Raquel Madeira é portuguesa, natural de uma pequena zona no Concelho de Pombal em Paço, e atualmente vive o mundo dos Xeiques, no Catar. Sempre gostou de fazer desporto, e esteve ligada à área, onde fez a sua formação académica na Escola Superior de Desporto de Rio Maior, tendo-se licenciado em Condição Física e Saúde no Desporto. Desde pequena que sempre sonhou em ter uma experiência internacional.
Tem família emigrada nas mais diversificadas geografias, nomeadamente em França e na Suíça, mas o seu sonho era emigrar para um país onde se falasse inglês, pois não dominava a língua. Do sonho à realidade foi um longo caminho e teve que enfrentar alguns obstáculos, mas a sua condição física e mental sempre a levaram a conquistar o que mais almejava, e assim prossegue a vida desta portuguesa.
Quando terminou a sua formação académica esteve a trabalhar em Santarém, três anos, mas perdeu esse trabalho e mudou-se para Lisboa, Oeiras, para uma cadeia de Ginásios, mas não se sentia feliz, e deu-lhe ainda mais vontade de emigrar. Tinha aulas de inglês, mas não se sentia realizada pois não praticava. Esteve a trabalhar em dois lugares distintos, em Oeiras e Cascais e em conversa com colegas, um deles disse-lhe que um amigo estava em Londres e que estavam à procura de Personal Trainers, mulheres, para trabalhar nesse ginásio, tinha na altura 22/23 anos.
Concorreu, mas não dominava na altura o inglês, e foi chamada para uma entrevista na capital inglesa, em janeiro de 2013. Não percebeu nada da entrevista, estava perdida, pois o inglês era insuficiente, e o dono do ginásio disse-lhe que o inglês não era suficiente, e não conseguiu o lugar.
Regressou a Portugal e retomou o trabalhou na área e juntou o máximo de dinheiro possível e voltou para Londres, sem trabalho, nem perspetivas, lançando-se à aventura.
Ficou na casa de um amigo de outro amigo no início, esteve uns dias com eles até conseguir um lugar para morar e foi em busca de emprego.
Esteve a trabalhar três meses num restaurante, que lhe permitiu melhorar um pouco o inglês, conseguiu juntar algum dinheiro e foi fazer a certificação de inglês e voltou ao ginásio onde havia ido à primeira entrevista, passados cinco meses de ter ido a essa entrevista e como o inglês estava melhor, conseguiu ficar a trabalhar nesse ginásio.
Tentou a todo o custo melhorar o inglês em Londres, fez vários cursos, na área onde trabalhava e surgiu uma oportunidade em Abu Dabi, Emirados Árabes Unidos, pois precisavam uma “Coach” profissional para trabalhar na casa de uma família.
O seu trabalho seria dar treino à senhora e aos filhos na casa deles. Mudou para o médio Oriente em inicio de 2006, onde trabalhou na casa dessa família árabe, dentro da propriedade deles, a dar treinos às crianças e à mulher, e dar aconselhamentos de nutrição.
Esteve lá um mês e pouco, e logo percebeu que não era o mais indicado para ela, o fato de estar numa casa com cultura árabe foi um choque para ela, pois não se conseguia identificar, e também porque não tinha o seu próprio espaço, tendo pesado na sua decisão, e saiu.
Foi procurar trabalho noutro sítio, tinha um visto de permanência de três meses e durante esse tempo tinha de arranjar emprego.
Conseguiu arranjar um lugar num ginásio a desempenhar as funções de Responsável das aulas de grupo do ginásio, em Abu Dabi. Ficou lá um ano, adorou a experiência. Nesse período engravidou e decidiram voltar para Portugal, a filha nasceu em terras lusas e passados dois anos, continuo achar que não queria ficar por cá e tinha vontade de crescer, e o país não lhe proporcionava a realização dos seus sonhos e ambições.
