No menu items!
17 C
Vila Nova de Gaia
Sábado - 19 Julho 2025

EXCLUSIVO: O PNUD e a transição energética nos países da CPLP

Destaques

Carlos Salgado, é Especialista Regional de Energia do PNUD. Apoia a região da América Latina e Caraíbas ao nível regional, e trabalha para o hub de energia sustentável do PNUD global. Desempenha a função regional com a América Latina e Caraíbas com a energia, principalmente com finanças, e energia. Mas também tem responsabilidade global, com o apoio do hub finanças e energia nomeadamente com os países de África e da Ásia. O PNUD faz essa conexão de energia com o desenvolvimento.

Carlos, trabalha muito com a América Latina e Caraíbas, com o Brasil, Cuba, Bolívia, Paraguai, e El salvador, entre outros países. Dedica o seu tempo na transição energética justa, não é só transição energética pela transição energética. “Temos uma agenda e vamos implementar.” Refere Carlos Salgado. O que faz no PNUD, neste momento, tem o hub da energia, primeiro acesso à energia para a África, que é um continente que ainda tem milhões de pessoas sem acesso à energia.

O caso do apagão em Portugal, “em que ficamos horas sem energia, viu-se o desespero generalizado.” Imagine-se estar nessa situação todos os dias. Daí a prioridade número um para a África, “termos a transição, e acelerar a transição energética justa”, salienta o funcionário do PNUD.

É muito importante para a África, e também para a América Latina e Caraíbas. Estão nessa linha, principalmente nestes países das Américas. E “temos dois pilares dentro dessa linha de transição energética, o acesso à energia, apoiar os países e a escalar o investimento”. Descreve o mesmo.

Existe investimento em transição energética, em 2004 a energia foi calculada mais ou menos 3 mil milhões de dólares, desses 3 mil milhões, 2 mil milhões foram em energia verde. A energia verde desenvolvida, está em franca expansão e desenvolvimento, 85% dessa energia foi maioritariamente para a Europa, Estados Unidos e China.

O resto ficou com 15% dos investimentos, em países grandes em desenvolvimento, como o Brasil, e a Índia, e 7% do investimento em energia verde para o resto do mundo. Daí a importância para Carlos Salgado, “apoiarmos os países em desenvolvimento a escalar esse reforço, para que possam receber investimento nas renováveis, eficiência energética, transporte elétrico, etc.”

A parte da transição energética justa. Para o PNUD, como Agência de Desenvolvimento, é muito importante conectar esse investimento com as prioridades nos desenvolvimentos locais. Ou seja, “estamos num processo de apoiar os países a dar prioridade nesses investimentos.” Salienta.

O Investimento público é muito limitado hoje em dia. Há algumas dimensões de desenvolvimento que “nós trabalhamos, que é a mudança climática, que é muito importante, na redução de emissões, e a agenda global.” Adverte.

Ao nível local há investimento em energia verde. E é aí que se entra na dimensão económica que muitas vezes pode gerar um impacto fiscal positivo. Como é o caso de Cuba, de São Tomé e Príncipe, e Cabo Verde. Têm uma forte dependência de importação de combustíveis fósseis. Têm que gastar grande parte do orçamento público na importação, tendo que diminuir o investimento em áreas como a educação a saúde e o desenvolvimento.

É uma realidade que se vê e que a transição energética para as energias verdes apoia muito o tema económico. Este tema, onde se enquadra a geração de emprego nas comunidades locais, e se verifica alguns investimentos, principalmente na América Latina, em grandes indústrias de plantas eólicas e solares. Há comunidades que não têm acesso à energia. “É uma situação que não pode acontecer,” segundo Carlos Salgado, logo há a necessidade de dar prioridade ao setor público no investimento com base nas mudanças climáticas, na área social, e no género, por exemplo, algumas mulheres estão envolvidas. “Como é que vamos alavancar o investimento público com investimento privado, essa é uma questão que tem que se colocar.” Referiu. A parte da governança e finalmente, não menos importante, principalmente em África, na América Latina, que têm grandes parques naturais, áreas protegidas, a parte do meio ambiente e biodiversidade.

Alguns desses investimentos poderiam ser feitos em parques naturais, pondo em risco e até mesmo destruir o capital natural. Para receber investimento, tem que ser considerado o desenvolvimento sustentável como parte dessa transição e a “nossa visão é essa, mais energia para desenvolvimento, estamos sempre a apoiar, a escalar o investimento, e tentar trabalhar o impacto do desenvolvimento positivo, não é só apoiar e escalar o investimento.” Refere Carlos Salgado.

Considera que descaracteriza o país, a energia fotovoltaica, com os painéis solares e a energia eólica, com turbinas geradoras de energia. Pensa que causam forte impacto nos países ou nas áreas onde eles estão implementados? Considera um fator positivo ou negativo na produção de energia verde?

“Eu trabalho na área de finanças, tento estruturar ferramentas para fazer essas análises, a ferramenta principal que nós estamos a estruturar no PNUD é uma ferramenta de impacto de investimento para transição energética justa, para analisar essa situação.” Salienta.

Ou seja, “nós estamos a trabalhar nessa área específica no Brasil, no nordeste Brasileiro, onde a transição energética é uma prioridade. Mas temos que apoiar os tomadores de decisão públicos a dar prioridade ao investimento, onde vão canalizar os subsídios, os fundos e estruturar as regulações.” Descreve.

