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Quinta-feira - 12 Junho 2025

EXCLUSIVO: Eurodeputados portugueses debateram no Parlamento Europeu assuntos prementes sobre a Diáspora Portuguesa

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Ontem, dia 30 de janeiro, teve lugar a ronda dos parlamentares portugueses organizada pela SEDES Europa, no Parlamento Europeu em Bruxelas. Contou com a presença de Sebastião Bugalho, Catarina Mendes, Catarina Vieira, Álvaro Beleza, Rui Faria, e o secretário-geral da SEDES Europa, Vítor Oliveira. Temas como a votação eletrónica, o papel dos emigrantes na Diáspora Portuguesa e a sua relevância na Europa e no Mundo, encheram o hemiciclo.

Sebastião Bugalho, eurodeputado

Sebastião Bugalho destaca papel económico da diáspora portuguesa e alerta para necessidade de maior reconhecimento político. O eurodeputado Sebastião Bugalho marcou presença no painel parlamentar da conferência A Diáspora Portuguesa na União Europeia, organizada pela SEDES Europa no Parlamento Europeu, onde reforçou a importância económica das remessas dos emigrantes portugueses e a necessidade de um maior reconhecimento político das comunidades no estrangeiro.

Na sua intervenção, Bugalho sublinhou um dado estatístico muitas vezes ignorado: Portugal nunca saiu do top 3 dos países da União Europeia com maior contributo dos emigrantes para a economia nacional nos dois primeiros quadros financeiros plurianuais da UE (1989-1999). Segundo o eurodeputado, apenas a Bulgária e alguns países da Ásia registaram um impacto superior.

“Falamos muito dos fundos europeus e do seu papel no desenvolvimento do país, mas raramente falamos daquilo que os emigrantes portugueses enviam para a sua terra natal. As remessas dos emigrantes representaram, em determinados períodos, um impacto económico maior do que o próprio financiamento europeu”, destacou Bugalho, criticando a falta de espaço público para esta discussão.

O eurodeputado chamou ainda a atenção para a necessidade de os políticos portugueses prestarem mais atenção à diáspora, frisando que os emigrantes portugueses não devem ser vistos apenas como eleitores pontuais, mas como agentes económicos e sociais ativos, que merecem uma representação mais efetiva.

“Se queremos realmente ajudar as nossas comunidades no estrangeiro, temos que ser a sua voz no espaço político. Os emigrantes espanhóis e portugueses continuam a desempenhar um papel crucial na economia dos seus países de origem. É imperativo que os políticos reconheçam esse contributo e o traduzam em medidas concretas”, defendeu.

A intervenção de Bugalho encerrou com um apelo ao reforço da centralidade da diáspora nas políticas públicas, argumentando que o reconhecimento das comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo não pode limitar-se a momentos eleitorais. “Com isto, despeço-me e desejo a todos um excelente regresso a casa”, concluiu.

O debate, que incluiu a participação de outros representantes políticos, centrou-se nos direitos cívicos e políticos dos portugueses da diáspora, e integrou-se num evento mais amplo dedicado ao papel dos emigrantes na construção da União Europeia, abordando também temas como o voto eletrónico e o impacto socioeconómico da diáspora portuguesa.

Ana Catarina Mendes alerta para ameaças híbridas e desinformação na democracia europeia

Ana Catarina Mendes, Eurodeputada

A eurodeputada Ana Catarina Mendes, destacou os desafios que as democracias europeias enfrentam atualmente. Entre os principais temas abordados estiveram os ataques híbridos, a desinformação e os direitos eleitorais dos cidadãos móveis da União Europeia.

Na sua intervenção, Mendes sublinhou a crescente ameaça dos ataques híbridos, que podem comprometer o acesso a serviços públicos, violar a privacidade dos cidadãos e, em última instância, pôr em risco a própria democracia. “Se a nossa privacidade está em risco, a nossa democracia também está”, afirmou.

A eurodeputada alertou ainda para um dos desafios mais prementes da atualidade: a desinformação e a sua utilização como arma política. Mendes citou o caso recente da Alemanha, onde a extrema-direita usou algoritmos para disseminar mentiras e manipular a opinião pública. “Este é um perigo real e precisamos de saber responder a ele”, frisou.

Para combater esta ameaça, destacou o papel do Parlamento Europeu na implementação de instrumentos legislativos concretos, como a regulamentação das plataformas digitais. “Sem essa regulação, a desinformação continuará a ser utilizada como arma contra as democracias”, advertiu.

Além das questões da segurança democrática, Mendes abordou também um tema de grande relevância para os emigrantes portugueses e outros cidadãos europeus residentes fora dos seus países de origem: o direito de voto dos chamados ‘cidadãos móveis’.

“Há uma realidade que já existe há 40 anos, mas que precisa de ser reforçada: garantir que todos os cidadãos da União Europeia possam votar plenamente no país onde residem”, explicou. Segundo Mendes, o relatório em discussão no Parlamento Europeu sobre esta matéria pretende assegurar que portugueses residentes em França, Alemanha ou outros Estados-membros possam exercer os seus direitos políticos de forma plena, como qualquer outro cidadão desse país.

