Comendador Manuel Eduardo Vieira, atrás, no centro, a esposa D. Laurinda e à esquerda, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa
Nascido na Ilha do Pico, Açores, Manuel Eduardo Vieira, quando jovem trabalhou na agricultura de subsistência com o seu pai, e numa fábrica de lacticínios. Quando completou 17 anos, a guerra do ultramar estava em força.

Os pais nunca aceitaram a ideia de ver os dois filhos servir a vida militar. Manuel foi o primeiro a ser enviado para o Brasil, Rio de janeiro, no dia 20 de dezembro de 1962. Frequentou a Universidade e licenciou-se em Contabilidade e Gestão naquele país. Conhecimentos que lhe seriam mais tarde úteis para os negócios.
Casou com uma senhora da região de Chaves, no norte de Portugal. Viveu no Brasil até 1972, dez anos. Quando o seu irmão mais novo completou 17 anos, os seus pais decidiram ir para a Califórnia, para que o seu filho mais novo, não fosse para a guerra no Ultramar.
Foram para uma localidade chamada Gustine, no Vale de São Joaquim, Califónia, em 1972. O seu irmão decide casar-se, e enviou a Manuel um convite para ir ao casamento, e ser seu padrinho.

Fez as malas e juntamente com a esposa, Laurinda, e três crianças, no dia 16 de Dezembro de 1972, foram para a Califórnia ter com a restante família.
A pedido da mãe e do pai, decidiram ficar na Califórnia e não voltaram para o Rio de Janeiro. Inicialmente trabalhou na agricultura, durante quatro anos, mas não o impediu de regressar à escola para aperfeiçoar o inglês.
Em 1977, o seu tio, irmão do seu pai, que vivia nos Estados Unidos desde 1920, sugeriu a Manuel Vieira que comprasse uma pequena empresa chamada “A.V. Thomas Produce“.

Tinha essa empresa desde 1960, e Manuel Vieira comprou-a, já lá vão 64 anos. Tudo o que aprendeu, e estudou, juntando a ambição, foram os ingredientes necessários para conseguir singrar na vida, na altura com 32 anos.
Tomou dezenas, centenas, de decisões, “e graças a Deus foram praticamente todas acertadas”. De uma pequena empresa, em 1977, “formámos um império que é hoje o maior produtor, e exportador para o continente norte-americano de produtos biológicos, que é a batata doce.”

Para que a empresa crescesse, tomou algumas medidas: organização, rigor, disciplina, pontualidade, seriedade e ambição. Do seu ponto de vista considera que um empresário, um estudante, não importa em que área, deve, primeiramente, “ter ambição”. Um estudante que não seja ambicioso não chega a licenciar-se, a tirar mestrado, ou um doutoramento. “Um empresário que não for organizado, rigoroso, disciplinado, pontual, honesto, não chega a ter sucesso.” Sustenta o Comendador e empresário.
Mas também deve ter organização e, “acima de tudo, ter a graça de Deus”. “E eu posso dizer que sou um abençoado por Deus em tudo”.

