Estivemos à fala com o Cônsul Honorário da Guiné Bissau no Porto, José Pavão, que nos falou sobre a comunidade Guineense em Portugal e como são acolhidos os Portugueses na Guiné-Bissau e o que tem a oferecer ao mundo? O país tem uma geografia singular em relação aos outros países da CPLP, uma riqueza natural ímpar, compreendendo 90 ilhas, o que o torna bastante atrativo em termos turísticos, e que neste momento se encontra em fase de expansão, havendo uma aposta no turismo e noutros setores.
Segundo avançou o Cônsul Honorário, não têm dados quantos Guineenses se encontram em Portugal, mas sabe que a sua maioria se encontra na capital, e na área metropolitana de Lisboa, onde vivem e estudam muitos Guineenses. No Porto também há uma comunidade com alguma expressividade, e até seria aconselhável se fizesse um estudo sobre estes Guineenses que se encontram também no Nordeste Transmontano. O Cônsul mostra “admiração nestes jovens estudantes”, apesar de serem tão jovens já mostram obra feita com muitas publicações na área da literatura.
O Cônsul está à frente do Consulado há duas décadas, e “se me perguntassem qual é a atividade mais importante, além das situações de carácter administrativo; certificação de clubes, documentos, etc. importa muito a parte social.”
Ajuda na contribuição aos jovens estudantes, “nós temos mesmo uma bolsa de emprego”, as pessoas inscrevem-se e “depois vamos vendo dentro da grande urbe, que é o Porto, procurando dar ocupação às pessoas do ponto de vista laboral”. O Cônsul José Pavão também tem uma grande preocupação e grande interesse em acompanhar os estudantes do ensino superior”. Sente um “carinho”, ou melhor alguma preocupação “mais exaltada” com esta comunidade estudantil.
A presença portuguesa na Guiné-Bissau
No que diz respeito à presença Portuguesa na Guiné-Bissau, são indicações mais reservadas à embaixada portuguesa em Bissau, mas adiantou que em relação às pessoas que procuram deslocar-se para a Guiné-Bissau, há dois ramos distintos, um, o mundo empresarial, e o outro é a parte de lazer, o turismo. A Guiné, que tem um grande potencial turístico nesta atividade, e já há alguma resposta na restauração, hotelaria, e afins. “Esperemos que um dia isso se atinja e seja mais abrangente”.
Em Portugal há muitos Guineenses que vêm estudar para as universidades em Lisboa, mais do que do que no Porto. Há um número de estudantes considerável e há casos extraordinariamente exemplares “e que eu conheço pessoalmente”. Refere o Cônsul.
“Mas posso dizer, por exemplo, uma vez que eu sou natural da região do Nordeste Transmontano e, portanto, as cidades de Bragança e Mirandela. Há ali uma relação muito interessante no que respeita ao acolhimento de estudantes.” A Comunidade, guineense que está ligada ao Instituto Politécnico de Bragança, que é um exemplo no que respeita às atividades académicas e ao acolhimento de estudantes.
Relações diplomáticas entre Portugal e Guiné-Bissau
“No meu ponto de vista, são relações cordiais, relações fraternais, próprias dos países irmãos. Eu acho que esta designação de Irmandade e a consequente unidade, pelo menos neste caso históricas, são muito importantes e têm funcionado. Claro que o percurso dos países independentes e dos percursos, têm a sua própria sustentabilidade e têm o seu caminho diferente, e por vezes poderemos não concordar com o caminho que se segue.”
A Guiné é um país jovem, tem as suas próprias oscilações e as suas próprias escolhas. Mas é um país que ruma, progressivo, pacífico. É um país respeitado a nível Internacional “e tem uma juventude magnífica que escreve e publica” e que tem anseios e que conquista etapas académicas, “eu vejo isso com grande alegria.”
