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Segunda-feira - 9 Dezembro 2024

EXCLUSIVO: Entre o Ocidente e o Oriente, Renato Roldão

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A Ásia tem os seus fascínios, e ao longo dos séculos também a China tem sabido acompanhar, e muitas vezes marcar o ritmo, dos novos tempos. Culturalmente é muito rica, e com uma história tão vasta que levaria muito tempo a descrevê-la. É por terras Asiáticas que Renato Roldão está a criar raízes, mas nunca se esquecendo de onde veio. O bacalhau, é imperador na mesa da Ceia de Natal, e felizmente “nunca ficou retido no aeroporto”, diz Renato com um leve sorriso. Para se ligar um pouco mais a Portugal abraçou o Conselho da Diáspora, que lhe permite ter mais contacto com o mundo português.

Renato tem uma experiência académica muito diversificada, essencialmente em Portugal. Licenciou-se na Universidade do Minho, em Relações Internacionais, e Mestrado em Estudos Chineses, numa vertente de negócios e Relações Internacionais com a China pela Universidade de Aveiro.

Renato Roldão

No último ano do mestrado, em 2002, teve a oportunidade de ir à China pela primeira vez e passou lá três meses, num curso intensivo de língua Chinesa, na Universidade de Língua e Cultura de Pequim. Foi a primeira Universidade Chinesa a Ministrar Cursos de língua Chinesa para alunos estrangeiros.

Completou esse curso de curta duração e regressou a Portugal nas férias de Natal. Entretanto surgiu o SARS, Síndrome Respiratório Agudo, e ficou em Portugal, acabou o mestrado e começou a trabalhar, a continuou a estudar em “part-time”.

Em 2003/2004, começou o mestrado no ISEG, em Economia e Política de Energia e do Ambiente, e como já era detentor do grau de mestre, surgiu a oportunidade de avançar para um programa de Doutoramento do MIT Portugal em Sistemas Energéticos Sustentáveis a convite do Professor que estava a Coordenar o Mestrado no ISEG, “convidaram-me se eu queria integrar essa turma, uma vez que era o primeiro ano, e transferi-me do Mestrado para o Doutoramento.”

Nessa altura o Doutoramento decorria no Instituto Superior Técnico. Começou o programa, aliado ao seu “background” que combinava a vertente de Política Internacional, de China e de especialização em Energia e Ambiente, foi nesse contexto que surgiu o convite, para vir trabalhar para a China, pela primeira vez, no final de 2007 início e 2008.

Quando vivia em Portugal trabalhava na área de Energia, Ambiente e Alterações Climáticas. Primeiro numa Organização Não Governamental, (ONG) Euronatura, é uma Organização que tem sede em Lisboa, e na altura “trabalhávamos com políticas de alterações climáticas, com questões relacionadas com águas internacionais, Economia do Ambiente.”

Em 2007, teve o convite para integrar uma “Task Force” para “acompanhar as negociações Internacionais de Clima, no quadro das Nações Unidas” durante a Presidência Portuguesa na União Europeia.

Em 2008, foi para a China trabalhar dentro nessa área, porque por causa do Protocolo de Quioto, havia a necessidade de Portugal cumprir as metas definidas de redução de gases com efeito de estufa, e para isso também existia um mecanismo de créditos de reduções de emissões de gases com efeitos de estufa, “aqui na China”, e esse foi o seu primeiro projeto.

Trabalhar e ajudar na organização de créditos de carbono na altura, para o estado Português e Fundo Português de Carbono através do “Luso Carbon Fund”. Mais tarde, com a crise financeira mundial de 2008, a economia portuguesa e mundial retraiu, a indústria também retraiu, as emissões poluentes também reduziram e parte da procura desses créditos desapareceu.

Nessa altura como o seu perfil académico na área de Política Internacional, continuou a trabalhar na China. Mudou de emprego, e começou a trabalhar numa consultora Internacional com sede nos EUA, cotada na Bolsa no Nasdaq, e que tem cerca de oito mil colaboradores, a nível mundial – a ICF.

“Sou o Diretor-Geral da empresa na China, faço a gestão aqui, e coordeno projetos específicos, na área do ambiente, das alterações climáticas, e da transição energética, “lidamos diretamente com os governos. Os nossos clientes são os governos ou Organizações Internacionais, o principal cliente é a Comissão Europeia, trabalhamos também com as Nações Unidas, com o Governo Inglês, com o governo Norueguês. “Mas depois quem beneficia dos projetos, e dos nossos serviços é maioritariamente o governo Chinês.”

“Estamos a ajudar a desenhar e implementar políticas públicas na área da energia, na área do ambiente, nas alterações climáticas na China, para que consiga reduzir as suas emissões de efeito de estufa e atingir a neutralidade carbónica até 2060, sendo sabido que a China é o maior poluidor a nível mundial neste momento por cerca de 31% das emissões”.

Conselheiro da Diáspora Portuguesa

Tinha conhecimento do Conselho da Diáspora Portuguesa, desde a sua génese, e no final de 2023, o Renato foi convidado para ser Conselheiro e participar na rede.

Anteriormente já tinha tido outras experiências fora da Diáspora, mas mais num contexto localizado de Pequim, e da China, concretamente. Tinha participado numa iniciativa, que na altura se chamava Conselho Económico e Empresarial da Embaixada de Portugal em Pequim, que reunia ad-hoc representantes Portugueses de vários setores, indústrias que davam alguns inputs para a relação bilateral entre Portugal e a China.

“Tenho participado também como representante de Portugal na Câmara de Comércio da União Europeia aqui na China, foi o conjunto destas iniciativas e experiências que culminou com o convite para fazer parte da rede da Diáspora.”

“Está a ser um experiência muito interessante” porque nos últimos meses, “já conheci mais portugueses espalhados pela Ásia, núcleo regional que integro, do que nos últimos dez anos”. A Diáspora tem organizado alguns eventos, e webinars nas áreas da energia e do hidrogénio verde em que participou. No fundo é procurar áreas de interesse comum, “e depois trazer os nossos especialistas dentro da rede para abordar os assuntos de uma forma mais profunda e mais técnica, acaba por ser essa vertente da diplomacia económica, que tenho estado mais ligado.”

Também do ponto de vista cultural “é muito interessante”. Com uma experiência ao longo destes anos e neste momento que se celebram os 45 anos das Relações Diplomáticas entre Portugal e a China, às vezes é preciso aproveitar estes eventos. Os Chineses têm conhecido sobre a cultura portuguesa nestes últimos anos, mas mais a cultura contemporânea do que a nossa história, porque têm viajado mais para Portugal, e acabam por ter mais contacto direto com a nossa cultura contemporânea e com as novas gerações.

Mas Portugal pode promover mais os aspetos culturais, sejam eles artísticos, musicais. “No meio artístico tivemos cá a Joana Vasconcelos com uma exposição, que teve uma projeção internacional e dentro do país, também esteve cá Vihls. Tendo também feito uma intervenção na fachada do edifício da embaixada.”

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