Em entrevista ao Jornal Comunidades Lusófonas e pela celebração do dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas espalhadas pela Diáspora, a Embaixadora e Presidente do Instituto Camões, falou-nos da importância deste organismo na difusão da língua e cultura portuguesa além fronteiras. Fica o registo da entrevista à Presidente Florbela Paraíba. Portugal está na moda, fruto, também do trabalho realizado das comunidades portuguesas, que dão a conhecer o que Portugal tem a oferecer.
Jornal Comunidades Lusófonas: Há quantos anos existe o Instituto Camões?
Florbela Paraíba: A atual moldura institucional do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, I.P., que colocou sob a mesma égide a promoção da língua e da cultura portuguesas e a cooperação internacional para o desenvolvimento, data de 2012. Porém, temos uma História muito mais antiga, quase secular. Na cultura, ela remonta a 1929, com a criação da Junta de Educação Nacional. Já a cooperação internacional para o desenvolvimento surge na sequência do processo da descolonização e na instauração da democracia em Portugal, de que o Instituto de Cooperação Económica foi a primeira configuração institucional.
JCL: Qual é o âmbito do instituto a nível mundial?
FP: O Camões, I.P. (CICL) está presente nos quatro continentes, nas vertentes linguística e cultural e de cooperação, incluindo aqui também a ajuda humanitária e a educação para o desenvolvimento, fazendo do Instituto responsável por cinco políticas públicas e de Estado. O Camões, I.P. atua por via dos Centros Culturais Portugueses, dos Centros Portugueses de Cooperação, das cátedras e leitorados junto de universidades estrangeiras, dos Centros de Língua Portuguesa, das Coordenações do Ensino Português no Estrangeiros e, igualmente, por via da rede diplomática e consular, dado que a instituição está sob a alçada do Ministério dos Negócios Estrangeiros português.
Na vertente da cooperação, destaco a nossa ação junto de, e através, de organizações internacionais como as Nações Unidas, a União Europeia, a OCDE, a CPLP e a Conferência Ibero-Americana, entre outras; assim como os esforços que temos feito no sentido de acudir às necessidades mais prementes na Ucrânia ou no Médio Oriente ou, ainda, no sentido de mitigar os efeitos devastadores de catástrofes naturais em Moçambique ou em São Vicente e Grenadinas.
JCL: Em quantos países está o Instituto Camões presente, e qual é o país mais desafiante?
FP: São 76 os países onde, através do Camões I.P., se ensina a língua portuguesa. A nível da língua, a nossa intervenção é feita nos vários níveis de ensino, pré-universitário e universitário.
Nas suas especificidades e desafios, cada país é um estímulo ao nosso trabalho. Registo, em particular, alguns casos de sucesso no interesse pela aprendizagem da nossa língua, como o Senegal, onde o ensino da língua portuguesa faz parte do currículo oficial, como disciplina de opção, abarcando um número impressionante de quase 50 mil estudantes; a China, onde 56 universidades ensinam a língua portuguesa; ou a Venezuela, onde os nossos esforços se centram na nossa diáspora, mas muito para além dela.
Em 2024, a rede do Ensino de Português no Estrangeiro (EPE) estava presente em 17 países (13 da rede oficial e 4 da rede apoiada) nos níveis de ensino pré-escolar, básico e secundário. Naquele ano, o apoio do Camões, I.P. à introdução do português como língua curricular do ensino secundário somava 35 sistemas educativos. Acrescem dois outros instrumentos que muito prezamos na nossa ação:
– o Plano de Incentivo à Leitura (PIL), que tem tido uma boa execução na rede do EPE; e a Linha de apoio à tradução e edição (LATE), um programa conjunto do Camões, I.P. e da Direção Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB), que concorre para a internacionalização da língua portuguesa, promovendo a tradução e a edição, no estrangeiro, de obras escritas no nosso idioma, por autores portugueses e por autores dos países africanos de língua portuguesa e de Timor-Leste.
