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Terça-feira - 11 Novembro 2025

EXCLUSIVO: Carolina Rendeiro, visionária, já trabalhou em 34 países, estudou em Portugal e nos Estados Unidos

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Conselheira da Diáspora Portuguesa, Carolina Rendeiro, tem uma experiência internacional de mais de trinta anos. Fez a sua formação académica entre Portugal e os Estados Unidos, o que lhe permitiu alargar horizontes. Oriunda de uma família de pais imigrantes, nascida nos Estados Unidos, em casa falavam sempre em português, sendo a língua de Camões a sua primeira língua. Concluiu os estudos nos Estados Unidos e depois veio para Portugal, onde também estudou.

“Foquei-me nas línguas não com o intuito de ensinar, mas sempre tive interesse em ser intérprete, ou em utilizar as línguas em oportunidades de negócio internacionais, o que, ao longo dos anos, consegui fazer com sucesso.” Refere.

Veio para Portugal depois de concluir os estudos na América do Norte. Queria continuar os estudos em Portugal. Passou todos os verões em Portugal desde os 8 anos, por isso já tinha uma boa noção de como era o dia a dia – “comecei a vir em 1960 e regressei definitivamente em 1969, com 18 anos.” Foi uma mudança drástica, pois tinha mais conforto no quotidiano nos Estados Unidos, mas nunca viu isto como um desafio, mas como uma oportunidade para aprender. Uns anos mais tarde, ocorreu a Revolução e ficou em Portugal até 1979.

Regressou aos Estados Unidos com a filha, pois sabia que teria mais oportunidades de trabalho e de garantir o seu sustento. Quando regressou aos EUA, trabalhou durante 6 anos numa empresa, recorrendo às línguas e à experiência que tinha acumulado ao longo dos anos.

“Acabei por ser despedida por motivos de saúde e, em 1986, decidi criar o meu próprio negócio”, descreve a empreendedora, – nunca se arrependeu dessa decisão. A desilusão por perder um emprego onde se destacava, transformou-se numa oportunidade: fundou um dos seis negócios que teve ao longo da sua carreira nos Estados Unidos. Trabalhou em 34 países, o que, “para mim, filha de imigrantes que trabalharam numa fábrica durante 30 anos, é uma verdadeira realização dentro dos valores com que fui educada.” Explica.

Existe uma grande diferença entre trabalhar em Portugal e nos Estados Unidos. Nos EUA formam os colaboradores para desempenharem várias funções de modo a garantir que, durante ausências por férias ou doença, a equipa continue a funcionar normalmente. Ao mesmo tempo, isso permite que o colaborador cresça dentro da empresa, ou seja, promove-se internamente uma liderança futura. Em Portugal, tendo trabalhado cá nos seus primeiros anos e agora em projetos com empresas norte-americanas, nota que os colaboradores tendem a trabalhar de forma isolada, o que pode atrasar resultados e, por vezes, desencorajar outros a contribuir para o crescimento da empresa ou para o seu próprio desenvolvimento profissional. As coisas estão a mudar e tudo leva o seu tempo. “Sinto que os novos cursos nas universidades são um grande passo para a força de trabalho atual e futura de Portugal,” salienta Carolina Rendeiro.

Os portugueses são trabalhadores dedicados, humildes e honestos. Alguns podem sentir-se pouco valorizados e limitar-se a cumprir o seu trabalho. Nos Estados Unidos, os colaboradores são incentivados pelas empresas: os salários são mais elevados e sentem-se reconhecidos. Com o tempo, isso também mudará em Portugal, como estão a mudar atualmente nos EUA: o custo de vida é elevado e os salários nem sempre acompanham, o que tem gerado descontentamento na força de trabalho.

A concorrência é muito intensa nos EUA, “somos ensinados desde cedo, na escola, a ser competitivos, seja no desporto, nas artes, na cultura – em todas as áreas do quotidiano. Não vejo isso como algo negativo. Quando a competitividade é partilhada em equipa no trabalho, surgem novas ideias e oportunidades a partir dos desafios, e é assim que os colaboradores crescem individualmente e constroem uma cultura empresarial sólida.” Esclarece.

Enquanto empreendedora, nos últimos 39 anos tem sido reconhecida internacionalmente como uma líder no empreendedorismo comunitário e no desenvolvimento de negócios globais. Trabalha com startups e PME para estabelecer parcerias estratégicas nos EUA, América Latina, Europa e Médio Oriente.

“Lancei a primeira incubadora de empresas em Coral Gables, na Florida, durante a era da bolha tecnológica, em parceria com a IBM e a Darby Investments, criando o Darby Technology Center para empresas como a Salutia.com e a Submarino, da América Latina.” Exemplifica, continua a fazer consultoria a empresas que procuram entrar no mercado norte-americano e no mercado europeu.

O motivo principal para regressar a Portugal é, sem dúvida, a qualidade de vida. Além disso, existem muitas oportunidades de negócio que se pode aproveitar com a sua experiência e rede de contactos. Mas a verdadeira razão é esta: “desde que me lembro, fui educada com valores portugueses num país que era estrangeiro para os meus pais. Por isso, costumo dizer que tenho um coração português e uma mentalidade americana no que toca ao trabalho,” destaca.

Portugal tem um talento extraordinário na sua mão de obra, que não deveria ter de sair do país à procura de melhores oportunidades. “Somos uma população envelhecida e gostaria de ver os nossos talentos permanecerem no país.” Mas, para isso, é preciso haver melhores salários e mais oportunidades de crescimento pessoal e profissional. É também fundamental que o empreendedorismo comece a ser ensinado mais cedo, o que permite pensar de forma estratégica.

“As universidades deveriam convidar pessoas como eu – e há muitas disponíveis – para partilharem experiências reais: como criar um negócio, migrar para outro país, enfrentar desafios culturais e éticos no trabalho. É importante saber que um empreendedor pode falhar na sua primeira tentativa – o fracasso faz parte do processo. É uma lição aprendida e, muitas vezes, novas oportunidades nascem dessa experiência.” Termina Carolina Rendeiro.

Jornal Comunidades Lusófonas
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