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Quinta-feira - 10 Julho 2025

EXCLUSIVO: João Heitor o Sociólogo português na terra da liberdade, fraternidade e igualdade!

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Proveniente de Mêda, da região de Trancoso, Foz Côa, João Heitor partiu há mais de 60 anos. Fez os estudos até ao 12º, antigo sétimo ano, nos Missionários Combonianos em Viseu e na Maia. Aos 18 anos e antes da Revolução de 1974, em 1972/1973, foi para Espanha, Valência, frequentar o curso de filosofia, durante quatro anos no Instituto e depois optou por ir para Paris para prosseguir Filosofia e Teologia, no Instituto Católico.

É diplomado em Sociologia Religiosa, na escola dos Altos Estudos em Ciências Sociais, uma grande escola à época, ainda se entrava com alguma “facilidade”, mediante um projeto de investigação. Onde teve praticamente os melhores professores nestas áreas, e foi a partir daí que começou a entrar em contato com a Comunidade portuguesa.

Viu que a Comunidade lusa estava bastante abandonada, entretanto surgiu o 25 de Abril em 1974, e foi aí que lançaram uma campanha, – porque havia um projeto de portugueses para voltarem à sua “terrinha”, porque tinham construído as suas casas. Heitor, um Sociólogo que não lhe “escapa” nada, muito menos o que se passava na comunidade portuguesa em França, reparou que havia muitas falhas, sobretudo o ensino de português, e foi dentro do movimento associativo que “nós conseguimos implementar a língua de Camões em França.”

Inclusivamente, fundou uma escola associativa para receber os filhos dos emigrantes que tinham ficado com os avós e os cursos incompletos; matemática, português, história, filosofia entre outros. Foi, “dando apoio” até “que a Comunidade teve uma certa autonomia, esteve presente no lançamento da língua e da cultura portuguesa, em França.” Era uma escola associativa, logo a seguir ao 25 de Abril, entre 1977, 1978, e 1979, à sombra de uma igreja que nos emprestava as salas, e chegaram a ter praticamente mais de mil alunos.”

Os jovens que andavam no ensino francês, e que não tinham português, nem história de Portugal , “nós dávamos um complemento”. Havia uma espécie de exame Ad hoc , tínhamos os adultos, que também frequentavam as aulas e faziam também esses exames específicos. Hoje, muitos deles são banqueiros, advogados. “Foi uma grande revolução na Comunidade portuguesa de Paris e arredores.”

A comunidade portuguesa ainda muito afunilada pela ditadura em Portugal, “cultivavam” algum receio logo após o 25 de Abril, receavam associar-se, havia uma Comunidade à volta da Igreja, onde havia a missa, mas nem sempre eram os lugares mais abertos. Depois do 25 de Abril, por volta 75/76 deu-se um grande “movimento associativo ou comunitário”!

À época havia predominantemente duas emigrações, a emigração política, formada por jovens, desertores e que fugiam das guerras coloniais, e havia a emigração económica, as pessoas que fugiam, “não digo da miséria”, mas da pobreza das suas terras. E queriam fazer sua casinha, e regressar a Portugal.

João Heitor, deu conta até pelos estudos que fazia de sociologia, “que estávamos bastante abandonados, e foi com o movimento associativo que se começou a organizar e se deu uma grande explosão; nasceram as associações, os cursos de Português, de História. Para mim foi um momento de luta e ao mesmo tempo de grandes objetivos”, revela com grande entusiasmo.

Os emigrantes pouco e pouco foram deixando o projeto de retorno, e começaram a integrar-se, mas mantendo sempre o seu patriotismo, e a sua portugalidade. “Digo isto porque estudei sociologia.” Sempre “lutei para a integração numa sociedade, neste caso francesa”, e “é preciso conhecer bem as suas raízes, e origens, porque se soubermos donde vimos sabemos para onde vamos.” E isto “é o milagre da Comunidade Portuguesa”. Que rondavam na altura um milhão, um milhão e meio, com as duas emigrações.

