Numa conversa descontraída com Luís Filipe Menezes, Presidente da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Árabe, deu-nos uma palavra sobre esta nova função que está a desempenhar. O ex-autarca da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, foi convidado para ser Presidente da Câmara por dois embaixadores importantes e um senhor já na casa dos 80 e tal anos e que foi o fundador da CCILA. A aceitação por parte do Português não foi imediata, “nem pensar, não acredito em câmaras de Comércio”. Mas hoje não se arrepende.
É uma das Câmaras mais antigas de Portugal, e que naquele momento se encontrava parada devido a motivos de doença por parte dos fundadores, e o Covid-19 também não veio ajudar. Tinha uma boa história, boas instalações, e um potencial que nenhuma outra Câmara tem, uma coisa é a Câmara Luso-Alemã, que representa um país, e a outra é a Luso-Árabe que representa vinte e dois países.
As relações comerciais entre Portugal e o mundo Árabe são muito estritas. Mesmo estando “em cima da mesa” vinte e dois países Árabes, mas que não chegam a 2000 mil milhões de dólares. “É ridículo”. Diz Luís Filipe Menezes.
Foi convidado para ser o Presidente da Câmara Luso-Árabe, e “havia uma grande margem de produção, com uma Câmara forte poderia chegar-se a um bom porto. E a sua resposta imediata, apesar de ser feita por dois embaixadores muito prestigiados, e de um deles ser de um enorme país Árabe, Filipe Menezes disse: nem pensar! Nem pensar porque a sua vida não estava para aí virada, e por outro lado, ele não acreditava em Câmaras de Comércio e Indústria.
Puseram-lhe os estatutos em cima da mesa, leu-os de forma enviesada e pensou: se calhar “vou acreditar”. Porque as câmaras de comércio em geral, não quer dizer que não haja exceção. Há quem fale muito bem da Câmara de Comércio luso-Alemã, “não sei”. E dizem muito bem de uma outra. “Não sei, não conheço.”
“Mas quando vi os estatutos”, ficou impressionado. Os representantes portugueses são eleitos em Assembleia-Geral. Mas os representantes árabes não, são indicados pelas autoridades árabes. Três políticos ao mais alto nível, representando a Liga Árabe. Um, representando a Presidência da liga, outro representando o Secretário Económico, o equivalente, ao que será na Europa o António Costa.
E um terceiro, representando a União de todas as confederações patronais Árabes. Eles não têm “como nós” o CIP, o CAP, a Confederação da Construção, não têm uma única Confederação por país que reúne todas as atividades económicas, como é o caso do Armindo Monteiro, do António Saraiva que manda em tudo. Os vinte e dois restantes são os líderes empresariais do mundo Árabe, o que significa que uma interlocução para tratar do assunto da empresa portuguesa, “entre mim”, na qualidade presidente da Câmara Árabe. É como quem manda em todos os patrões Árabes, ou seja, “se eu lhe disser, eu levo aí uma empresa de construção civil para este fim e quero que “tu me ponhas” aí dez ou doze empresas deste setor que estejam propensas a ouvi-lo, não quer dizer fazer negócio, mas ouvi-lo e a poder fazer negócio, é uma diferença substancial.
A segunda condição: Se eu conseguia fazer uma equipa de luxo. E “eu em 15 dias consegui fazer: “tenho cinco presidentes, das cinco maiores confederações de portuguesas na administração.”
“Fui escolher as três profissões liberais principais e o Paulo Sá Cunha da Ordem dos Advogados. O Professor Germano Sousa da ordem dos Médicos e o Professor da Fonseca da Ordem dos Engenheiros. Depois achei que ia buscar gente nova, mas reformada da política. Do PS e do PSD. Ex-ministros como Miguel Frasquilho, Rui Gomes da Silva ou o Doutor Adalberto Fernandes, ex-ministro da Saúde. Fiz uma equipa que modéstia à parte, é melhor que os Conselhos de Ministros, mas isso também não é preciso muito em Portugal, mas é bastante bom. Era a segunda condição que eu colocava.”
Com essas duas condições preenchidas, – “quero dizer que este processo durou um ano até ter aceitado em outubro do ano passado.” E, portanto, quando criou estas condições, disse aos Árabes, “sim Senhor, estou disponível!”. Agora “é da vossa parte corresponderem comigo, ou seja, aos vossos profissionais trabalhar comigo, virem às reuniões, participarem. Por exemplo, nós temos uma administração de cinquenta e tal pessoas, uma administração dessa envergadura não funciona. Depois temos uma Comissão Executiva de onze pessoas que é quem manda, mas os outros quarenta também participam. Nós fazemos zooms bimensais com a administração toda. Para todos poderem participar”
Entusiasmou-o a ideia de poder ao fim três ou quatro anos dizer que começámos com 2000 milhões, e “hoje temos 10 000 milhões de trocas comerciais entre Portugal e os países Árabes. Fizemos muito trabalho de casa, trabalhámos muitas relações pessoais, que penso que com a nossa maneira de ser portuguesa e dos árabes são muito importantes. Nós. Eu e a minha mulher, temos relações quase de amizade de casa, com todos os embaixadores Árabes. Eu acho que isso nunca aconteceu em Portugal, com ninguém nem com ministros do Governo. Isso é muito importante.” Refere Filipe Menezes.
