O calçado português não é apenas “sexy” como alguém na União Europeia apelidou, é um dos nossos cartões de visita ao mundo e para o mundo. Alguém tira partido disso, de salientar as empresas Holandesas que o exportam para todos os países e lhes dão maior visibilidade. A Centenário, marca de calçado desde 1941, da empresa Camilo Martins Ferreira e Filhos Lda, foi fundada pelo avô de Hugo Ferreira, Diretor Comercial da empresa, quando tinha apenas 17 anos. O Jornal Comunidades esteve à fala com
este empresário da terceira geração e fez-nos uma radiografia sobre as marcas Centenário e Lastsole.
Antes de abrir o seu próprio negócio o avô de Hugo Ferreira, trabalhava numa gráfica, decidindo depois enveredar na arte dos sapatos.
A empresa Camilo Martins Ferreira & Filhos, Lda, atualmente conhecida pelas suas marcas “Centenário” e “Lastsole”, iniciou a sua atividade, a vender apenas em Portugal, com poucos funcionários, e o negócio foi crescendo. A Europa estava em guerra, mas aqui, apesar de estarmos em plena ditadura, o país ia andando, “como Deus queria”.
O seu avô como gostava de “artes manuais” começou a fazer uns modelos, e o sucesso começou a vir ao de cima, até que teve de mudar de instalações, para umas maiores, e decidiu construir uma fábrica ao lado da casa dele.
Ampliou uns anos mais tarde essa mesma fábrica. Entretanto os filhos e o genro entraram também na empresa, a segunda geração. Em 1984, foram construídas as novas instalações, visto que as anteriores já não serviam o propósito do negócio, e no sítio onde estavam já não era possível uma nova expansão. Em 2003 ampliaram a nova unidade fabril para o dobro do tamanho. As coisas continuaram a correr de vento em popa.
As exportações começaram a tornar-se relevantes nos anos 90, e também se começaram a participar em feiras, como foi o caso da Exponor. Conseguiram arranjar entre outros um bom cliente Holandês. Estes são dos grandes responsáveis pelas vendas de calçado a nível europeu. “E muito do que eles vendem é produzido em Portugal, para várias marcas de renome internacional.” Refere Hugo Ferreira.
Continuaram a fabricar para esse cliente até aos dias de hoje, e a partir daí e com a abertura das portas da exportação, começaram a ganhar outros clientes, noutras feiras internacionais, nomeadamente a Micam. Desde há muitos anos que participam nessa feira, que é a maior ao nível do calçado a nível internacional. “Fomos fazendo contactos com outros países”, com outros clientes, e continuaram a exportar.
Atualmente cerca de 95 % da produção é para exportação, sendo os principais mercados a Holanda, os Estados Unidos e a Espanha.
Entretanto foi introduzido um novo sistema de fabrico, o Goodyear Welted. Um processo inventado nos Estados Unidos, que é tido como o mais conceituado processo de fabrico de calçado a nível mundial.
O seu pai, Domingos Ferreira, anos mais tarde, considerou que seria uma mais valia produzir sapatos de Golfe no método Goodyear.
“Os Estados Unidos são os nossos maiores compradores destes sapatos, pois valorizam muito esse processo de construção.”
A marca Centenário dedica-se a calçado clássico de alta qualidade, e a Lastsole é uma marca de calçado desportivo, também de elevada qualidade e muito focada no conforto, direcionada para o consumidor mais jovem.
Há cerca de 8/ 9 anos com o “Boom” dos sneakers, sentiu-se a necessidade de ir ao encontro das pretensões do consumidor, e foi desenvolvida a marca “Lastsole” para colmatar a lacuna que tínhamos, dado que a gama de produtos da “Centenário” era mais clássica e urbana.
As Exportações em números
As exportações estão na ordem dos 5 /6 milhões de euros por ano. “Este ano tem sido mais difícil, motivado pela quebra das exportações pós-Covid e da acentuada crise económica. Comparativamente com os anos anteriores, estamos um pouco abaixo dos objetivos.” Diz Hugo Ferreira com alguma preocupação.
“Quando pensávamos que nos tínhamos livrado da pandemia, aparece uma guerra à porta que veio estragar as expectativas todas.” Dado a esse facto os mercados estão a retrair-se. Paralelamente o preço da energia e das matérias-primas estão muito elevados.
Tendo em conta que exportam muito para o mercado europeu, notam uma alteração muito grande ao nível de consumo.
“As pessoas têm receio de gastar, não sabem o dia de amanhã. No mercado interno, também se nota uma grande retração. Há cada vez mais sapatarias, que eram nossas clientes há muitos anos, a fechar ou a comprar menos. Vamos ver se o segundo semestre vai ser melhor que o primeiro.”
Em tempos, fomos convidados a fornecer o calçado para os atores de um filme para o cinema. Infelizmente o “timing” não foi o mais adequado, “e decidimos não participar.”
Atualmente, vários pivôs, jornalistas e outras pessoas ligadas á televisão calçam “o nosso calçado”. Nomeadamente na RTP, RTP internacional e SIC.
No que se refere aos emigrantes portugueses, fazemos através dos nossos websites, algumas vendas para vários pontos do globo, principalmente para a Alemanha e Suíça.