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Domingo - 16 Fevereiro 2025

EXCLUSIVO: As várias facetas de Filipe Lá Feria, um encenador de duas mãos cheias de talento

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Serpa, Aldeia Nova de São Bento (hoje Vila Nova de São Bento), 17 de maio de 1945), foi onde veio ao mundo o melhor encenador português, Filipe Lá Feria. “Lembro-me perfeitamente, fiz lá a escola primária, portanto, acho que já nasci com esse dom do teatro, porque eu achava que tudo era um teatro.” Tem presente de estar a ouvir as conversas dos seus familiares, e mesmo dos empregados. “Eu adorava estar a ouvir que já achava aquilo uma “representação”. Nunca percebeu muito bem onde começa a verdade e quando começa a mentira, portanto, vivia mais na fantasia do que na realidade e já fazia teatros quando ia de férias”. Depois os pais mudaram-se para Lisboa. “E no quintal da minha avó organizava teatros”, e cobrava pelos 25 tostões por pessoa, “fazia ali teatros e cinema, aquilo era uma animação todas as tardes.”

A sua carreira e atividade teatral, começou em 1963, como ator no Teatro Nacional, com Amélia Rei Colaço tendo ainda integrado as companhias do Teatro Estúdio de Lisboa, Teatro Experimental de Cascais e Teatro da Cornucópia. Foi diretor do Teatro da Casa da Comédia, durante 16 anos, onde encenou, entre outros, “Faz Tudo, faz tudo, faz tudo!”, “A Paixão Segundo Pier Paolo Pasolini”, “A Marquesa de Sade”, “Eva Péron”, “Savanah Bay”, “A Bela Portuguesa”, “Electra” ou a “Queda das Máscaras”, “Noites de Anto” e “A Ilha do Oriente”, revelando autores como Marguerite Yourcenar, Mishima, Marguerite Duras ou Mário Cláudio.

Sempre soube o que iria ser quando fosse grande. A sua família tinha muitas propriedades, era uma família abastada e teve a sorte de nascer nesse seio, o que lhe permitiu uma educação como poucas pessoas tinham.

Começou como ator no Conservatório, pertencia às melhores companhias portuguesas do Teatro Nacional, “quando havia teatro nacional em Portugal, porque agora não há.” Lamenta Filipe Lá Feria.

Estudou em Londres, teve uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian. Em terras de sua Majestade a sua aprendizagem foi muito centrada a ver teatro, “via muito teatro”. “A Bolsa era muito pequenina e tive que servir à mesa num Restaurante, felizmente esse lugar era frequentado pelos maiores atores de Londres, e eu tinha bilhetes grátis, ia quase todas as noites ou todas as semanas ao teatro.”

Ator ou Encenador?

Era bom em tudo, era um bom ator, “até fui premiado, ganhei um prémio em Barcelona”, pertencia às melhores companhias, não só nacional, ou experimental, o Teatro Estúdio de Lisboa, o Teatro Experimental de Cascais, à Casa da Comédia, que mais tarde dirigiu durante dezasseis anos. Foi doze, ou dezasseis anos ator. Teve muita sorte porque fez grandes papeis, tinha muito boa figura por isso “fui um grande galã”, e deram-lhe sempre papeis de destaque. Mas o seu sonho era escrever, fazer os guarda-roupa, fazer os cenários, fazer tudo.

Neste momento, está com dois projetos, “tenho que estrear pelo menos duas peças, uma vez que tenho em mãos duas grandes responsabilidades, o Teatro Politeama e um Transatlântico, é uma empresa com mais de 120 elementos, trabalhadores, e tem sempre muito público. “Não tenho subsídios, nem concorro aos subsídios do Estado. Eu não concordo com a política cultural em Portugal. Acho que o 25 de Abril não chegou à cultura. “Sou um lutador, todos os dias tenho que matar um leão. Às vezes é um Jardim zoológico, não um leão.”

Foi diretor da casa da Comédia durante 16 anos. Onde apresentou grandes espetáculos, alguns históricos do teatro português. Começou a ser encenador. É uma vida totalmente dedicada ao teatro por dia, 24 horas.

Foi condecorado Comendador com a Ordem do Infante D. Henrique pelo Presidente da República, Dr. Mário Soares e em 2006 recebe nova condecoração, a Grã-Cruz da Ordem do Infante, atribuída por outro Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, tendo ainda sido condecorado com a Medalha de Ouro da cidade de Lisboa.