Durante algum tempo permaneceu em Portugal e continuo a dar aulas de grupo, durante a gravidez, como treinadora, no sistema de Personal Trainer. E por cá ficou dois anos. Mas a vontade de “voar” mais alto, levou-a a enviar currículos um pouco para todo o lado. Tinha uma amiga que trabalhava no Catar numa empresa, e nessa empresa estavam à procura de uma pessoa como Personal Trainer para aulas de grupo, e como já tinha estado no Médio Oriente, e muita experiência acumulada, 10 anos, foi para o Catar com o marido e a filha, em novembro de 2019, depois deu-se o Covid, e entrou-se em quarentena e fechou tudo.
“Ficámos sem trabalho, durante uns meses, sem receber, e depois pouco a pouco, as coisas foram mudando. A empresa quebrou o contrato que tinha connosco, ofereceu-nos outro contrato.”
Todavia não era o que Raquel ambicionava, e começou pouco a pouco a dar treino a uma pessoa, e depois sucederam-se outras. Também enveredou pelo trabalho online, na altura em que não se podia estar com pessoas. E depois a dar treinos, ao ar livre, nos parques, porque os ginásios ainda estavam fechados. “Vai fazer 5 anos, que estou aqui e tenho cerca de 15 a 20 clientes.” Conta orgulhosa.
Neste momento vai à casa das pessoas, na qualidade de treinadora particular, e dá lá as aulas quer seja em casa, ou no ginásio nos prédios onde vivem.
Choque cultural
“Se tivesse vindo da realidade de Portugal, diretamente para o Catar, o choque não seria tão forte, mas como vinha de Londres não foi bem assim, isto porque em Londres a realidade é outra e vê-se coisas que nem em Portugal se imagina que existe. Nem na faculdade vi coisas como em Londres, não quer dizer que me chocaram, mas que me abriram horizontes porque não estava à espera, e depois vou para um país onde, aparentemente, não há essa abertura, onde na minha cabeça, as mulheres não podem vestir o que gostam, não podiam fazer o que lhes apetecesse, e estariam controladas, pois não se podiam comportar à sua maneira, mas dentro dos “limites”, e dentro do “respeito” daquilo que é cultura Árabe.”
“Mas o mundo Árabe não é todo igual”, refere Raquel, há países onde há não há abertutra e há outros onde há mais abertura e até uma certa “aproximação” ao Ocidente.
No Catar nunca se sentiu obrigada, ou melhor, ninguém é obrigado a usar a Baia. Ninguém é obrigado a cobrir o corpo, pode-se ir a um hotel e vestir um vestido curto, ou ir a um sítio onde é possível esse tipo de coisas, mas “eu não me sinto confortável, porque sei que vou gerar atenção que não pretendo gerar e não quero sentir-me desconfortável.”
Portanto, nos dias de hoje “já não visto determinadas coisas”, não tem a ver com o outro, tem a ver “comigo porque vou sentir-me “desajustada”. Vou à praia de biquíni, a um hotel e usar uma saia curta.” Obviamente “que não posso ir a uma Mesquita”, que é um local religioso. “Penso que nós nos vamos moldando um pouco às regras e às e a cultura do país”.
Respeita o Ramadão, e se estiver a dar treino a alguém que durante o dia não está a comer e a beber “por respeito, não vou comer.”
No que toca à língua Árabe, “estou aqui há cinco anos, percebo algumas coisas, mas não sei ter uma conversa em Árabe. Mas estou a aprender.”
O Balanço dos cinco anos no Catar e a visão dos Cataris sobre os portugueses e Portugal
De uma maneira geral Portugal está muito bem visto. Em termos mundiais e porque a experiência de ter vivido em três países diferentes, considera que Portugal está muito bem “posicionado”. Nunca sentiu discriminação, até pelo contrário, “quando eu digo que sou de Portugal, sinto sempre um orgulho enorme”. As pessoas associam muito Portugal a Cristiano Ronaldo e adoram futebol.
Consideram os portugueses muito trabalhadores. “Nós realçamos a nossa qualidade e o nosso trabalho, porque é assim, que somos educados. Considero que em geral é uma forma muito boa e muito positiva a maneira como nos vêm.”