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Quinta-feira - 23 Janeiro 2025

EXCLUSIVO: Nelson Ferreira o artista plástico português está a fazer sucesso, até a Disney contratou os seus serviços

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Foto de Luís Seabra

Oriundo da margem Sul, estudou nas Belas Artes de Lisboa, em pintura, depois foi para Londres a convite de um amigo. Pretendia ficar por lá temporariamente a fazer algumas exposições, e arranjar um trabalho de Verão. Reparou quão rápido era o mercado britânico, não só o mercado, mas também a arte, comparada com Portugal, e já se passaram 20 anos. Neste momento, o “Reino Unido está está acabado” e não recomenda as pessoas irem para Londres nesta fase, porque desde o BREXIT , “a economia britânica colapsou”. Está “melhor do que nunca para as elites”. Mas para o cidadão comum, não. Mudaram as leis para não serem reguladas pela União Europeia. Reflexos dos novos tempos.

Foto de Leandro Fuzeta

Em Londres começou a estudar técnica clássica no London Atelier of Representational Art, e também fez estudos na Prince’s Foundation, que hoje em dia se chama The King’s Foundation, porque, entretanto, o Príncipe Carlos tornou-se Rei. É a maior universidade do mundo que ensina técnicas históricas de arte, têm mestrado e doutoramentos em técnicas antigas, como por exemplo, iluminura islâmica, pintura de miniaturas persas, pintura de miniaturas indianas, iconografia bizantina, etc.

Também têm pintura flamenga do século XV, semelhante aos painéis portugueses de São Vicente. Só para ter uma ideia do estilo aquilo a que chamamos os flamengos primitivos, ou os portugueses primitivos, foi lá que também aprendeu esses métodos.

Foto de Leandro Fuzeta

Foi viajando pelo mundo e estudando com mestres de várias partes do globo. “Passei vários meses na Índia a estudar pintura de miniatura Indiana em estilo Mogol. Também estive no Nepal e na Índia a estudar Tanka, que é um estilo de pintura budista, muito antiga” que aprendeu com vários mestres.

A pintura Tanka, é bastante antiga. A pintura Mogol é um pouco mais recente, e data mais ou menos do século XVI, XVII.

São tradições centenárias que não foram alteradas. E que ainda existe a verdadeira mestria, “quando vemos um mestre a pintar, ficamos de boca aberta, porque o nível de qualidade técnica, aquilo que em arte se chama o Métier.

Nessas tradições não se perdeu o conhecimento acumulado de vários séculos, cada mestre transmite aos seus discípulos. Os discípulos aprendiam tudo e com muita atenção. É um treino muito rigoroso, na qual o conhecimento é passado para as novas gerações, que acrescentavam ainda mais alguma coisa, e passavam à geração seguinte, estamos a falar de séculos de saber acumulado, que era transferirido de geração em geração.

No Ocidente “não temos nada disso”. Anda tudo a tentar reinventar a roda. E ninguém aprende nada com ninguém e quando aprendem alguma coisa é “superficial e transitória, é apenas uma espécie de experiência ao longo da vida,” acrescenta.

As pessoas vão saltando de experiência em experiência e depois “não aprofundam nada mesmo a sério, e eu apercebi-me disso. Quanto mais estudava técnicas de pintura de outras partes do mundo, mais me apercebia das minhas próprias ineficiências a pintar.”

Foi no Oriente que aprendeu a pintar como “deve ser”, e e as instituições em Londres. Mas a faculdade de Belas Artes, foi importantes em termos teóricos. Mas em termos práticos, foi lá fora, principalmente no Oriente, onde esteve pela primeira vez a estudar quando tinha 24 anos de idade. Depois foi para a Turquia, onde permaneceu quatro meses a aprender uma técnica islâmica que se chama Ebru.

Ebru é uma técnica de marmoreado em que a tinta flutua na água. Trabalha-se a imagem como se pretende e a seguir põe-se uma folha de papel por cima, depois passa para o papel, e faz uma impressão. “Estive vários meses em Istambul a estudar Ebru, foi talvez a minha primeira técnica não ocidental que eu aprendi.” As técnicas que aprendeu são uma fusão, “porque tudo o que nós aprendemos fica connosco”.

Porquê Londres?

Em Londres, o seu trabalho principal trabalho é artista plástico. Tem lá a esmagadora maioria dos seus clientes, mesmo que não sejam britânicos, passam por Londres e acabam por encomendar obras que depois vão para várias partes do mundo, principalmente para o Médio Oriente. Também dá aulas a em várias instituições como empresas de advocacia, bancos, etc. ensina pintura, ou então de história de arte.

