Michael Benevides, nasceu no ano de 1977 nos Açores, em Ponta Delgada, e foi para os Estados Unidos em 1979, com a família. Tinha na altura dois anos, tendo sido criado nos Estados Unidos, em Fall River, que fica a uma hora do sul de Boston. É uma comunidade grande de Açorianos, sobretudo Micaelenses. No início da sua permanência em terras americanas, o seu pai trabalhava numa fábrica nas docas, onde a maioria dos emigrantes portugueses trabalhava. Um homem visionário e empreendedor sempre auspiciou ter o seu próprio negócio, e a sua veia de “comerciante” também o ajudou nos negócios. Tendo iniciado com o primeiro negócio na garagem de sua casa, Portugalia, a vender produtos portugueses. Foi onde o sonho americano se começou a moldar.
Em 1983, conseguiu comprar a sua própria casa de seis apartamentos. É uma casa típica na zona de Fall River. Uma zona de fábricas, de indústria, e havia muitos apartamentos para os emigrantes que vinham trabalhar nessas fábricas.
Tinha cinco inquilinos e já não precisava de pagar a sua renda, conseguindo poupar algum dinheiro para montar o seu próprio negócio. Em 1988, nessa casa, tinham e têm uma garagem para três carros. Decidiu fazer ali o seu negócio de importação, principalmente de Portugal. E em 1988 a começa a importar produtos de Portugal, o primeiro produto que importaram foi o café, na altura a empresa chamava-se Portugalia Imports, que era uma empresa de importação e distribuição.
Importava e fornecia à restauração da zona e às lojas, “não éramos retalhistas na altura”. Mas não era um negócio que estivesse a dar muito lucro, e na altura “o meu pai que também trabalhava numa fábrica no segundo turno”, durante o dia dedicava-se ao seu negócio, mas não tinha retorno financeiro suficiente, e continuava a trabalhar na fábrica para fazer face às despesas.
Começaram a fazer retalho nessa garagem, aberto ao público, vendiam para os restaurantes e também ao público em geral.
O negócio começa a dinamizar-se, e “o meu pai continua a trabalhar na fábrica das 15 horas às 23”. Michael e a minha mãe, “assegurávamos” o negócio durante o dia, tinha por volta dos 11, 12 anos “e tomávamos conta da loja”. Tínham um papel na porta a dizer que «se precisassem de assistência tocassem à campainha».
As solicitações começaram a aumentar, e já eram muitas e aperceberam-se que a loja estava a ter algum lucro. O seu pai decidiu desistir trabalhar na fábrica, e dedicar-se 100% ao seu negócio. Passado um ano ou dois, um senhor que tinha um armazém ia desistir do seu negócio, e tentou vender o armazém ao seu pai, mas disse-lhe que não tínha dinheiro suficiente para comprar o armazém, mas o senhor disse-lhe que não havia problema, que lhe podia pagar diretamente.
Segunda fase da Portugalia
“Saímos da garagem e é nessa altura que começa a segunda fase do armazém”. O negócio começa a desenvolver mais. Tinha na altura 14, 15, 16 anos e trabalhei sempre nos meus tempos livres da escola no armazém.
Nas férias também “trabalhava com o meu pai, e quando entrei na Universidade Johnson & Wales em Providence”, que fica a 20 minutos de carro de onde viviam. Não vivia na Universidade, vinha e ia todos os dias, estava a tirar Gestão, estudava e trabalhava ao mesmo tempo, e terminou a sua graduação e foi trabalhar diretamente para a empresa da família.
A antiga loja “não me diz muito”, era a loja do pai, mais antiga, servia a comunidade portuguesa, o mercado da saudade típico. “A loja era charmosa, mas não me refletia de forma alguma.”
“Eu tinha mais aspirações”, e que a loja tivesse um valor acrescido. Tentou convencer o seu pai que tinham de expandir a empresa, e na altura surgiram algumas questões de aumentar as importações e fazer mais distribuição. Investir mais no armazém e numa frota de camiões, ou investir no retalho.
Havia um prédio próximo do negócio e já tinham reparado nesse prédio na altura, já estava à venda há pelo menos dois anos, mas o preço era muito elevado, e “não tínhamos dinheiro suficiente para comprá-lo. Mas no terceiro ano tentámos falar com o proprietário, e negociamos e compramo-lo em 2011, o que viria a ser a Portugalia Marketplace.
É uma empresa de importação, distribuição e também com o retalho. Na antiga loja, vendiam comida à portuguesa, não só para os clientes da zona, mas vindos de mais longe, de uma ou duas horas dali. O nosso consumidor era 100% português.
