Jorge Reis nasceu em Moçambique, foi para Portugal com cinco para terra do seu pai, uma aldeia perto de Fátima, e foi lá que fez a escola primária e secundária, num colégio daquela localidade. Por questões familiares, empregos dos pais, mudaram de sítio várias vezes. “Estivemos em Mafra, e mais outros três sítios diferentes”. Acabou o secundário e apesar de ter entrado na Universidade, concorreu e entrou num curso de formação profissional que a TAP estava a fazer. Era um curso especializado de formação e dar certificação, àquilo que se chama em Portugal de Técnicos de Manutenção de Aeronaves, de Aviões. São os profissionais que fazem a manutenção e mantêm a segurança dos aviões em geral nas Companhias Aéreas.

Passou e viveu em muitos países diferentes quer na Ásia e noutras geografias, aprofundou conhecimentos académicos, onde desempenha atualmente uma boa posição numa companhia, que por motivos profissionais não pode revelar.

Tudo começou em finais dos anos 80 e inícios de noventa. Concorri ao curso da TAP em 1988 e foi aceite. Esse curso tinha uns trâmites legais, que eram regulados por lei internacional, hoje pelas leis europeias, mas em Portugal na altura, era só a nível nacional, que o habilitou obter uma licença de Técnico de Manutenção de Aeronaves. Uma licença profissional que é exigido e que autoriza a fazer certo tipo de operações de manutenção. É um documento essencial nessa atividade. Foi um curso intensivo de dois anos, que era dado pela própria TAP, na formação Profissional. Depois acresce a esses dois anos do curso dois anos de experiência, que teve direito a essa licença de manutenção.

Durante cinco, seis anos trabalhou na TAP, desde 1988, até meados de 1995, mais ou menos cinco anos a trabalhar na TAP.
Em 1995, foi o ano que se concluiu a construção do Aeroporto de Macau, e foi fundada a companhia de Aviação Air Macau. Que tinha na altura capitais da TAP, e doutras empresas, havia pessoal português lá a iniciar e estavam à procura de pessoas “na minha área”, e noutras áreas também, como Pilotos, Assistentes de bordo, e outros.

“Concorri” para ir para lá, e foi contratado, sem grande planeamento, sem grande plano a longo prazo, decidi deixar a TAP e fui para lá”. Foi para Macau em outubro de 1995, antes da chegada do primeiro avião. “Fomos os primeiros juntamente com um grupo da China a tomar a dianteira da empresa, fazer a manutenção.”
Inicialmente a empresa era pequena, mas cresceu muito rapidamente, deu-lhe algumas oportunidades e possibilidades de progressão na carreira, “rapidamente passei a fazer a ter funções para além daquilo que me tinha especializado, e acabei por me inscrever numa Universidade para uma formação superior, para me dar mais competência nas áreas que eu estava a desempenhar”, nas áreas de gestão, dos departamentos que “comecei a ter responsabilidade e foi aí que fiz um curso Bacharelato em Gestão de Aviação, Aviation Management”.

