nos dias 4, 5 e 6 de outubro contando com a Presidente da CCINP (Câmara de Comércio e Indústria Países Baixos-Portugal), Marisa Monteiro Borsboom.
Quando chegou ao país, foi logo confrontada com aquilo que se identifica, um país com muitas regras, que aprecia muito, e foi um ponto positivo, o Associativismo vem quase dois anos depois, porque a sua filha mais velha foi para o Luxemburgo, e também ela uma apaixonada pelo Associativismo, vê no país de acolhimento o que não conseguia em Portugal com tanta facilidade. Uns anos depois, vendo as necessidades do país e das pessoas começou a ajudá-las na área da saúde, que também era a sua área de formação, auxiliando-as com os médicos que tinham dificuldade de comunicar com os doentes pela barreira linguística.
Acabou por abranger outra área, na proteção administrativa e no acolhimento de pessoas que chegavam de Portugal, para se integrarem o mais rapidamente possível. Acabou por abraçar essas áreas, que teve o seu início em 2004, com a sua filha e outros jovens, dos quinze aos dezassete anos que fundaram uma Associação para ajudar Portugal.
Isabel em Portugal era enfermeira e trabalhava no bloco operatório, como instrumentista, e gostava daquilo que fazia, e antes do acidente pensava que tinha o seu futuro garantido profissionalmente. Depois do acidente teve uma fase de luto, pois já não podia desempenhar as suas funções para as quais se tinha dedicado academicamente e profissionalmente, tendo sido difícil ultrapassar essa fase. Teve de enveredar por outros meios, em ajudar o próximo, que é o que mais gosta de fazer. E viu no Associativismo um escape.
A sua filha está à frente da Associação que acolhe portugueses no Luxemburgo. Quando foi para escolher uma profissão foi Assistente Social a sua primeira escolha, foi ela “que me disse que gostaria de fazer de forma profissional aquilo que ela sempre quis fazer no atendimento, as pessoas a entrar a chorar à Associação, e saírem de rosto sorridente. Então era isso que a sua filha queria fazer para o resto da vida”. E neste momento é Assistente Social no Luxemburgo.
O Luxemburgo na ótica de um imigrante
Primeiro “estamos numa realidade em que no país não há propriamente, este quadro social do sem-abrigo”. Existem questões que já cuidam desse campo e fazem essa proteção. Agora, aquilo que “temos como Associação portuguesa é acolher de uma forma mais integrativa as pessoas que chegam, dar-lhes as informações e fazê-los cair na realidade”, para que saibam como proceder ao nível administrativo e que façam uma integração o mais rápido possível para poder ter o seu desenvolvimento pessoal e profissional. Quanto mais rápido isso acontecer, mais fácil é a progressão no próprio país.
Há muitos portugueses a pedir apoio?
Já apanharam portugueses a pedir ajuda, agora “é preciso é saber encaminhá-los”. Isabel escreveu um livro em 2019, onde conta onze histórias de pessoas que estão todas elas muito bem na vida”. Muitas mais haveria por contar. “Nós acompanhamos a pessoa na hora certa no momento exato”. Não é o síndrome de esmola, mas sim num síndrome de positividade e “mostrar-lhes que há um caminho para frente, eles só têm que o percorrer.”
Neste momento, têm a trabalhar na Associação cinco a seis pessoas porque “trabalhamos muito”, depois do Covid, habituámos as pessoas a trabalharem através do telefone, ou por e-mail, porque no fundo, aquilo que é preciso neste momento no Luxemburgo é a administração portuguesa.
Esses problemas estão praticamente respondidos a tempo e horas. Foi criado um Adido Social na Embaixada portuguesa no Luxemburgo, que era algo que não existia, ou seja, “aquilo que nós fazemos para criar capacidade e soluções em que não tivéssemos que ser nós a darmos essa resposta.”
Presentemente praticamente quando “apanhámos esta crise, havia 1400 processos atrasados de respostas da Segurança Social de Portugal”. Hoje praticamente está tudo em dia. Não há processos atrasados e em 3 meses, Portugal está a responder aos pedido que estavam atrasados um e dois anos. A problemática administrativa melhorou significativamente.