Em Portugal, acabou de abrir duas academias de Arte, uma no Porto, a “Academia de Inverno”, está no próprio Museu Nacional Soares dos Reis, e onde Nelson dá aulas com o Professor e artista Pedro Santos Silva (doutorado em arte contemporânea e diretor da Escola da Utopia – Arte & Ideias). E outra em Lisboa. “E digo Academia porque estou mesmo a usar o termo que era usado no século XIX, ou seja, eu estou a dar aulas semelhantes àquelas que eram dadas nas grandes academias de Belas Artes de Paris em meados do século XIX, que era treino clássico”. Ou seja, o desenho de observação, desenho à vista, mas muito realista, com muita competência técnica, com muito métier.

Em Lisboa tem “O Atelier”, que fica no antigo estúdio do atelier de José Malhoa, no Saldanha, na casa Museu Doutor Anastácio Gonçalves. As turmas estão sempre cheias porque há um grande interesse. Há uma grande procura por cursos de arte em que se possa aprender a este nível, porque as pessoas já estão fartas de ter aulas de arte e não aprenderem nada, e ser “tudo muito subjetivo, isso já não funciona nos dias de hoje, principalmente entre os jovens”. Porque querem aprender técnica clássica. A maior parte deles quer fazer banda desenhada ou trabalhar na indústria de animação, e então têm que saber desenhar mesmo muito bem. Como nos relatou o artista plástico.

Até porque os prazos são “absolutamente loucos” e um um animador ou um desenhador, às vezes tem menos de 24 horas para criar uma imagem poderosa.

Walt Disney

Também dá aulas aos artistas da Walt Disney. Há 3 anos que ensina desenho e pintura aos artistas da desta empresa internacional, e também outros gabinetes de animação. O objetivo é fazer com que eles desenhem cada vez melhor, e sejam cada vez mais eficientes a criar as imagens que têm prazos a cumprir.

“Estou a falar mesmo dos gabinetes da Disney que contratam milhares de animadores”. Milhares de artistas, têm gabinetes pelo mundo inteiro, nos Estados Unidos, no Canadá, no Reino Unido, em Singapura, Índia e mais um ou dois. E dá aulas nesses gabinetes todos. Em Londres pode ser presencial, mas no resto do mundo costuma ser online.

“Não sei como chegaram a mim, recebi um telefonema da Disney através de um dos gabinetes que se chama Industrial Light and Magic, ILM. Fizeram todos os filmes de James Bond, a Guerra das Estrelas, já ganharam uma série de óscares. Fui contratado em Londres para dar aulas aos artistas deles que se encontram na capital britânica.”

A Disney é gigante, têm muitos departamentos diferentes e depois cada um é especializado numa só coisa. “Infelizmente ainda não me pediram as minhas pinturas, até agora, mas seria uma boa ideia.”

Também se tornou Professor convidado em várias faculdades de Belas Artes no mundo inteiro. “Especializei-me em métodos de desenho e de pintura do século XV e do século XIX, mas é principalmente o século XIX que me leva a dar aulas em várias faculdades de Belas Artes, um pouco por todo lado, incluindo em Lisboa,” onde estudou, também lecionou na Universidade Autónoma da mesma cidade e nos mais diversificados países.

Este ano teve uma experiência que o marcou profundamente. Esteve a dar aulas para a Universidade de Daca, na capital, depois rebentou a “Revolução no Bangladesh”. O exército começou a disparar sobre os seus alunos. Estava emocionalmente muito ligado a eles. Criou uma relação excelente com a turma. No total morreram 300 alunos universitários, este acontecimento deu-se este verão de 2024, a imprensa ocidental quase que não falou do assunto.

Foi uma autêntica revolução em que milhões de pessoas saíram à rua em defesa dos alunos e o governo acabou por cair. Neste momento está um governo de transição. Acabei de vir do Bangladesh, estive lá em janeiro e fevereiro em Daca, e quando “começo a receber as mensagens dos meus alunos a mostrar-me o que é que estáva a acontecer no país, eu não queria acreditar.”

Foi nessa altura que “ativei o programa de emergência da Universidade de Daca. Durante várias semanas, a universidade foi fechada por questões de segurança. Eu estive a garantir as aulas dos alunos durante essas semanas e foi uma loucura e sempre de coração nas mãos. Agora, as coisas acalmaram a Universidade reabriu, já não há violência.

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