Posteriormente com o balanço de ter feito isso, acabou por tirar um mestrado numa outra Universidade na City University de Londres, em Segurança Aérea: Aviation Safety Management, Gestão de Segurança Aérea.
Tirou esse mestrado enquanto estava a trabalhar na Air Macau durante seis anos, e por volta de 2001, onde se encontra agora. Mas prefere não revelar o nome da empresa.
Foi trabalhar para uma empresa de construção de Aviões, uma empresa europeia no âmbito da construção destas aeronaves. Concorreu ao serviço de apoio a clientes dessa empresa, com o intuito de dar apoio na área técnica a companhias aéreas que operavam esse tipo de aviões dessa empresa, isso em 2001.
O seu trabalho é um pouco deslocado, “não trabalho na sede, mas trabalho nas instalações das companhias aéreas que são nossos clientes e dão-nos um apoio de bastidores, de aconselhamento técnico, aos departamentos de Engenharia dessas companhias aéreas.” Explica Jorge Reis.
Este tipo de trabalho exige que “me desloque onde estão esses clientes, para onde os clientes operam.”
E por vezes está deslocado alguns meses e outras vezes chega a estar deslocado anos. Foi isso que o levou pela segunda vez a viver em Hong Kong, “já estive em vários países, já passei no Sri Lanka, na Malásia nos Emirados Árabes Unidos, estive em Macau.”
“Exerço funções em providenciar apoio pós-venda aos clientes, e das necessidades das empresas, daí estar agora deslocado em Hong Kong, e daqui, se tudo correr bem ir para outro lado, para outro país.”
Neste momento dá aconselhamento técnico, Field Service Manager, uma espécie de apoio técnico pós venda, “não sou eu quem vai fazer apoio técnico, são as companhias que vêm ter connosco e nós damos esse aconselhamento direto para os nossos serviços centrais, que são maioritariamente em França.”
“Também recolhemos dados de operação, de fiabilidade e fazemos relatórios técnicos, que ajudam à empresa se aperceber de situações emergentes, ou que têm que se desenvolver, também desempenhamos uma função de promoção de serviços que temos, porque nós para além de vendermos aviões temos outros serviços, software etc.”
Neste momento “estou a dar apoio a várias companhias aéreas de Hong Kong, há várias aqui, seis companhias aéreas e eu dou apoio a três dessas companhias aéreas, incluindo a maior delas.” Revela Jorge.
Mas recuando um pouco no tempo, “vim parar a esta forma de vida lá bem atrás e partiu numa conversa com um colega na altura, e que está nesta empresa agora, estávamos a falar em Macau, a construção do aeroporto de Macau estava a ser concluída, e no fim da conversa, rapidamente nos apercebemos que iriam precisar de mão de obra.”
O “meu colega que vivia no centro de Lisboa, e passou em frente à Missão de Macau em Lisboa, foi lá perguntou sobre o assunto que o levara ali, e deram-lhe um contacto, o número de fax, estávamos em 1995, ele deu-me o contacto o nome e o número do fax.”
Pegou no currículo e enviou-o, passadas poucas semanas recebe um telefonema de uma pessoa que trabalhava na TAP, “estávamos em julho, e perguntou-me se eu estava interessado em ir trabalhar para Macau, e disse-me que era para estar em Toulouse dali a umas três, quatro semanas, para fazer o curso do Avião, o curso de fiscalização do avião, estavam a oferecer a posição e perguntar se eu podia estar em Toulouse. Já estava nos quadros da TAP, mas o que eles me ofereciam era muito mais atrativo do que o que a TAP me estava a pagar.”
Era solteiro não tinha ninguém a “meu” cargo e foi “um pouco à aventura. Nem pensei duas vezes, já tinha tomado a minha decisão.”
Foi uma conjunção de coincidências, o processo foi muito acelerado, porque estavam a iniciar o projeto. Foi uma aventura, porque não sabia se o projeto se iria manter. Na altura vieram também outras pessoas da TAP e de outras companhias aéreas de Portugal, alguns deles com famílias correndo um maior risco.
“O risco, para mim, era calculado”. Nesta empresa, as decisões onde me encontro presentemente já foram mais ponderadas, havia pessoas da Air Macau, porque também tinha aviões dessa empresa. “Fui o primeiro português a ser contratado diretamente para esta função”. Havia um outro português a fazer as mesmas funções mas era subcontratado. “Depois de mim vieram outros colegas meus que estavam na Air Macau na altura, e que acabaram por se juntar a esta empresa. Somos um grupo de portugueses mais ou menos com o mesmo trajeto.”
A Visão dos Chineses em relação aos Portugueses
Já “estive em vários países onde havia comunidades portuguesas de maior ou menor expressão, em regra somos respeitados como outra qualquer nacionalidade”, “é o que eu vejo”, são pessoas bem conceituadas nas várias áreas. “Vejo colegas meus a fazer estas mesmas funções e até mais elevados, há pilotos, outras áreas muito diferentes, mas a visão é de competência, ética de trabalho muito boa, e reconhecimento por parte das outras pessoas.” Mas também “não podemos por todas as pessoas no mesmo saco, mas é o que eu vejo.”
Portugal tem capacidade para construir as suas próprias aeronaves?
“Sim, claro!” O problema é o financiamento, não temos tradição em muitas outras áreas industriais, não é por falta de know how, conhecimento, e até de número de pessoas qualificadas. “Já estou a trabalhar há vinte e três anos anos nesta empresa, éramos muito poucos, mas hoje em dia temos um escritório em Portugal, e estamos em contacto direto”. ”Há empresas que estão a fazer construção de aviões, ou partes da aeronave. Em Portugal temos em Beja, a Embraer e com outras empresas, que estão a fazer no norte do país fazem-se peças para aviões com a Airbus Atlantic, e penso que há outras empresas a operar em Portugal.” Fazer um avião de raiz em Portugal, já houve alguns projetos de alguns investidores estrangeiros que quiseram fazer, “não sei se neste momento se tenham estabelecido em Portugal, mas não será por falta de conhecimento, ou de talento, será mais por falta de investimento. “Não sei se caberá ao governo facilitar, penso que será uma iniciativa privada.”
