Com uma carreira de mais de 50 anos, Francis Da Silva está à frente da Câmara de Comércio Luso-Luxemburguesa. Emigrou para aquele país há 48 anos onde fez quase toda a sua carreira no setor Bancário. Vem de famílias ligada às artes, o seu pai era responsável do então “Teatro Laura Alves” em Lisboa. Toda a sua vida foi envolta, do ponto de vista cultural e humano, “muito interessante”. Estudou na Escola dos Banqueiros, a Escola Comercial Veiga Beirão, no largo do Carmo, onde aconteceu o 25 de abril de 1974, e que se encontrava naquele momento. Saiu de Portugal para ir ao encontro do pai que vivia no Luxemburgo, onde continuou os seus estudos e fez o seu trajeto profissional.
Em 1972, o regime da altura tinha feito uma certa “abertura”, uma espécie de “Primavera Caetanista”, como se designaria nos dias de hoje, até que, em 1973 voltaria a fechar-se. Ao mesmo tempo também se deu “A Guerra do Yom Kippur”, um conflito armado ocorrido em 1973, envolvendo israelitas e árabes na região próxima ao canal do Suez, na fronteira do Estado de Israel com o Egito.” O país ficou sob embargo dos países árabes e, não havia petróleo. Foi uma época de crise, e na altura, “estávamos habituados à censura e a um certa vigilância que era feita, e desde muito novo aprendi com o meu pai que as paredes têm ouvidos”. Havia muito cuidado com aquilo que se dizia, com aquilo que se fazia, embora não tivesse muito uma perceção da realidade do que era um regime na altura. Pois já era “bastante tolerante”.
“Não o suficiente para quem se opunha. Mas havia muita coisa que passava.” Refere Francis. No período das festas, no Natal, o teatro que o seu pai era responsável, fechava até Janeiro, e foram para a casa de campo, onde o seu pai foi avisado que quando voltasse em janeiro para Lisboa tinha a polícia política à espera dele. Em vez de rumar à capital, no dia 1 ou 2 de Janeiro, “foi com uma pessoa que trabalhava e vivia no Luxemburgo. Foi assim que começou uma outra aventura…”
Em 1974, aconteceu o que a história jamais se esquecerá. “Eu estava lá no largo do Carmo. Aliás, tenho artigos publicados sobre isso.” O seu pai ainda esteve para regressar para Portugal, mas as coisas começaram a ficar muito complicadas entre 1974 e 1975, até ao 25 de Novembro e mesmo até depois do 25 de Novembro, “eu estava ainda em Portugal”. Como os país querem a família toda junta, “fomos ter com ele ao Luxemburgo, com a ideia de que dali a 5 ou 10 anos voltaríamos para Portugal.”
Em 1976 começa o problema da primeira falência de Portugal, “nesta época mais moderna”. E com a intervenção do FMI e a ideia de voltar a Portugal ficou protelada para mais tarde.
Foi um período de bastante instabilidade e desordem, não havia açúcar, farinha, havia racionamento e havia também a impossibilidade de sair de Portugal com mais de 10 contos no bolso. Toda gente recebeu no passaporte 4 folhinhas das quais se tinha que inscrever junto da alfândega, o dinheiro que se levava para fora do país.
“E foi assim que me encontrei no Luxemburgo”, vindo de um ambiente palaciano com muito conforto e uma escola formidável”. “Os professores com uma competência extraordinária, e também a reforma Veiga Simão, e que tinha bons resultados”. Em comparação com o Luxemburgo “eu já tinha matemática moderna, em Portugal. No Luxemburgo foi preciso esperar os anos 80 para que isso chegasse. Já tinha computação que, na altura ainda eram as cartas perfuradas, também tinha Geografia Económica, entre outras.
Tivemos muitos problemas para ter o autorização de trabalho, mas era preciso ganhar a vida, para pagar as despesas.”
Em 1981 ganhou o concurso, para trabalhar num Banco, o BNP, que ainda existe, e foi trabalhar para lá. Começou uma carreira e também estudos com sucesso. Foi na Banca maioritariamente que traçou a sua carreira profissional, um homem de negócios e que “viveu” para os negócios. Trabalhou em quase todos os bancos mais importantes da Europa e do Mundo. Sucessos não lhe faltam, encontra-se agora à frente da Câmara de Comércio Luso-Luxemburguesa, onde e com os seus conhecimentos leva e conduz o leme.