“Eu sou médico aposentado e durante o meu percurso profissional tive lugares de responsabilidade, dirigi um hospital que teve uma ligação muito profunda, muito duradoura e íntima com Bissau, no que respeita ao acolhimento de doentes ao tratamento e à sua orientação a eles, e às famílias que os acompanharam durante muitos anos, e depois eu próprio, por estas histórias imprevisíveis na vida, também fui Secretário permanente de uma comunidade médica de língua portuguesa, que tem uma atividade muito interessante na aproximação entre os países que falam a língua portuguesa, que desenvolve iniciativas muito interessantes.”
Mas, sobretudo na área da formação médica, há um grande anseio na formação, no que respeita os países que têm etapas diferentes. Não podemos comparar um país como a Guiné com Angola, Moçambique ou com com Cabo Verde. Cada um tem as suas etapas próprias a Guiné tem algumas dificuldades. E quando nos referimos aos médicos e outros profissionais que não regressam ao seu país, temos que ter em conta os seus anseios, gostam de os concretizar e realizar os seus sonhos. “E a Guiné-Bissau ainda não consegue preencher essa lacuna.”
A Guiné temo seu grande potencial turístico, tem autênticos paraísos terrestres, como o respeito pelo ambiente e pelas relações e pela biodiversidade, e que, claro, o turista comum e com possibilidades gosta de experimentar e de observar e de sentir ainda isso, mas naturalmente só poderá beneficiar desse movimento, se tiver uma resposta à saúde capaz, o turista tem que ter garantidos a resolução, uma resposta capaz e de qualidade às situações imprevisíveis. A melhoria dos serviços de saúde, é uma necessidade premente, pois esses turistas também contam com as imprevisibilidades e o país tem de estar pronto para dar resposta a essas eventualidades, que neste momento ainda não é capaz.
Guiné-Bissau é um país acolhedor
“Tenho muito gosto em falar sobre isso.” São acolhidos de uma maneira fraternal, com grande proximidade e afeto. Não há notícias de episódios de natureza conflitual, o mundo empresarial movimenta e investe com relativa segurança e os turistas vão chegando ao país. “Como se sabe a Guiné tem uma configuração geográfica ou territorial muito rara, porque tem a parte continental que é penetrada por braços fluviais, tem 90 ilhas que são um autêntico paraíso e portanto, há muita gente que beneficia da sua estabilização. “Os portugueses são bem acolhidos naquela terra e preside um espírito fraternal, muito marcado, muito visível, muito realista e que pode ser apontado, pela segurança.”
Uma Mensagem aos migrantes
“A minha mensagem em relação aos guineenses que se encontra em Portugal é que saibam aproveitar as oportunidades que há, que tenham comportamento civilizado e respeitável. De um modo geral, são pessoas humildes, muito disponíveis, muito capazes de se relacionar e de estabelecer relações de todo tipo.
“Gosto de estar perto com estas comunidades”, são bem acolhidos. Há um movimento nas camadas mais jovens de publicação, sobretudo de textos, quer romances, quer históricas, mas sobretudo poesia. Era interessante que os especialistas nesta matéria, ligados à literatura e à jovem literatura Africana que pudessem saber porquê, como é que um país tão jovem já tem tanta gente a escrever e a publicar? “É um movimento muito interessante.”
No que respeita aos portugueses que vão para a Guiné-Bissau, na nossa representação consular, nós temos sempre dadas as melhores indicações, garantindo a nossa disponibilidade para resolver qualquer assunto em que se possa ajudar e até dão algo ao pormenor de indicar contactos, quer na eventualidade de haver problemas de saúde, quer com contactos de natureza de movimentos comerciais e empresariais, pessoas que pretendam investir. Portanto, “acho que incrementar todo este tipo de relacionamento, não só é a nossa obrigação, mas também sinto algum prazer, uma vez que os povos viveram momentos difíceis durante alguns séculos e têm que aproveitar essa realidade histórica para dar continuidade como gente interessada, boa, pacífica e civilizada que somos.”