O Portugalia era mais direcionado para a primeira geração, já havia alguma segunda geração, mas sobretudo a primeira geração. Na Portugalia Marketplace “queríamos atrair mais a segunda, terceira e quarta geração, e não sabíamos muito bem como fazê-lo”. E também não sabiam como atrair americanos a consumir “os nossos produtos”.
Sempre foi a sua intenção alargar e expandir o negócio. “Se estivermos a fazer o nosso marketing a um só segmento de mercado, ficamos amarrados àquilo”, e o negócio não se expande, não atrai novos consumidores. “Não estamos a realizar o nosso potencial”, de certa forma. Afirma Michael.
Havia muitas empresas portuguesas que só vendiam para a comunidade portuguesa, anos a fio. A primeira geração não sabia como se comunicar com outros mercados, e fazer o marketing.
O Portugalia Marketplace, já tem outro conceito, não se restringe apenas e somente ao mercado português, mas é aberto a toda a comunidade.
Abriram a loja em 2013, os clientes antigos começaram a vir todos para a nova loja. Quando os vieram da antiga loja e foram à Portugália Marketplace ficaram muito orgulhosos com o resultados, muitos choraram, e “vieram ter connosco a abraçar-nos”, o que “conseguimos fazer enche-nos de orgulho”, a nossa loja atual tem cinco vezes mais de espaço do que a loja antiga.
De uma certa forma foi um “choque”, para a comunidade portuguesa. Com muito mais condições. Aqui o espaço é melhor gerido, há outras condições. Neste momento têm 25 pessoas a trabalhar a tempo inteiro, e 20/25 a meio tempo. E a maioria da nossa equipa fala português, à volta de 90%.
Uma das transformações que se deu foi que na antiga loja só iam lá portugueses da primeira geração. Nesta loja não, a primeira geração já traz os da segunda, terceira geração, e essas pessoas são os embaixadores da loja. Vão para casa e trazem os familiares, os amigos, os vizinhos. O Portugalia Marketplace, começa a apresentar produtos com made in Portugal. Na antiga loja não tínhamos aquele segmento de mercado como no Portugalia Marketplace, aqui há muito mais espaço, já podem ter produtos diferenciados e diferenciadores, e de alta qualidade.
“Começámos a importar mais produtos portugueses de gama “Gourmet”, e ter mais oferta de bons produtos, boa garrafeira, – neste momento têm a maior garrafeira portuguesa dos Estados Unidos. “Temos 1500 referências. Temos vinhos mais acessíveis e vinhos topo de gama.”
Este projeto só foi possível porque nos últimos 25 anos desde a antiga loja, os portugueses é que eram os nossos clientes, e só por isso é que o Portugalia Marketplace existe. Mas também se deve ao “bom trabalho que o meu pai fez na loja antiga, o meu pai é daqueles comerciantes à moda antiga, sabe lidar com pessoas, serve muito bem o cliente. Os clientes gostam muito dele, está muito bem visto pela comunidade portuguesa.
Cerca de 50% “dos nossos clientes ainda são os antigos clientes, apesar de agora o nosso segmento de mercado se ter expandido”, os americanos não têm nenhuma ligação com Portugal, ou que recentemente viajaram para Portugal, querem recriar as experiências. Procuram os produtos que experimentaram em Portugal, e pedem muito.
“Licenciou-se em Gestão em 1999, e sempre trabalhei nesta empresa, nunca trabalhei” para mais nenhuma empresa. “Eu gostava da Portugalia antiga”, apenas não me espelhava nela nem os meus interesses, e pretendia uma nova Portugalia, em que se pudesse rever. A Portugalia Marketplace que criou, está em revistas, jornais, televisões.
É uma empresa que aposta na qualidade superior, é um espaço cultural, não há outra loja igual. Sempre foi um amante do Design, e isso foi uma maneira de exteriorizar, – um negócio de família – este espaço antigo que foi recuperado, foi um “projeto de restauração”, esteve dois anos envolvidos nele, a montar esta loja. Os balcões, foram da minha criação, “tive assistência” de alguns arquitetos, e de pessoas profissionais de arquitetura, tem muito a ver com todos os pormenores.
É um espaço único, reforça Michael, “temos atingido muita imprensa”, o New York Times o ano passado nomeou o nosso Bacalhau à Gomes Sá, o Top 20 pratos 2023.
Muitos jornalista vêm cá, para ver, não sabemos o que são, só nos apercebemos depois de vermos nos jornais e televisão.
É uma empresa familiar, “o meu pai trabalha cá, a minha irmã também, isto é um lugar único que não existe igual.”