Segundo o funcionário do PNUD, “essa é uma ferramenta de impacto que estamos a trabalhar no Brasil”. Para a transição energética, para o investimento. Com a tese de investimento para transição energética justa, é totalmente diferente, dependendo da região no país, e de país para país.

Para Cabo Verde ou São Tome e Príncipe, por exemplo, Cabo Verde está muito avançado no acesso à energia, são os mais avançados de África, 97% tem acesso à energia. Mas conectar também com o crescimento económico, e com o setor turístico.

No nordeste do Brasil, existe uma grande discussão onde se fez a primeira transição energética. Já tem a matriz de energia limpa renovável, mas querem agora ir para o próximo passo, com maior impacto social nas comunidades. A atração do investimento industrial verde, por exemplo, com a União Europeia, pretendem fazer um acordo com a UE de alocar uma parte na nova industrialização verde, neste caso com a introdução do hidrogénio verde. A ideia, primeiro, é desenvolver a tese de investimento o bottom up, com base nas prioridades de desenvolvimento locais, não de uma agenda global.

“Nós apoiamos com uma estrutura técnica os países com o investimento público dando prioridade ao investimento, esse investimento tem impacto positivo na comunidade local, está a gerar empregos com a comunidade, capacitação com nessas comunidades, logo, é um investimento que tem impacto fiscal positivo no país.” Menciona.

Com essas estruturas, essas dimensões de desenvolvimento, “apoiamos e damos prioridade, em criar numa última etapa, os indicadores de desempenho.” Para poder medir, “como é que vamos medir o impacto social? Como é que vamos medir o impacto económico, o impacto ambiental, financeiro, etc?” Questiona o funcionário do PNUD.

“Essa é a ferramenta que nós estamos a manusear no Brasil. Pensamos em expandir ao nível global, essa é a nossa forma de responder com a ferramenta técnica e de apoio”, mas sempre a pensar num foco bottom up, prioridades de desenvolvimento locais.

Mensagem que pretende o PNUD deixar aos países que são fortemente produtores de energia fóssil, o petróleo e outros, para a transição energética mais limpa e sustentável?

“É um processo de transição que tem de ser feito, deveria ser feito. Vai muito em linha com o referido anteriormente, ou seja, temos que ter uma visão mais ampla de desenvolvimento. Uma visão não deve ser específica na mudança climática, a mudança climática é muito importante, mas temos que analisar para poder fazer essa transição para uma matriz energética mais limpa. Temos de analisar as diferentes dimensões do desenvolvimento, como seria essa estratégia no curto, médio e longo prazo, porque muitas vezes os países já têm desenvolvido uma tecnologia.” Explica.

Têm um impacto fiscal muito positivo, alguns países são produtores de combustíveis fósseis e têm uma economia criada em torno desse processo de investimento de combustíveis fósseis. A transição tem que ser feita de forma gradual e com foco no desenvolvimento de cadeias de valor, a reendustrialização verde é muito importante, ou seja, “se vamos mover para uma nova industrialização, uma nova transição energética justa, temos que pensar como essa cadeia de valor existente vai ser realocada na cadeia de valor de produção energética limpa, para poder gerar emprego. E o impacto social positivo, sem esse foco e essa estratégia, penso que não vamos conseguir, temos de pensar no desenvolvimento, por isso é que é tão importante para o PNUD conectar a energia com o desenvolvimento, não é uma agenda global top down, que vai ser reduzida.” Menciona ao Jornal Comunidades Lusófonas, Carlos Salgado.

O PNUD senta-se com os países em desenvolvimento, “que são as nossas contrapartes para poder entendê-los, e tentar traçar a estratégia, e é muito diferente traçar a estratégia para um país como Cuba, que importa 95% dos combustíveis fósseis, e tem o impacto fiscal”, refere Carlos Salgado, limitando um pouco o investimento na educação e na saúde. Neste momento, Cuba, está a atravessar uma crise energética muito grande. E necessita de uma estratégia.

O Brasil, ou Angola, que são produtores de petróleo – aqui estaremos perante outra estratégia, o Brasil tem muito claro que tem a componente de produção de combustíveis fósseis – mas também é um país que é muito forte na área de energia verde. No nordeste do Brasil mais de 90% está a ser feita a transição energética.

Para justificar essa transição existe uma responsabilidade enorme dos grandes investidores mundiais. China, Estados Unidos e Europa, para poder alocar a parte desse investimento industrial nesses países, com base no investimento que está a ser feito, esse conceito chama-se Powershoring.

Existe um conceito Internacional, que é conhecido como Nearshoring, que engloba Europa, Estados Unidos. Estão a tentar realocar parte do investimento industrial para países que são mais confiáveis e geograficamente mais perto, mas agora evoluiu-se ao conceito de Powershore, ou seja, que também tem energia limpa, que pode ser um fator para uma nova industrialização, crescimento económico e desenvolvimento.

“Eu penso que é muito importante associar transição energética com impacto social positivo nas comunidades, e com o crescimento económico, geração de emprego, essa é a forma mais sustentável que o processo seja orgânico, inclusive nos países produtores, porque, a própria produção de combustíveis fósseis pode ser uma forma de financiar a transição energética justa”, finaliza Carlos Salgado.

Ver Também

Manuel Carvalho: empresário e benemérito da comunidade portuguesa em Nova Iorque

O benemérito empresário de restauração luso-americano, Manuel Carvalho, acompanhado da esposa Jackie Carvalho, no âmbito das recentes distinções latino-americanas...