Crianças da Casa Lar, da Associação “Mãos por Cazombo”
Porque ajudar nunca é demais, a Associação “Mãos por Cazombo”, ONG portuguesa tem como missão ajudar quem mais precisa, nomeadamente populações de uma cidade de Angola que fica a muitas horas de distância da capital angolana.
“Tudo começou com uma ideia.” Inicia desta forma a Presidente, Maria José Ribeiro, de um sonho, uma visão, e um desejo de Sara Ferreira Cardoso, Luso-Angolana, oriunda de Cazombo que fica a 1600 quilómetros de Luanda. O projeto teve iniciou em 2004, no pós-guerra em Angola. Foi visitar a família a África, nesse ano, e ficou bastante afetada emocionalmente por toda a miséria e devastação que Luanda, e não só, se encontravam.
Se Luanda estava naquelas condições, ela pensou como estaria Cazombo? a sua terra natal, que fica na província do Moxico, a Leste de Angola. É um cantinho, um “quadradinho” geograficamente delimitado no mapa, e uma zona bastante afastada e, às vezes um pouco esquecida.
Nessa viagem, sofreu um grande impacto no coração e mente de Sara Cardoso. Regressou a Portugal, e tudo que tinha visto não lhe saía da cabeça. Como é que estará Cazombo? Como é que estará a minha terra natal?” Como é que está esta vila?”, Estas questões continuavam.
Viu que Luanda estava uma miséria, crianças por todo o lado com fome e ao abandono. Enfim, uma lástima, e ela pensava que Cazombo deveria estar esquecida completamente.
Em Portugal, compartilhou com a Comunidade da Igreja Evangélica de Renovação, da qual fazia parte e mantém ligação. Compartilhou com a direção e os pastores da Igreja, “bem como comigo e com o meu marido”, refere Maria João Ribeiro a Presidente da “Mãos por Cazombo”.
Na altura a própria Comunidade começou a trabalhar no sentido de enviar Sara Cardoso novamente a Angola, mais especificamente a Cazombo, para conhecer a realidade da sua terra natal, e a partir daí “começamos a montar em concreto um projeto de âmbito social e de auxílio, principalmente às crianças que estariam órfãs. Ela foi enviada em 2006, com esta missão a Cazombo”.
Sara Cardoso regressa, e a partir dessa altura, “juntamente com ela começamos na preparação e elaboração de um projeto a colocar no papel, todas as ideias e tópicos importantes para o arranque de uma ação concreta e com objetivos.”
Foi então que no final de 2008, foi para Angola, e chegou a Cazombo já enviada pela Comunidade Igreja Evangélica, a 10 de março de 2009. Pode-se dizer que foi a data que iniciou, a “Mãos por Cazombo”.
Em Cazombo havia uma casa da família da Missionária, onde acontece toda a ação no cuidado de crianças. É uma casa que está cedida gentil e generosamente pela família de Sara Cardoso, para a execução deste trabalho até ao momento. Esta Casa tem sido alvo de alguns restauros e alguns melhoramentos e acrescentos para albergar as crianças.
Quantas pessoas é que a “Mãos por Cazombo” ajuda?
Começaram por ajudar duas, três crianças e tem vindo a crescer. Neste percurso de 15 anos que a missão tem, há casos bastante desafiantes pois nem tudo são rosas, pois há situações de difícil resolução, diferentes contextos, e culturas. “Tivemos talvez três, quatro adolescentes, que chegaram crianças à missão e que depois, na adolescência saíram por livre e espontânea vontade. “Porque o contexto cultural é muito forte, nomeadamente no que diz respeito às meninas que iniciam a sua sexualidade e gerar filhos muito cedo”. “Tivemos que as deixar sair. Atualmente temos 32 crianças e jovens, e uma viúva que cuidamos integralmente na Casa Lar.”
São uma família. A Associação mostra e pretende ser sempre uma família, e todas as crianças e jovens que vivem ali, são irmãos uns dos outros, têm uma mãe, que no caso é a Sara Ferreira Cardoso, a Missionária que se dedica a tempo inteiro no cuidado desta família.