Qual é a diferença da emigração dos anos 50 e a atual?

“Não tem nada a ver, porque a França, do mesmo modo que o resto da Europa, que saiu da Segunda Guerra Mundial, era preciso reconstruir tudo, incluindo a terra da fraternidade.”

E essa mão-de-obra que era “dócil”, que se adaptava, “foi uma riqueza para a França”. E com ela trazia a mulher e depois mandava vir os filhos. “Essa migração vinha por questões económicas e depois havia outra emigração, a política, que fugia das guerras.”

Em frança essa migração foi sempre bem vista como força de trabalho. Como mão de obra muito empenhada e que também “tínhamos uma coisa a nosso favor, éramos tradicionalmente uma emigração de origem católica, que se integra no tecido social”.

Depois essa emigração foi conquistando o seu terreno com o trabalho, e depois implementaram-se os bancos portugueses, essa emigração tinha como propósito dar o melhor aos filhos. “E é hoje uma comunidade de pessoas de pequenas e médias empresas e de uma atividade cultural muito envolvente.”

“O meu filho é um dos maiores engenheiros comerciais numa empresa americana, em Paris, na área da cibernética. Na proteção de sistemas.” Refere o Sociólogo, José Heitor.

“Sempre digo que sigo uma linha sociológica, um pensamento”. Hoje há uma Comunidade rica em todos os aspetos, “quer dizer em todos os aspetos, porque nunca deixou as suas raízes; a gastronomia, até religião ou folclore são fatores que em Portugal ainda não se aperceberam disso. São fatores de estabilidade da tal portugalidade, eu já tenho netos. Já estamos na quarta geração!”

A “antiga” e a nova emigração

A Comunidade portuguesa não tem nada a ver com a nossa integração na Comunidade Europeia. “Antigamente, tínhamos que ter uma autorização para trabalhar, outra para viver”. “Tínhamos que fazer os mesmos processos para a legalização”.

Depois da entrada na União Europeia, as coisas foram facilitadas, mas obedecia e tinha que fazer todos os trâmites, não era nada fácil e ainda “sofri isso, como estudante” e “não me deixavam trabalhar”. A União Europeia ajudou muito, dando toda a esta estabilidade. Foi uma viagem longa até chegarmos aqui.

Mensagem, aos portugueses emigrados em França e no mundo, e para aqueles que pretendam emigrar a partir de agora.

“A minha Mensagem como Sociólogo, Livreiro, Professor, Editor. E que fiz todo o tipo de trabalhos para pagar os meus estudos”, é: “não abandonem a língua e a cultura portuguesa. Se conseguirem dar aos vossos netos, aos filhos as raízes.” (Os meus filhos são franceses de origem portuguesa. Não há luso descendentes para mim, no caso de jovens.)

Portanto, “eu acho que a primeira coisa a transmitir é, em vez de dizer, oui merci. Que digam obrigado! “É trazermos de Portugal, a língua. Para mim é o fator principal de integração, o maior êxito como pai e agora como avô foi ter conseguido dar um pouco da minha portugalidade aos meus filhos, a língua, a cultura, e eu consegui.” Diz com orgulho o Sociólogo.

Não é preciso andar nas universidades, através de um livrinho, e hoje com a Internet, pode aprender-se muita coisa. Os governos também podem ajudar. “Mas sentimo-nos um pouco abandonados, por todos os governos, nesta área, sinto-me mesmo revoltado, no outro dia li no Jornal de Notícias: “remessa dos emigrantes é igual à remessa dos Fundos Estruturais da CEE”, “é uma vergonha”. E só para concluir: “Agarrem-se à língua à história, à tradição, à gastronomia. Estou a falar não com patriotismo, mas como sociólogo.”

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Informático de Profissão trabalhou na IBM Portugal. Também fez Engenharia Química. Fernando Guedes Pinto é um amante da cultura...