Em outubro vai fazer um ano, mas antes disso houve muito trabalho de casa feito. Este trabalho de casa das boas relações com os representantes árabes na administração que cada país Árabe tem.
Há pouco “tivemos um Conselho de Administração no dia 21, com toda a Administração, houve pessoas que fizeram 15 000 km de avião para vir à reunião da Administração em Lisboa. O Presidente da indústria do Qatar, disse: “eu vim cá porque já sou teu amigo, senão não vinha cá.” Lisboa é a cidade onde fica a sede, mas vão abrir uma sede no Porto daqui a um mês. E a pensar abrir uma na sede na Madeira.
A questão de centrar muito a atividade nas relações pessoais, na amizade pessoal, na confiança é muito importante. “Não posso dedicar esta minha vida toda a este projeto, porque também tenho outros assuntos a tratar, mas dedico dois dias por semana à Câmara de Comércio em Lisboa. Também trabalhamos por Zoom, com os Presidentes de Câmara e empresários.”
O mandato é de quatro anos, mas “ficaria satisfeito” de transformar aquilo que é uma empresa artesanal, transformá-la numa empresa High Tech, ou seja moderna, com sites modernos, com modos de comunicação moderno, com procedimentos modernos. “Já ficava satisfeito com isso. Estou particularmente satisfeito com as pessoas que tenho conhecido. Não tenho salário, trabalho probono, pagam-me as viagens.”
Visão de Portugal visto do lado de lá
“Eu acho que Portugal nunca teve nos últimos 30 anos, uma estratégia de política de estrangeiros”. A estratégia de política de estrangeiros chama-se União Europeia, está presente nas reuniões e cumpre formalmente o seu projeto europeu, e com pouca ambição, “penso que com projetos como a CPLP, são falhados.” Quando vemos a Rússia a tomar conta da São Tomé e Príncipe e da Guiné-Bissau, “só demonstra um atestado de incompetência à política externa Portuguesa nos últimos 20/30 anos.” Argumenta o ex-autarca.
É um projeto falhado que espera possa ser recuperado, não vai ser fácil e depois, além disso, há uns assuntos esporádicos de algum voluntarismo, como houve com António Costa em relação à Índia, mas não há uma estratégia global, permanente.
Em relação ao mundo Árabe, considera que existiam condições, históricas, culturais. Os Árabes “pressionaram-me”, (não me obrigaram, fiz o que queria fazer) a ter na Administração o representante da Indústria do Futebol, na altura não percebeu o porquê?
Agora já percebe. A ter um representante da Indústria da moda feminina, e ter um representante da Indústria do cinema.
Escolheu Fátima Lopes, o Presidente da Liga, Pedro Proença, e José Miguel Cadilhe, realizador de cinema. No primeiro mês o realizador Miguel Cadilhe estava a apresentar um filme muito bom, uma película sobre a Batalha Alcácer Quibir, sobre a visão Árabe e Portuguesa, da Batalha de Alcácer Quibir. A relação histórica sobre estes dois mundos, o Árabe e o Português.
Em 1500, 1600, “comia-se com a mão na Europa, mas os Árabes já dormiam em Palácios como os de Granada, e os Portugueses e os Árabes, o Vasco da Gama chega à Índia, com um piloto Árabe contratado em Mogadichiu”, para resumir, as relações entre Portugal e Árabe são extraordinárias do ponto de vista histórico. Do ponto de vista de idiossincrasia, de maneira de ser, de convivência, “estou mais próximo de Árabe do que de um Filandês, sou um europeu convicto. É isso que gostaria que os Portugueses entendessem.”
Emigrantes portugueses no mundo Árabe?
Os emigrantes portugueses no mundo Árabe são um número muito reduzido, arrisca a dizer menos de trezentos mil, e a razão. Há pouca emigração portuguesa, mas por outro lado antiga e bem sucedida, em Omã. Uma grande maioria das empresas de construção civil nomeadamente pedreiras de Omã, são empresas portuguesas há 20/30 anos.
A capital mais próxima de Portugal não é Madrid, é Rabat em Marrocos, no entanto as trocas comerciais entre Portugal e Marrocos são inferiores a mil milhões de euros. Deviam ser semelhantes às que temos com a Espanha, mas não são. “Nós precisamos é que haja trocas comerciais e não emigração, nos dois sentidos.” Finaliza Luís Filipe Menezes.