O Jornal Comunidades Lusófonas esteve a auscultar em primeira mão o papel do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), em São Tomé e Príncipe. Os assuntos mais prementes são as alterações climáticas o desenvolvimento sustentável, e o papel da juventude, no Programa das Nações Unidas no país. Joel Almeida foi o nosso entrevistado, é funcionário do programa da ONU, e revelou em que consiste o seu trabalho.

Jornal Comunidades Lusófonas (JCL): Qual é o seu papel específico no PNUD?
Joel Almeida: Enquanto Oficial de Ligação da Juventude e do Género para Ação Climática no PNUD em São Tomé e Príncipe, há mais de um ano, que atuo como o ponto focal entre o PNUD e o Governo para a Ação Climática liderada por jovens, tendo em atenção à inclusão da abordagem de género, garantindo que vozes dos jovens, inquietudes, e necessidades que possam ser refletidas nas políticas climáticas a nível nacional. E para que isso se efetivasse temos mobilizados parcerias, organizamos workshops, seminários e formações de capacitação juvenil, tornando-os agentes ativos na agenda climática. Além disso, apoiamos o fortalecimento da capacidade governamental e de parceiros para incluir a juventude e abordagem de género. Já realizamos sessões sobre violência de género em crises climáticas, ferramenta de comunicação ambiental, workshops vocacionais, além de apoiar a constituição iniciativas juvenis, como é o caso dos Comités Juvenis Distritais e Regional para Ação Climática, uma iniciativa conjunta entre Instituto da Juventude, Direção do Ambiente e Ação Climática, UNICEF e PNUD, que visa a implementação de ações climáticas locais lideradas pelos jovens.
JCL: O que a Juventude São-Tomense tem feito no âmbito da questão climática, meio ambiente, e o desenvolvimento Sustentável?
JA: A Juventude São-Tomense tem desempenhado um papel ativo e relevante no combate às mudanças climáticas, na proteção do meio ambiente e na promoção do desenvolvimento sustentável.

Algumas das principais ações incluem: Ações de limpeza em praias, florestas e zonas urbanas para combater a poluição e preservar os ecossistemas locais; workshops e formações sobre mudanças climáticas, sustentabilidade e género, organizados em parceria com o PNUD e outras instituições; Criação de organismos juvenis, como os Comités Distritais e Regional para Ação Climática, que mobilizam jovens para propor soluções climáticas locais; Capacitação técnica em políticas climáticas, comunicação ambiental e empreendedorismo verde como iniciativas juvenis, de produção de carvão ecológico, sacolas biodegradáveis e vassoura, a base de garrafas pets, vaso de base de papeis reciclados; Apoio às instituições governamentais através de estágios em organizações públicas de fomento a politicas ambientais e participação em processos decisórios como o caso da Direção do Ambiente e Ação Climática e Direção de Energia e participação e ONG ambientais; e Campanhas de advocacia e sensibilização para pressionar por políticas públicas mais sustentáveis e inclusivas. Além disso, São Tomé e Príncipe assumiu a presidência da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) com o tema “Juventude e Sustentabilidade”, reforçando o compromisso do país e dos jovens são-tomenses com a agenda climática global. De igual modo numa ação conjunta entre organizações e líderes juvenis da CPLP, apresentamos o que chamamos o Manifesto dos Jovens da CPLP para Justiça Climática, onde advogamos por atenção a desafios ambientais e climáticos e inclusão da juventude como agente para solução.
JCL: Como a sua formação académica contribui para o seu trabalho com os jovens para ação climática com o PNUD?
JA: Sou formado em Gestão, o que me dá habilidades analíticas e de comunicação essenciais tomar decisões baseadas em resultados. Isso permite-me identificar líderes juvenis, planear ações eficazes e integrar os jovens como agentes de mudança. As minhas competências em empreendedorismo criativo, comunicação digital, ação climática liderada por jovens, convenção dos direitos de pessoas com deficiência e género também têm sido valiosas para direcionar ações climáticas inclusivas.

JCL: Como o PNUD apoia a participação juvenil na resposta aos desafios climáticos em São Tomé e Príncipe?
JA: O PNUD essencialmente apoia a participação juvenil na resposta aos desafios climáticos em São Tomé e Príncipe, com apoio técnico e financeiro através de apoio na criação de Estratégia Nacional de Políticas para a Juventude, apoio o projeto de inclusão juvenil, apoio o concurso de inovação, de empreendedorismo, vagas de empregos e voluntariado internacional, auscultação, campanhas digitais, criação, disponibilização, tradução de recursos técnicos climáticos, facilitando o acesso ao conhecimento. Realizamos workshops e mentorias para capacitar os jovens, preparando-os para advogar por mudanças e responder aos efeitos climáticos. Como intermediário, garanto que suas vozes cheguem aos decisores nacionais e internacionais.
JCL: Quantas pessoas fazem parte da equipa da PNUD em São Tomé e Príncipe e como é feito o trabalho para incluir a Juventude nas ações climáticas?
JA: O PNUD é uma organização global, por isso não seria justo limitar a realidade nacional, no entanto, em São Tomé temos cerca de 30 funcionários. A inclusão juvenil na ação climática é uma prioridade, e todos funcionários colaboram para alcançar os objetivos de sustentabilidade e desenvolvimento, através de comunidades de práticas, onde se faz troca de experiências, e boas práticas e recursos de todos os países no qual PNUD atua relativamente o envolvimento juvenil na ação climática.
JCL: Quais são os maiores desafios que os jovens são-tomenses enfrentam no combate às mudanças climáticas? E como é que o PNUD os ajuda a superar?
JA: Dos desafios enfrentados por jovens relativamente às mudanças climáticas, no meu entendimento destaco dois principais: pouco conhecimento, devido a acessibilidade, uma vez que muito destes existentes estão numa língua estrangeira, com conceitos muitos técnicos e falta de financiamento, que limita a ação juvenil. Muitos jovens não têm acesso a informações sobre clima ou recursos para implementar soluções. O PNUD e os seus parceiros trabalham para suprir essas lacunas, apoiando projetos e formações, capacitando os jovens, dando ferramentas para responder a estes desafios climáticos e ambientais.
JCL: Há muitos portugueses a trabalhar no PNUD?
JA: Atualmente, há dois portugueses na equipa em São Tomé, mas como mencionado o PNUD é uma organização global, e certamente há mais colegas portugueses noutros países.
JCL: Qual é a visão global do PNUD para o seu país?
JA: O PNUD visa promover o desenvolvimento sustentável, fortalecendo a resiliência do país perante desafios globais. Trabalhamos para que São Tomé e Príncipe alcance seus objetivos sociais, económicos e ambientais, proporcionando as ferramentas necessárias para um futuro sustentável.