“Esperamos que esta proposta seja concluída até abril, para que possamos avançar para uma Europa mais democrática e inclusiva”, concluiu.

A participação de Ana Catarina Mendes no evento reforçou a importância da proteção da democracia, da integridade do voto e da adaptação das instituições europeias às novas ameaças globais, reafirmando a necessidade de políticas mais eficazes para garantir uma participação política justa e transparente para todos os cidadãos da União Europeia.

Catarina Vieira apela à participação política ativa da diáspora portuguesa na Europa

Catarina Vieira, eurodeputada eleita pelos Países Baixos

A eurodeputada eleita pelos Países Baixos, defendeu na conferência a necessidade de uma maior participação política dos emigrantes portugueses, tanto em Portugal como nos países onde residem. Vieira destacou o papel da diáspora na preservação da identidade cultural, a importância das redes tecnológicas no fortalecimento dessas comunidades e o impacto político dos emigrantes no contexto europeu.

Na sua intervenção, a eurodeputada recordou que o movimento da diáspora portuguesa teve origem há muito tempo, inicialmente no sul dos Estados Unidos, nomeadamente entre as comunidades açorianas, e posteriormente expandiu-se para outras regiões como o Médio Oriente. “A diáspora portuguesa sempre esteve muito ligada ao país de origem, mantendo uma ligação ativa e forte com a sua identidade cultural”, afirmou.

O papel da tecnologia e das redes sociais na diáspora

Vieira destacou que o crescimento das comunidades portuguesas no estrangeiro tem sido impulsionado pelo uso das novas tecnologias e das redes sociais, que permitem manter vivas as tradições e fortalecer a ligação entre os emigrantes e Portugal. “A tecnologia foi criada e utilizada pelos próprios portugueses para unir a diáspora e manter a sua identidade cultural”, explicou.

Nos Açores, por exemplo, onde a eurodeputada reside, existem várias atividades culturais e sociais promovidas pela comunidade portuguesa, que vão desde encontros sociais, promoção da língua portuguesa e eventos de networking, até ações que reforçam a presença dos portugueses na sociedade em que vivem.

Participação política: dentro e fora de Portugal

Catarina Vieira sublinhou a importância de um envolvimento mais ativo da diáspora na política europeia e portuguesa. “Temos que compreender melhor a situação política da União Europeia e o impacto que ela tem na diáspora, pois somos simultaneamente cidadãos portugueses e cidadãos europeus”, afirmou.

Para além da participação nas eleições em Portugal, a eurodeputada destacou que os emigrantes devem envolver-se na vida política dos países onde residem, de forma a influenciar as políticas que afetam as suas comunidades. “Se queremos garantir que os direitos dos portugueses no estrangeiro são protegidos e valorizados, temos que estar presentes na política, tanto em Portugal como no país onde vivemos”, defendeu.

Desafios e oportunidades para a diáspora

Vieira alertou para a necessidade de assegurar que a União Europeia continue a garantir condições equitativas para os emigrantes portugueses, defendendo o reforço dos mecanismos de participação política e integração social da diáspora. Comparou ainda a situação na Europa com a dos Estados Unidos, onde algumas garantias não estão tão asseguradas como no espaço europeu.

“É fundamental que a diáspora portuguesa seja reconhecida não só pelo seu contributo cultural e económico, mas também pelo seu papel político”, concluiu a eurodeputada.

A sua participação na conferência reforçou a necessidade de um maior reconhecimento da diáspora portuguesa no contexto europeu, garantindo que os emigrantes tenham uma voz ativa na política e que a sua participação vá além das eleições em Portugal, refletindo-se também no país onde vivem.

Álvaro Beleza defende maior presença feminina na liderança e na política

Presidente da SEDES, Álvaro Beleza

O presidente da SEDES, Álvaro Beleza, reforçou a importância da presença feminina em cargos de liderança, sublinhando que, apesar dos avanços, ainda há um longo caminho a percorrer para garantir a igualdade de género em diversas áreas da sociedade.

Durante a conferência, Beleza destacou que as mulheres estão cada vez mais envolvidas na política, na sociedade civil e nos negócios, mas que a representatividade ainda não é suficiente. “Temos muitas mulheres na atividade política, mas, infelizmente, ainda não temos mulheres suficientes em cargos de liderança em várias áreas do país”, afirmou.

O presidente da SEDES sublinhou o exemplo da eurodeputada Ana Catarina Mendes, presente no evento, como uma das mulheres que se tem destacado na vida política nacional e europeia. “Ana Catarina é uma dessas mulheres que representa o futuro. Precisamos de mais como ela”, referiu.

A importância da liderança feminina

O discurso de Álvaro Beleza reflete uma preocupação crescente com a sub-representação das mulheres em cargos de decisão, um tema que tem sido central no debate sobre igualdade de oportunidades. Estudos mostram que a presença feminina em posições de liderança contribui para decisões mais equilibradas, maior inovação e uma abordagem mais inclusiva na política e nos negócios.