“O rigor tem de partir de nós.” “Eu não posso ser rigoroso e dizer aos meus funcionários, que têm que ser pontuais, se eu não der o exemplo”. “E foi isso que felizmente fiz e acertei.”
Quando chegou aos Estados Unidos
Primeiramente trabalhou mais de quatro anos na agricultura, onde aprendeu a conduzir máquinas agrícolas, algo que nunca tinha feito, que era a agricultura mecanizada. Tendo-lhe sido útil mais tarde no seu negócio.
Frequentou o “High School”, (Escola Secundária), para aprender a escrever, a ler e a desenvolver o inglês.
O seu objetivo era dominar o idioma para poder conduzir uma conversar com potências clientes, e desenvolver o seu negócio. Não se preocupou em ir para a Universidade, “já tinha 27 anos”, esposa e filhos, uma família para sustentar.
Quando comprou o negócio em 1977, já falava inglês razoavelmente, em quatro anos e pouco, foi o suficiente para ter uma noção da língua, e quando falava ou tinha de conversar com pessoas em inglês, já o fazia com alguma “ligeireza”.
Quando seguiu o caminho dos negócios, “no início foi muito difícil”. Revela Manuel Vieira. Um país tão grande, tão extenso, tão vasto, com tantas empresas, e muito aguerridas.
Conseguiu dar o salto com sucesso gradualmente. Mas exigiu muito trabalho, muito sacrifício e compromisso “da nossa parte”. Primeiro, começou a viajar pelos Estado da Califórnia, e depois por toda a América, a apresentar, cara à cara, aos clientes, e falar com os líderes das maiores indústrias de supermercados do país e dizer-lhes: “aqui estou eu, Manuel Eduardo de Vieira, proprietário da “AV Thomas Produce”, especializados em batata doce convencional ou biológico, estamos aqui para cumprir com a nossa palavra. Não lhe faltará o produto durante o ano inteiro, a qualquer hora do dia ou da noite.” E esse foi o segredo do seu negócio!
“Adoro e amo Portugal, vivi 17 anos na Ilha do Pico, sou emigrante há 53 anos na América, e mais 10 no Brasil, são quase 63 anos de emigração, mas não esqueço o lugar onde nasci.”
No entanto, “não concordo com os procedimentos da minha terra, ou seja, telefonam para fazer um pedido, e há sempre desculpas, ou porque há tolerância de ponto, ou porque é sábado, ou porque é domingo! Há sempre desculpas. Para mim não houve nem haverá tolerância de ponto”.
O cliente quer o produto, “nós vendemos, não quando queremos, mas quando o cliente precisa, quando o cliente exige”. É um dos procedimentos “da nossa empresa, ao contrário do que acontece no meu país. Nós vendemos quando o cliente precisa, quando o cliente quer, quando o cliente exige”, explica o empresário.
“O nosso lema é: primeiro o cliente, segundo o cliente, terceiro também o cliente.” Tem uma visão muito pragmática dos negócios.
Na época alta, têm cerca de 1.700 funcionários. Na altura da colheita, ou para os dia da Ação de Graças, chamado na América o “Thanksgiving”, quando precisam de muita gente para trabalhar. “Felizmente não nos tem faltado funcionários, e temos sempre gente para trabalhar.”
A Terra das oportunidades…Ainda é assim?
“A América não é o que já foi, mas ainda é a terra da oportunidade”. O mundo está em mudança, há já há muito tempo, comparando com aquilo que foi. Quando “nós emigramos, no meu caso há 63 anos, aliás quando milhões de europeus emigraram muito antes de mim para o novo mundo ou para outras localidades, como a Austrália, Venezuela, Argentina, havia muita necessidade, gente muito pobre na Europa, nas nossas províncias, no interior, e nas ilhas, Açores, Madeira, a vida era muito difícil.”
“Felizmente, por um lado, essa necessidade acabou, a Europa Comunitária, permitiu uma maior igualdade entre os países da Europa do Oeste, uma Europa mais fraca, uma Europa mais pobre. Portugal, Espanha, Grécia, com a Comunidade Económica Europeia, trouxe mais igualdade, mais riqueza. Portugal e Espanha, usufruíram de muitos milhões de dólares para que nos modernizássemos. Para que o povo desta região tivesse uma vida mais ou menos comparada com o resto da Europa. E fez com que não houvesse a necessidade de emigrar, como anteriormente.”
Na opinião do empresário as ondas de emigração dos anos 50 do século passado, “nunca mais acontecerá nos nossos dias, aquele fluxo de emigração como antigamente.”
Segundo o ele, por um lado é muito bom, por outro lado, há uma necessidade de receber imigrantes como nós, que tínhamos ambições, que trabalhávamos sem perguntar o que é que íamos fazer, quanto íamos ganhar? Isso “foi-me dito quando eu cheguei aos Estados Unidos, por gente que veio dos Açores ou do interior de Portugal Continental, que a sua vontade era trabalhar para ter um rendimento e poder sustentar a família.”
