Manuel Cunha estudou em Portugal e fez o curso de auxiliar de fisioterapia no Porto, onde conheceu a sua atual esposa, natural de Macau. “Em 2009 as coisas no país estavam muito difíceis”, e tomaram a iniciativa de sair e irem para a terra da sua cara metade, Macau o destino. Foram tentar a sorte, e o saldo
tem sido positivo, apesar de algumas mágoas sobre o estado do país que o viu nascer, mostra-se um pouco “revoltado” pois o país
podia estar muito mais desenvolvido, virado para o futuro, e as conversas de café mudassem um pouco a retórica da política (mal interpretada) e do futebol que continuam a fluir na mesma direção, desde que saiu de Portugal.

Na altura quando saiu da Universidade estava um pouco difícil entrar no mercado de trabalho. As candidaturas de emprego eram um verdadeiro desafio, refere Manuel, exigiam pessoas jovens, mas por outro lado com experiência de três anos, “o que era incompatível”. Está em Macau desde 2009 e lá trabalhou na sua área como Fisioterapeuta e como Técnico de Informática, pois tem conhecimentos nessa área devido ao seu passatempo preferido.
“Trabalho numa empresa, nos grandes Casinos de Macau. Trabalhou numa empresa privada que prestava esses serviços também nos casinos.” Tem trabalhado num verdadeiro leque de locais.

É técnico de Fisioterapia que faz em part-time. Quando foi para Macau tinha 28 anos, e havia muitas barreiras, desde logo o idioma, e a cultura. Mas também teve e tem aspetos positivos, abriu novos horizontes que em Portugal é impensável.
Passados 14 anos fora de Portugal diz que as pessoas em Portugal têm a mente um pouco “fechada”, é o que vê quando vai a Portugal “é sempre mais do mesmo, as conversas são sempre as mesmas,” de há 10 anos ou 15 anos, está tudo igual, “estão formatados e os principais meios de formatação são os media, o Governo mantém o povo escravos, com os impostos.”

Os governos quando se veem “aflitos” de dinheiro a primeira coisa que fazem é sobrecarregar com mais um imposto os trabalhadores, garantir a qualidade de vida dos portugueses torna-se difícil, há muito desemprego, e há aquela velha ideia “o povo português não quer trabalhar”, “na minha opinião não é bem assim”. A carga de impostos sobre os salários é tanta, que às vezes o português pensa desta forma: “É preferível ficar em casa e receber X do que estar a pagar para ir trabalhar.”
“É o que eu vejo”, as conversas são sempre as mesmas; política e futebol. Fora do país tem-se mais hipóteses de sair, de viajar, “tenho um amigo meu com 50 anos, que saiu pela primeira vez de Portugal quando fez 50 anos, isso em qualquer parte do mundo é impensável,” fora do país as pessoas conseguem sair, ver outras culturas, ver outras pessoas, diferentes maneiras de pensar e de viver a vida. “O que nos faz mais atentos a tudo o que nos rodeia, e nos faz crescer intelectualmente.”

Em Portugal “não há um incentivo, está impossível viver com os salários, e no que toca às empresas aplica-se o mesmo, impostos por todo lado”. Portugal podia estar no topo, tem uma geografia boa, está bem localizado, é culturalmente rico, mas depois vêm as políticas públicas e estragam tudo, não dá para perceber.” Desabafa Manuel.
A comunicação Social são as peças fundamentais nisto tudo, refere Manuel, os media são o setor mais importante, porque têm muita influência no país. E dá um pequeno exemplo: “falando das televisões, diga-me um canal português que fale sobre cultura política, nomeie-me um? Um programa que instrua sobre o que é a política que instrua os portugueses.” Nenhum, diz com firmeza, “não há literacia política.”
Há muitos estrangeiros que optam viver em Portugal e que trabalham remotamente com os seus países de origem, “nós temos um país bom, nós é que não sabemos aproveitar aquilo que temos. Portugal é escravo”.
Continua tudo na mesma, ou vão para a praia, ou vão para o café falar de política e não sabe o que estão a falar. “E quando a política quer ocultar alguma coisa, “de um acidente muito grave”, os media ficam todos à volta daquilo, só para distrair sobre o que é mais importante, “pelo menos é isso que eu vejo”, o que é Portugal neste momento. Sou uma pessoa que veio para Macau novo, com 28 anos, porque já nessa altura Portugal não me ia dar o meu futuro. A minha esposa fala Português, Chinês, Inglês é fluente, estudou Arquitetura na faculdade de Lisboa, neste momento ela doutorada em Design de moda, e é professora na Escola Portuguesa de Macau. E vão a Portugal uma vez por ano nas férias de Verão.