“A criança mais nova tem 3 anos, chegou há relativamente pouco tempo, mais ou menos há 6 meses,” por orfandade da parte da mãe, pois o pai não tem recursos para para cuidar dos filhos, nem a família. Pode-se afirmar que a Vila Cazombo tem “muitas carências.”
De onde vem o apoio?
“O nosso apoio é integral. Desde crianças que chegam sem documentação e que não foram registadas, ou porque perderam os documentos e não há registos. O trabalho da Associação é registar todas as criança e depois com os órgãos do governo, dar apoio a todas elas”. Toda a alimentação e educação é assegurada. Também chegam à missão adolescentes com 10,12 anos, que nunca foram à escola, e esse é mais um desafio que temos que encarar.” Também precisam de roupas, ter acesso à saúde, que é um pouco deficitária naquela região, bem como o cuidado integral a nível espiritual.
A angariação de fundos é feita em Portugal?
“Nós somos uma associação constituída em Portugal, reconhecida pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, com o estatuto de ONG, desde 2010, e temos a sede em Portugal, no Porto, e todo o trabalho de levantamento de recursos, é gerido aqui.”
Enviam de Portugal todo o financiamento para a missão que é gerido por Sara Ferreira Cardoso. Portanto, “o sustento destas crianças, vem basicamente através de campanhas que nós fazemos”. O programa de apadrinhamento de crianças através desta ação vai para estas crianças, e que no total, “conseguimos garantir o funcionamento e o cuidado das mesmas.”
Pontualmente têm alguns donativos que vão chegando individualmente, pessoas a título particular, que vão dando apoio.
“Temos uma conta bancária da Associação, tudo entra nessa conta da mesma e esta com os seus órgãos diretivos fazem a gestão. É enviado o sustento para a missão destas crianças e para todas as necessidades que vão surgindo.”
A pessoa mais nova da Casa tem 3 anos, e a mais velha, é uma jovem que tem 29 anos, que está a estudar, a fazer enfermagem em Angola, “está a frequentar o quarto ano”.
O objetivo da Associação centra-se todo no projeto “Mãos por Cazombo”, não ajudam outras Associações ou ONGs. O objetivo, da “Mãos por Cazombo” é direcionar todos os recursos para Angola, mais objetivamente para Cazombo.
Têm projetos futuros que passam pela construção de novas estruturas de Casa Lar, nomeadamente a ampliação, e construção de raiz, esse “é o nosso projeto”. Com o objetivo de albergar mais crianças e jovens, e apoiar mais a Comunidade da vila, ou seja, ter espaços polivalentes tanto para refeitório comunitário de apoio social, dando refeições. Como criar um posto de enfermagem, através desta jovem que está a ser formada, e que já é fruto do trabalho da instituição. “Ela está connosco desde o início, quando tinha os seus 15 anos, há pelo menos 14 anos.” Para além do projeto de saúde, com um posto de enfermagem médico, também é necessária uma escola.
Casos de sucesso?
“Os principais casos de sucesso são as pessoas”, refere a Presidente, como por exemplo “salvar vidas, salvar crianças, uma delas foi tirada num ambiente de abusos sexuais”, e também proporcionar um futuro e esperança, dar-lhes ferramentas para o futuro.
“Temos um jovem que está a estudar no Magistério, para ser professor de escola primária, e temos dois jovens a terminar o 12º ano, que querem fazer um curso Teológico, e seguir estudos de engenharia mecânica, para servir na sua terra natal, estes casos são de muito sucesso!” Exemplifica a Presidente.
Uma mensagem de “Mãos por Cazombo”
“Continuarmos a amar o próximo, pois é o ponto principal. Cada um de nós tem dentro de si esta marca de ir ao encontro daqueles que não podem, que não têm condições por diversos motivos para se levantarem, de começarem a caminhar sozinhos. Para aqueles que podem estar a olhar de braços cruzados, sem saber o que fazer, que não tenham receio em se envolver. Porque pode ser pouco, mas o importante é não desistirmos de continuar a amar, e amar é um verbo, e um verbo é uma ação, e precisamos de prosseguir e nunca desistir. Fazemos este trabalho por amor ao próximo, somos todos voluntários”, termina a Presidente.
A Associação Mãos por Cazombo – ONGD – Missão de Ajuda Humanitária em Cazombo – Angola.
www.maosporcazombo.org