Ganhou os Globos de Ouro dos melhores espectáculos com “Amália” no ano de 2000, “My Fair Lady” em 2003, “Música no Coração” em 2006 e “West Side Story” em 2009.

Como vê o Teatro em Portugal?

“Vejo a cultura muito mal em Portugal”. “Não temos nada, não temos um Teatro Nacional, não temos um teatro de ópera, não temos um teatro”. A companhia nacional de bailado há 14 anos que não não admite bailarinos, “isto é um país atrasado, atrasadíssimo, mas basta ver como falam os nossos políticos para ver que pessoas são, não são pessoas da cultura, são pessoas do futebol.”

“Imagina os nossos políticos ir a uma exposição, a um concerto, a um Balé, eu não imagino”. Ironiza Filipe La Feria. É uma falha horrível. Porque o que faz um país é a sua cultura, o que fica “no país e na história não são as contas, a economia, nem os estádios de futebol, o que vai ficar é a nossa Cultura.” Desabafa Filipe La Feria.

Estima-se que tenha encenado mais ou menos 51 peças, mas ele pensa que talvez mais. Desde os 16 anos que trabalha. Não tem momento de reflexão ou pausa está constantemente a trabalhar em prol da nossa cultura. Dizendo mesmo: “Estou sempre a acenar.”

O que é que gosta de fazer para além do Teatro?

Responde prontamente:“Teatro, gosto de viver, gosto de conhecer o ser humano, gosto de ler. Eu estou próprio, escrevo, sou um dramaturgo, quase todas as peças são escritas por mim. E isso leva-me a evoluir como ser humano, porque cada peça obriga a uma enorme pesquisa, uma grande procura.”

Neste momento tem um enorme êxito que é “Laura o Musical”, que retrata a vida da grande Atriz Laura Alves e do seu tempo, também da destruição do teatro monumental, que era o teatro mais importante da cidade de Lisboa. Agora é um Banco, não é um Banco cheio de espelhos, “é um crime refletido, que tem tantos espelhos.”

Também gosta de estar com a família, com os amigos, tem três netos, e gosta muito de estar com eles. Gosta de ler, sobre tudo e gosta de viver, e sobretudo do teatro.

Também gosta de ler não só dramaturgia, “já li muito na vida. Tive o privilégio de ter tido uma boa educação.” Neste momento tem três espetáculos, um no Porto e dois em Lisboa – “A Bela Adormecida”, que já conta com 300 representações, que é o Teatro para toda a família – e “Laura o Musical” que já está há oito meses.

No Porto tem um espetáculo diferente. “A Revista volta ao Porto”, que é top de vendas de todos os espetáculos, incluindo concertos de Rock, “Mamamia”, e a queima das fitas. Está à frente disso tudo. É o Top de vendas.

Cidade ou país predileto

Portugal, sem hesitar, “sou português, nós amamos e odiamos Portugal, mas o amor também tem esse claro/escuro.” Também gosta muito de Nova Iorque, “eu acho que quando voltar aqui, vou dizer ao São Pedro que só volto se for para a Broadway”. Para para nascer lá. Eu podia ter uma carreira mais Internacional, tive convites para isso, mas temos sempre este amor a Portugal e esta é a nossa terra.”

Mensagem aos emigrantes

Que não se esqueçam de Portugal, que amem Portugal, que compreendem como um país muito pobre, com muitas limitações, mas o povo português tem uma alma do tamanho do mundo. É por isso que “descobriu todo o mundo”. Também tem o seu lado sombrio, o seu lado de inveja o seu lado de mesquinhez e pequenez, mas é uma alma de poeta, uma alma grandiosa que o faz sonhar, “não deixem de sonhar e sobretudo aproveitem a vida, porque o grande milagre é a vida.”

E para finalizar realça que os turistas que vêm aqui para ver os espetáculos. As peças são traduzidas em várias línguas simultaneamente, são legendas em Inglês, Francês, Espanhol, etc. E os emigrantes vêm de todo o mundo. “Também tenho uma escola para cursos de verão, entre os meses de junho a agosto.” Deixando em aberto mais dois trabalhos a terminar não se sabe quando, ainda está no segredo dos Deuses. Cá aguardaremos para mais emoções e sorrisos rasgados, ao estilo de Filipe La Feria.

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