A associação dos estudantes portugueses da Universidade de Toronto (UTPA) existe há 40 anos. Estivemos à conversa com o seu presidente para conhecer um pouco mais sobre a história da associação e sobre o seu papel na comunidade portuguesa de Toronto.
“No início andei um pouco perdido nesta nova cidade e fiquei fascinado com o mundo dos clubes universitários. Foi durante a minha exploração destes clubes que conheci a associação dos estudantes portugueses da Universidade de Toronto” conta Luís Antunes, o presidente da UTPA.
Nasceu e viveu no Porto (mais especificamente em Matosinhos), os pais sempre quiseram que fosse estudar para o estrangeiro. “Por essa razão, estudei num colégio internacional e sempre tive um ensino com uma vertente em inglês. Já sabia que queria ir para engenharia mas não sabia bem se queria ficar em Portugal para estudar ou ir para o estrangeiro e acabei por escolher a segunda opção” explica.
Quando chegou a Toronto em 2021 para estudar engenharia informática, a Universidade estava aos poucos a voltar à vida depois da pandemia. Assim, no seu primeiro ano como membro da associação houve poucos eventos. Mas desde o seu segundo ano, a UTPA entrou numa fase de transição que levou o jovem a ser presidente. “Quase todos os membros acabaram os cursos, só ficaram três! Além disso, uma grande parte dos registos do clube foram perdidos! Não sabia muito bem o que fazer…” relembra Luís a sorrir.
Mas com a falta de registos e de conhecimento da comunidade portuguesa em Toronto, ele teve que repensar à associação com os novos membros. “Tentamos estratégias novas. Por exemplo, diminuímos o tamanho do nosso executivo, ou seja em vez de serem dez ou doze posições, agora temos só seis. E em vez de esperar que os estudantes viessem ter connosco, fomos nós à procura deles. Acho que correu bem porque temos dezoito membros gerais para além do executivo. A meu ver, não é nada mal para uma associação de estudantes” acrescenta o presidente.
Depois de um início de presidência caótico, Luís está agora com os olhos postos no próximo grande evento da UTPA. Em 2024, o clube celebra os seus 40 anos e dia 1 de Junho haverá uma gala para festejar o aniversário na Casa do Alentejo.
Esta gala anual que existe desde o princípio também serve para dar bolsas de estudo aos alunos do 11º e 12º ano que estão a pensar ir para a universidade e a estudantes universitários. Estas bolsas são para os estudantes lusófonos, ou seja não só para portugueses de Portugal ou luso-canadianos mas de qualquer país que fala português.
“Este ano queremos fazer uma gala um pouco maior e também queremos bater recordes em termos de bolsas de estudos e alcançar 12 mil dólares em cima das bolsas usuais que damos” explica. O valor das bolsas depende das doações que a UTPA recebe da parte dos patrocínios mas encontra-se sempre entre os 500 e 1000 dólares por bolsa. Estes patrocínios são principalmente empresas e entidades da comunidade portuguesa de Toronto que todos anos participam porque percebem a importância destas bolsas e do trabalho da UTPA.
De fato, estas bolsas fazem parte do ADN da associação que sempre teve como objetivo de ajudar a comunidade portuguesa em Toronto. “Porque a comunidade portuguesa, especialmente aqui em Toronto, têm um problema em mandar os filhos e as filhas para a universidade e conseguir pagar as propinas e dar seguimento à vida académica dos mais novos” descreve o presidente.
“O nosso objetivo foi sempre esse: tentar ajudar os jovens portugueses a ter uma vida académica e não acabarem só naquelas posições que estão muito fortemente associadas com a comunidade portuguesa. A ideia a dar-lhes a hipótese (se quiserem obviamente) de continuar a estudar depois do 12º ano” acrescenta.
Por essa razão, a UTPA também organiza eventos onde fala com alunos do 11º e 12º ano para explicar o que é realmente a universidade. Para Luís Antunes, se os jovens “não tiverem pais que foram à universidade, eles não sabem bem como é a vida académica. Por exemplo, eu acabei por querer ser engenheiro informático porque o meu pai é engenheiro informático e creio que muitas pessoas acabam por seguir os pais sobretudo se não tiverem outras influências”.
Além de ajudar a comunidade portuguesa, a UTPA também tem como objetivo de re-conectar os jovens com a comunidade. “À medida que a nossa comunidade vai mantendo as mesmas raízes com Portugal, vai cada vez mais haver um afastamento entre as gerações. A comunidade portuguesa aqui tem uma tendência a ter uma falta de jovens nas associações. O nosso objetivo a tentar proporcionar e criar oportunidades para esses jovens sentirem-se confortáveis na comunidade” conta.
E isso passa pela criação de eventos atrativos para os jovens. Por exemplo, a UTPA organizou uma noite de “Beer Pong” com a Associação cultural do Minho de Toronto para reunir jovens lusófonos: uma oportunidade de “criar o bichinho” segundo o presidente. “Tenho amigos meus que ou entendem português mas não falam ou que estão a querer aprender português e que cada dia que passam comigo falam cada vez mais” descreve.
Para ele, não faz sentido puxar os jovens a falar a língua ou a manter tradições que em Portugal já não são de atualidade. Por essa razão, a associação organizou um evento para os jovens na Casa do Alentejo para falarem da juventude portuguesa e do que é necessário implementar para atrair os jovens.
E aos poucos a UTPA vai juntando jovens à comunidade portuguesa e mudando assim a comunidade. “Este ano temos um membro que não é lusófono (é mexicano) e não fala português mas está muito interessado na cultura portuguesa. Também temos uma rapariga que fala português mas vêm da Malásia. Ela fala bastantes línguas e quer continuar a praticar o português. E há uma rapariga que vêm de Macau que quer aprender o português porque quer falar com a avó. Portanto as pessoas que se juntam a nós têm objetivos diversos e tentamos criar esta diversidade nos nossos eventos e na comunidade” conclui.