Apesar das políticas e iniciativas de promoção da igualdade de género, as mulheres continuam sub-representadas nos espaços de poder. Em Portugal, bem como em outros países europeus, os avanços têm sido notáveis, mas a realidade demonstra que a paridade de género ainda não foi alcançada.

Desafios e o caminho a seguir

A reflexão de Beleza vai ao encontro de um movimento global que exige maior participação feminina nos processos de decisão. A implementação de políticas que incentivem a presença das mulheres em cargos de topo, bem como o combate a barreiras estruturais e culturais, são fatores essenciais para mudar este cenário.

A conferência A Diáspora Portuguesa na União Europeia foi mais um palco para reforçar a urgência da paridade de género e da criação de condições para que mais mulheres possam ascender a posições de liderança. Álvaro Beleza deixou claro que o debate não pode ser apenas teórico – é necessário agir para garantir que as mulheres tenham as mesmas oportunidades de participação e influência no futuro da sociedade.

Portugal reforça influência global através da diáspora e redes estratégicas

Rui Faria da Cunha, presidente do Conselho da Diáspora Portuguesa, destacou na conferência o impacto crescente da rede global de conselheiros portugueses na projeção da influência de Portugal no mundo. A intervenção centrou-se em iniciativas estratégicas nas áreas da captação de investimento, formação de talento, investigação científica e representação política e empresarial.

O Conselho da Diáspora conta atualmente com 291 conselheiros distribuídos pelo mundo, com forte presença na Europa, América, Ásia e África. Estes atuam em áreas-chave como negócios, inovação, educação e saúde, estruturados em 13 centros de competência, que funcionam como uma rede de apoio e filtragem de oportunidades estratégicas.

Um dos desafios identificados foi a necessidade de atrair uma nova geração de talentos para a diáspora portuguesa, através de programas de capacitação internacional e empreendedorismo. Em paralelo, foram também destacados programas de captação de investimento para universidades portuguesas, reforçando a ligação entre instituições nacionais e redes internacionais de financiamento.

Na área da investigação científica, foi sublinhado um programa de intercâmbio de professores e cientistas entre Portugal e os Estados Unidos, focado na partilha de conhecimento e no desenvolvimento de projetos colaborativos em setores estratégicos.

Outro alerta foi a fraca representação portuguesa no lobbying europeu, com uma presença significativamente inferior à de países vizinhos como Espanha, Bélgica, Grécia e Itália.

A conferência também destacou a importância de eventos internacionais organizados pela diáspora, que têm vindo a consolidar Portugal como um ator relevante nos debates globais sobre economia, inovação e políticas públicas.

“Não basta estarmos no mundo, temos que mostrar que Portugal é um país de talento, inovação e influência global”, concluiu Rui Faria da Cunha.

Vítor Oliveira, Secretário-Geral da SEDES Europa

O secretário-geral da SEDES Europa, Vítor Oliveira, defendeu a criação dos Conselhos Municipais da Diáspora como forma de aproximar os emigrantes portugueses dos seus territórios de origem. A proposta foi apresentada durante a conferência A Diáspora Portuguesa na União Europeia, realizada no Parlamento Europeu, e visa fortalecer os laços entre as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo e os municípios em Portugal.

“A ideia é que os municípios possam ter uma perceção exata de quem são os seus cidadãos no estrangeiro, permitindo um contacto mais próximo e estruturado com essas comunidades”, afirmou Oliveira. Para o responsável da SEDES Europa, esta iniciativa pode ser um passo essencial na valorização da diáspora e na promoção de um vínculo permanente com o território nacional.

Além do reforço da identidade e do sentimento de pertença, Oliveira destacou a importância da participação política dos emigrantes portugueses. “Falámos da dimensão cívica da diáspora, nomeadamente da necessidade de garantir que os portugueses no estrangeiro possam votar de forma mais acessível e homogénea nas eleições legislativas”, explicou.

O dirigente sublinhou que a criação dos Conselhos Municipais da Diáspora pode servir para integrar melhor as comunidades emigrantes no debate político nacional e municipal, reforçando o envolvimento cívico e eleitoral dos portugueses residentes fora do país.

A proposta, que se encontra numa fase inicial, já tem o apoio de várias figuras da diáspora portuguesa, incluindo antigos líderes do Conselho Nacional da Europa e da diáspora na Irlanda. O objetivo é formalizar esta estrutura, permitindo que os municípios e os seus emigrantes criem uma relação mais próxima e ativa.

A intervenção de Vítor Oliveira encerrou com um apelo ao envolvimento de todos nesta iniciativa, destacando a importância de transformar a diáspora num pilar fundamental da vida política, económica e social de Portugal.

Autoria de Marisa Borsboom, correspondente do Jornal Comunidades Lusófonas no BENELUX

Jornal Comunidades Lusófonas
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