Na vertente da cooperação para o desenvolvimento, e conforme resulta da Estratégia Portuguesa de Cooperação 2030, o nosso enfoque centra-se principalmente nos PALOP e Timor-Leste. Fazemo-lo diretamente, mas em articulação com outros ministérios e outras entidades da administração indireta do Estado, com a sociedade civil e com as Instituições Europeias, mediante a cooperação delegada; atuamos no plano bilateral, multilateral e também através da cooperação triangular, de que temos sido impulsionadores no plano internacional.
JCL: Quantos leitores há a nível mundial, e em que continentes e países há mais institutos?
FP: Os formatos da nossa presença no mundo são diferenciados. Muito sucintamente, na área da língua e cultura, os principais indicadores incluem:
– 15 Centros Culturais e 4 polos culturais;
– 57 Leitorados, abrangendo algumas das mais renomadas instituições de ensino universitário em todo o mundo;
– 310 protocolos com instituições de ensino em 76 países, e com tendência crescente;
– 11 Coordenações do Ensino Português no Estrangeiro;
– 87 Centros de Língua Portuguesa, também com tendência crescente;
Bolsas de Estudo, que em 2024 se cifraram em 201, com bolseiros de um vasto leque de países;
– Programas de certificação para fins específicos, vide na área da medicina ou do jornalismo.
JCL: Quantos portugueses acompanham o Instituto?
FP: É uma pergunta com várias dimensões.
No ensino pré-universitário, em 2024, a rede EPE abrangia 1 433 escolas e 73 351 alunos dos níveis de ensino pré-escolar, básico e secundário. A estes números haverá que somar o daqueles que seguem os nossos cursos a nível universitário e de todos quantos participaram na programação que, em cooperação com as nossas embaixadas, desenvolvemos na ação cultural externa, dando a conhecer o trabalho dos nossos criadores artísticos.
Outro indicador a ter presente para aferir da nossa visibilidade é o site do Camões, I.P.. Só no período compreendido entre 18 de abril e 31 de dezembro de 2024, o site teve 1 656 991 páginas visualizadas, das quais 1 283 042 em português, sendo que o maior número de visitantes veio, por ordem decrescente, de Portugal, Brasil, Espanha, Angola, EUA, Hong Kong, Moçambique, França, Reino Unido e Alemanha. Da leitura feita, constata-se também uma maioria de utilizadores do sexo feminino (68,3% versus 31,7% masculino) com predominância para utilizadores entre os 45 e os 54 anos.
JCL: Com as novas ferramentas da Comunicação, pensa que é mais fácil hoje em dia ensinar a língua de Camões, ou pelo contrário, as pessoas usam as ferramentas digitais para suprimir essa lacuna?
FP: É uma área em que podemos afirmar que o Camões, I.P. tem sido pioneiro. Além disso, fomos a primeira instituição do mundo a realizar um exame de e-certificação de Português Língua Estrangeira – o Exame Camões Júnior. São 11 as empresas que obtiveram o estatuto de Empresa Promotora da Língua Portuguesa e que, em articulação com o Camões, I.P. promovem a língua portuguesa, através de bolsas de estudo ou do apoio à atividade de cátedras e leitorados em instituições de ensino superior internacionais. Disponibilizamos também cursos online de Português Língua Estrangeira de vários graus, podendo os alunos dos cursos online escolher três diferentes modalidades de aprendizagem (Autoaprendizagem, Básico e Premium), e cursos que abrangem diferentes áreas, como Cursos Gerais de Português, Português para Fins Específicos, Formação de Professores, Cursos de Especialização e cursos da área da Cooperação e da Cultura.
JCL: Uma mensagem a todos os portugueses nas celebrações do dia de Portugal e para todos os portugueses que se encontram lá fora.
FP: Onde quer que estejam, permanecem connosco as palavras de Fernando Pessoa: a nossa Pátria é a língua portuguesa. É este o ânimo que nos move, atentos ao juízo de Eça de Queiroz: ocupamo-nos da Pátria contemporânea, cujo coração bate ao mesmo tempo que o nosso, procurando perceber-lhe as aspirações, para que seja mais livre, mais sábia, mais próspera e se eleve na comunidade das Nações.