O que é que tem feito o Governo português, nomeadamente Embaixadores ou Cônsules com esta realidade?
No Luxemburgo a “Casa é muito bem arrumada”. Existem instituições para resolver todos os setores. O que por vezes as pessoas sentem dificuldade de compreender estas realidades. Quem reside no Luxemburgo, não se pode imputar a responsabilidade a um Consulado ou uma Embaixada, porque se é residente no Luxemburgo o próprio país é que tem que resolver esse problema. E o país responde às necessidades das pessoas que estejam legalizadas, ou seja, tenham os seus documentos completamente em dia.
“Tenho uma filha que trabalha no terreno, é Assistente Social, o país dá respostas. Não abandona ninguém, seja qual for a nacionalidade, seja portuguesa, ou seja qualquer outra nacionalidade”. Agora muitas vezes acontece é que pessoas que são de países que não estão na União Europeia e não conseguem regularizar a sua autorização de residência é muito mais complicado. “Para nós, portugueses, que somos da União Europeia, temos entrada no país e desde que se cumpra ou mesmo em falta de emprego, existem direitos sociais a cumprir por parte do país.”
Não deixam as pessoa entrar nessa pobreza extrema. “Claro que não ficam ao mesmo nível, mas, são bastante protegidos”. Há entidades que fazem as associações neste momento a nível hospitalar. O trabalho que têm que ter é de encaminhamento para as entidades que sabem fazer esse tipo de abordagem e têm capacidade de o fazer. “Eu posso dizer que todas as câmaras municipais têm Assistentes Sociais que se ocupam de toda a gente, da sua população.
Quantos portugueses no Luxemburgo
Em termos de números originais ou legais, no Luxemburgo existem cerca de 80 mil portugueses. Mas o que se pode dizer é que os que têm dupla nacionalidade, já são considerados luxemburgueses, já não estão nas estatísticas dos portugueses. Olhando para esse número, ele aumentaria significativamente. No Luxemburgo, “nós somos 24% da população estrangeira”. A população estrangeira no seu todo são 49% da população geral, por isso aqui “dá-nos uma grande competência ou grande número porque somos 24% da população estrangeira.” “Somos os que não têm dupla nacionalidade,” porque os outros com dupla nacionalidade já estão do lado da população luxemburguesa.
“Somos um grande número de portugueses e cada vez seremos mais. Porque os outros lusodescendentes continuam a aumentar.” O Luxemburgo ainda tem os que falam português. Não perdem a sua língua materna, e por isso, é um país onde diariamente e a toda a hora se ouve falar português.
Como é que são tratados os imigrantes de uma forma geral por parte do Governo luxemburguês?
As leis são para todos. Não existem leis para portugueses ou leis para qualquer outra nacionalidade. Existem 176 nacionalidades no Luxemburgo e a legislação é para todos de igual forma. Mas em termos de população, em termos culturais, no dia a dia, pode-se encontrar alguém que possa não gostar tanto dos estrangeiros ou de uma ou outra nacionalidade. Em termos de legalização, não há exceção. Inclusive, há uma proibição que, no registo estatístico administrativo, exista admissão do país de nacionalidade, para evitar essa discriminação.
O que é que aponta mais negativo no Luxemburgo?
Às vezes “custa-nos um bocadinho apontar coisas negativas, porque primeiro, tenho a minha família toda no Luxemburgo, filhos e netos, e estão bem e gostam de estar no país. Por isso tenho muita dificuldade de apontar situações negativas. Não quer dizer que não haja pessoas que se calhar vão contrariar completamente a minha opinião. Mas eu tenho muita dificuldade de encontrar algo negativo. Sinceramente, gosto de tudo. Também sei que e é verdade que há 23 anos, no Luxemburgo, havia coisas que se calhar eram melhores. Hoje já há um bocadinho mais de dificuldades ou o “paraíso” está-se a começar a dissipar, mas, de forma direta, entre saúde e educação, tenho dificuldade de criticar de forma negativa o Luxemburgo.”