Catarina dos Santos nasceu há trinta anos em Lisboa, a mãe é portuguesa, e o pai alemão. Estava na força aérea em Beja, quando conheceu a mãe de Catarina. Voltaram para a Alemanha quando esta tinha meses de idade, e nunca frequentou a escola em Portugal. Fez os seus estudos perto de Colónia, no sítio onde mora. Licenciou-se em direito na mesma cidade, e trabalhou como advogada. Há três anos entrou para o Parlamento Alemão.
“Nunca foi planeado ir para essa área”, confidencia a deputada. Gostou muito de trabalhar como advogada, tendo exercido as suas funções no direito fiscal e direito de empresas, e foi durante os seus estudos que entrou no partido. Um amigo de escola que encontrou no comboio, foi o responsável na mudança da vida de Catarina, que agora se dedica exclusivamente à política, como deputada no Bundestag.
Começou a trabalhar na área de política ao nível regional que gostava mais, entrou e ficou e fez como muitas pessoas fazem: só como hobby. Trabalhou como advogada e nos seus tempos livres “fazia” política comunal, e mais tarde entrou no City Council. E por coincidência ou não, houve uma pessoa que lhe perguntou se queria candidatar-se ao Parlamento, e como nunca tinha pensado no assunto, foi uma surpresa. “Não tive muito tempo para decidir, apenas 24 horas! “Foi um dia espetacular” em abril de 2021.
É como uma espécie de relação afetiva: “Estava muito envolvida na política”. Gostou muito de fazer esse trabalho ao nível regional, e muitas questões lhe vinham ao pensamento: “Será que posso mesmo concorrer para o Parlamento? Será que eu posso trabalhar nessa área?
Estas questões pairavam na sua mente. “Sou capaz de lidar com essa pressão e essa mudança de vida? Não sou muito nova?” Se calhar é melhor trabalhar uns anos como advogada, mas depois “decidi-me”. Olha, “se calhar é uma oportunidade que só vem uma vez, e se tenho a oportunidade de trabalhar para o meu país, – um dos meus dois países – posso mesmo mudar, ou ajudar a mudar as coisas. E foi assim, faz agora três anos que estou a trabalhar no Parlamento. É um privilégio gigante.”
Também é um grande privilégio poder falar com muitas pessoas portuguesas. “Eu sou responsável por Portugal na Comissão dos Assuntos da União Europeia, trabalho com pastas relativas a Portugal, e adoro”.
As pastas que tutela
“Eu tenho algumas pastas, organizada em comissões, como em todos os parlamentos, faço parte da Comissão dos Assuntos Digitais, dos Assuntos da União Europeia, e também Suplente nos Assuntos Exteriores e nos Assuntos Jurídicos”.
A maioria do trabalho recai nos assuntos digitais. Tudo o que tem a ver com plataformas, e a legislação ao nível europeu e nos Assuntos Exteriores e Europeus. “Trabalho com Portugal, e também com Espanha e os países da Benelux, que compreende a Bélgica, Holanda e Luxemburgo. Luxemburgo faz muito sentido, talvez pela forte presença de portugueses naquele país.
Trabalha muito com Portugal, o país “preferido” e “costumo sempre ver o que está acontecer em terras lusas”. O embaixador, de Portugal, na Alemanha, “é um excelente exemplo dos portugueses que também estão na Alemanha e fazem um trabalho incrível, a embaixada toda. Portanto, sinto muito privilegiada poder trabalhar com Portugal.”
O trabalho ao nível da emigração e da cooperação?
Na Comissão dos Assuntos da União Europeia, é responsável por estes países. “Eu vejo como é que está a situação não só do país, mas também o que é que está a acontecer em Portugal, e em que estado estão as relações Luso-Alemãs, por exemplo, quando o tema vem para a Comissão, eu produzo um relatório no meu grupo parlamentar.”
Todos os grupos parlamentares têm uma pessoa que é responsável para cada país e depois vamos à discussão ou vamos emitir opiniões, por exemplo, o que é que se pode melhorar?
“Vou a Portugal falar com deputados do Parlamento ou Secretários de Estado, ou Ministros, também com a Embaixada alemã, mas também instituições como é o caso da escola alemã em Portugal, no caso concreto em Lisboa”. O que é que está a acontecer na atualidade em Portugal? O que é que se pode fazer da parte alemã para melhorar ainda mais as boas relações luso-alemãs?
Quantos portugueses vivem na Alemanha, e mais concretamente em Colónia?
Estão na Alemanha cerca de 150 mil portugueses. “Mas eu sei que, por exemplo, na zona onde eu moro, são cerca de 37 mil”, se calhar mais, “é um bocado difícil ver os números, por exemplo, se tem dupla nacionalidade, são contados de maneira diferente, são as estatísticas que não permitem ser 100% fiáveis”
Sempre que pode vai a eventos portugueses, como é o caso do dia de Portugal, e outro tipo de eventos organizados pelas comunidades portuguesas. “Obviamente não tenho muito tempo para ir a festas ou às muitas festividades, mas este ano, por exemplo, foi um ano espetacular para Portugal, a festejar o 25 de Abril e os 50 anos de Democracia, mas também o dia de Portugal, há sempre uma grande festa em Dusseldorf.”
Este ano, “infelizmente” não pode ir, mas no ano passado esteve lá. Este ano foram celebrados os 60 anos dos “Acórdãos entre a Alemanha e Portugal” em relação aos trabalhadores que vieram nos anos 60 e 70 para a Alemanha e houve uma grande festa em Colónia. “Há várias oportunidades que se pode ir. Eu adorava ir a todas, mas obviamente é um pouco difícil participar em tudo, mas a Comunidade aqui na Alemanha está muito envolvida, muito criativa. Também não é só a festejar, também é lembrar as datas que são importantes para a Alemanha e Portugal” exemplifica.
A reconstrução da Alemanha pós Segunda Guerra Mundial, o papel dos portugueses
Catarina considera que têm vários pontos da história onde os portugueses não só ajudaram, como também participaram muito em relação à Alemanha. Como referiu, celebrou-se os 60 anos do Tratado entre a Alemanha e Portugal, antes disso, obviamente vivia-se numa fase diferente em Portugal, em particular os portugueses, que sempre tiveram um papel importante na Alemanha, nessa fase de história. “Acho que nós não olhamos muitas vezes para esta fase, olhamos mais de 1974 para a frente.”
No que diz respeito à visão que os alemães têm sobre os portugueses é que “são considerados bons trabalhadores”. Vê-se que os portugueses são muito bem vistos na Alemanha, “estão muito bem integrados, muito trabalhadores, e também muito envolvidos na cultura, mas também na estrutura rural, por exemplo, em diferentes zonas rurais do país”. E, por outro lado “não vejo só isso positivo”. “Acho que os portugueses são mais do que isso, não são só bons trabalhadores, estão bem integrados, mas também querem participar na vida em todas as áreas. O que eu vejo com bons olhos.”
Há cada vez mais portugueses a fazer parte da cultura alemã, mas também nunca esquecendo a cultura portuguesa. Há uma maior participação na vida germânica, e também em cargos importantes, seja onde for: no desporto, na cultura, ou na política. “E acho isso muito positivo. Os portugueses trabalham muito duro e muito bem, e nunca é demais reforçar que são mais que isso, acho que há uma imagem muito boa dos portugueses aqui na Alemanha.”