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Sábado - 17 Maio 2025

EXCLUSIVO: O Homem das Engenharias em terras Belgas, o Aço Verde é o futuro

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João Félix é português, nasceu e viveu nas Caldas da Rainha até aos 15 anos de idade. O seu pai queria que tivesse uma formação académica num país democrático, e foi então que decidiu ir para a Bélgica sozinho, onde fez e terminou os estudos secundários e se formou em Engenharia, em Eletromecânica e em Eletrónica Industrial. Mas o seu coração ficou na sua terra natal e na memória a região que ainda adora e ama, a Foz do Arelho, que “é minha a minha pátria”.

Saiu de Portugal em 1972, faz mais de 52 anos que está fora do país. Ainda fala muito bem português, mas já se nota um pouco o som francófono. É normal, mais de cinco décadas a viver no estrangeiro, está atualmente na Bélgica, mas também teve a experiência de vida em França, a trabalhar sempre na área da Siderurgia, e atualmente está à frente de um projeto piloto na produção de Aço Verde, com a utilização de energia limpa.

Na altura quando era ainda estudante de Engenharia conheceu uma Belga, que viria a ser a sua atual esposa. Pensaram em viver em Portugal, mas não havia trabalho na área das Engenharias, nomeadamente em Engenheira Eletromecânica. O país ainda estava mergulhado nas águas profundas da ditadura e mesmo na Bélgica foi a primeira mulher na sua Universidade a formar-se em Engenharia, uma área que era, e continua a ser, muito dominada por homens.

Na altura não sabia falar português, mas agora fala muito bem, segundo João Félix, e num tom de brincadeira refere que até fala bem demais!

Viveram em vários lugares na Bélgica. Quase todos os sítios em siderúrgia, viveu na França, mas voltou para a Bélgica, pois tem lá toda a família, as filhas, os netos, as netas. “É a minha segunda terra, a segunda segunda pátria.” Refere João Félix da Silva.

A integração na Bélgica

Aquando a sua mudança para a Bélgica há 52 anos, foi viver para uma espécie de cidade estudantil em regime quase de internato para estudantes, e passados três meses, e porque a necessidade de se comunicar assim o exigia, começou a falar francês. “Quando se é jovem e não se tem outros contactos com outra língua, aprende-se muito rápido a falar esse novo idioma”, explica.

A integração na Bélgica foi relativamente fácil, mesmo na altura em que Portugal não fazia parte da CEE, Comunidade Económica Europeia, começou a trabalhar. Não teve grandes problemas de adaptação, pois os portugueses, normalmente devido à cultura, integram-se bem a outras realidades.

Foi CEO de grandes empresas siderúrgicas durante 35 anos. A siderurgia é uma unidade em que têm altos fornos nas fábricas de aços laminadores. São empresas em que teve a seu cargo entre 3.500, a 4.000 mil pessoas, na Bélgica e também na França.

Esteve, e continua a estar ligado à siderurgia, neste momento encontra-se numa empresa de engenharia que está muito ligada a essa área. Atualmente é Conselheiro do Presidente do Grupo da John Cockerill. E do chairman, e também administrador de um centro de pesquisas metalúrgico.

Hoje o que faz é desenvolver unidades para fabricar aço verde, são novas fábricas que ainda não existem. O aço verde não polui, quando se faz aço à maneira tradicional e antiga, por cada tonelada de aço, produz-se duas toneladas de CO2. Portanto “eu já produzi muitas toneladas de CO2 durante a minha vida”.

Agora está a trabalhar em novas tecnologias, para fazer novas fábricas para produção de aço designadas Green Steel, que são novas tecnologias, onde existem outras maneiras de produzir esses aços, através do hidrogénio.

“Nós somos o maior fabricante da Electrolisadores do mundo. A nossa fábrica, é a maior produtora a nível mundial. Estamos com essas novas tecnologias.” São as fábricas do futuro para a produção de aço.

A empresa onde trabalha chama-se John Cockerill. Já têm duas fábricas piloto de pequena dimensão. A fase laboratrial do centro de pesquisa já foi feita, “fizemos uma primeira fábrica piloto na qual obtivemos muita aprendizagem, estamos a acabar e vamos arrancar em março deste ano com a segunda fábrica que se chama Volteron. De seguida vamos passar à fase industrial, que consiste em produzir milhões de toneladas de aço por ano.”

“Fizemos primeiro quilos, agora fazemos na fase piloto, algumas toneladas e depois vamos passar ao milhão de toneladas.”

Há 20 anos “que trabalhamos” nesses projetos inovadores, e vai ser utilizado por esse mundo fora: em França, Brasil, América, Índia, na China, etc.

Em Portugal porque não?! “Era o meu sonho ver uma fábrica de aço limpo, com os projetos de hidrogénio”. Houve a certa altura um projeto para uma fábrica de aço limpo, em Sines, falou-se nisso e vamos ver se avança. “Se isso acontecer é bom para Portugal. Porque temos a energia, temos um dos trunfos a nível nacional que é a energia renovável.”

A energia renovável em Portugal ainda está em desenvolvimento, e pode-se desenvolver ainda mais. Já houve em tempos passados grandes indústrias siderúrgicas, mas agora são de pequena dimensão. “Seria bom para Portugal, poder também acolher essas novas indústrias, que consomem muita eletricidade, daí a necessidade da energia renovável para o funcionamento das mesmas.”

Durante os seus 35 anos de trabalho nesta área, viu alguns portugueses a trabalhar nessas fábricas, mas neste momento pensa que é apenas ele e mais um português, num universo de seis mil trabalhadores, o resto foi para França.

Uma mensagem aos nossos governantes

“A minha Mensagem é que as energias renováveis e o hidrogénio, não fazem sentido de as desenvolver se não houver uma utilização industrial que possa ser usada.”

É importante ter projetos industriais, e com esses projetos limpos, utilizar essas energias renováveis porque se amanhã quisermos que as coisas mudem em Portugal, e que seja benéfica para os portugueses, temos que trazer essas mais valias para o país. “É preciso implementar novas indústrias, e não ter medo de se lançar nessas área, fazer energia renovável e fazer hidrogénio sem saber qual o seu objetivo, não serve para nada.” Termina João Félix.

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