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Terça-feira - 13 Maio 2025

EXCLUSIVO: “Portugal tem os melhores produtos, mas tem de produzir em massa para a internacionalização”

Destaques

Carlos Maceiras é um homem de negócios, conhece como poucos o mercado da alimentação, quer ao nível interno e externo. Formou-se em Gestão e em Economia. Deu continuidade ao projeto do pai sempre na área alimentar. Nasceu numa mercearia na Madragoa, Lisboa. Quando o pai veio de Angola, foi lá militar, abriu no Restelo uma mercearia, Restaurante, e era representante da IDS, da zona centro de Portugal.

A seguir ao 25 de Abril vendeu tudo à pressa e ficou sem nada por causa dos acontecimentos que se deram à época em Angola. Arranjou uma quinta em Tomar onde passaram a ser agricultores. Tínham lá muito vinho, azeite, e vendiam os produtos nos mercados, produziam em grandes quantidades também animais, e começaram a vendê-los em Lisboa. Entraram no setor da distribuição com um tio, nas lojas na capital, bem como na compra e venda de produtos. Tendo comprado um lugar no mercado abastecedor de frutas.

O maior fruteiro, Edeberto Pimentel, que havia no mercado, entretanto falecera. A viúva ficou com o lugar, o pai de Carlos Maceiras comprou-o, e a sua vida, “começa aí”. Com cerca de 16 anos, “tomei conta desse lugar.” Continuou com a distribuição e muito rapidamente passaram a ser o maior operador de frutas do mercado em Lisboa.

Recebiam muita fruta de Portugal inteiro, porque eram mandatários, significa que consegue vender o produto de outrem sem o comprar, ou seja, cobram uma comissão por cada caixa. Apesar de querer abandonar os estudos, “o meu pai nunca me deixou, e como sempre respeitei muito o meu Pai, acabei por me licenciar”.

Mas antes de ser licenciado, carregava no mercado Pingo Doce, e nas grandes superfícies, “e acabei por ser conhecido e como sabiam que eu era licenciado, quando havia algum programa na televisão, era sempre chamado”. Também dominava várias línguas, o que lhe acrescentavam mais uns pontos. O Pingo Doce “conheceu-me, e fez-me um convite para ir trabalhar para Jerónimo Martins.”

Aceitou, começou a trabalhar na área das frutas, fez o percurso normal até que chegou a Coordenador Internacional da Jerónimo Martins. Dava a volta ao mundo, à procura das melhores oportunidades de negócio que satisfizessem o grupo. Não só em Portugal, como também na Polónia e mais tarde na Colômbia.

Passou dez anos no Recheio, cinco no Pingo Doce, e cinco na Biedronka, na Polónia. Quando chegou ao final do contrato com a Biadronka veio para Portugal e abriu o negócio no Fundão. “Onde os meus pais tinham propriedades.”

Comprou dois ativos tóxicos de duas lojas que eram do BPN e um do Santander, e abriu dois estabelecimentos. Alugou um armazém, depois deixei-o porque não era comprado, o resto era tudo propriedade sua.

“Acabei por alugar um espaço que está agora à beira da estrada, com cerca de 2000 metros, os últimos dez anos da minha vida foram no Fundão e, neste momento compramos, e vendemos produtos, a todos os grandes operadores em Portugal: a RAR, Refinarias de Açúcar, a Coca-Cola, Sagres, etc, compramos e vendemos.”

Os mercados que exportam mais são: a Bélgica, Holanda, Suíça, França, e Alemanha. Para o ultramar, segue fruta, carne fresca, que é proveniente de Espanha, nem passa por Portugal, vai diretamente para a Suíça, que é o contrato que tem com os grandes operadores espanhóis.

Trabalham muito com as picanhas, um dos seus maiores negócios; Picanhas, barrigas de porco, pá, “tudo o que se refere às carnes”, também trabalham muito com carne da América do Sul e do Norte. E na Bélgica, que é um dos maiores operadores europeus de carnes “nós trabalhamos em parceria com eles em Portugal.”

Não exportam muitos vinhos. Apesar de Portugal ter um leque muito variado e grande em vinhos, não exportam muito vinho, “exportamos outras coisas, detergentes, higiene pessoal, “porque os preços são mais baixos do que no estrangeiro.”

Se o preço está mais caro no estrangeiro, os importadores têm tendência a comprar em Portugal e vice-versa, é a lei da oferta e da procura a funcionar, quer seja no mercado europeu, quer para o ultramar, onde se exporta tudo que seja detergentes, higiene pessoal, géneros alimentícios, frutas frescas, carnes frescas, carnes congeladas, etc. Têm marca própria nos congelados, óleo de alto rendimento, e das águas, que vem do Gerês e que é lá engarrafada.

O mercado dos PALOP

Para o mercado dos PALOP, exportam mais para Cabo Verde e Guiné-Bissau, muita mercearia; sumos, águas, açúcar, arroz, bebidas não alcoólicas, charcutaria do Fundão. Enchidos, queijos. Grande parte destes produtos vêm da família que está ligada à suinicultura, criam porcos. “Quando os compramos há uma parte do porco, as pás, que vai para as salsicharias fazendo depois os enchidos, e depois vendemos.” É uma espécie de economia circular.

“Trabalhamos com muitos parceiros no estrangeiro.” Mas o negócio é bem claro e assente para a Freshin, “têm de pagar primeiro antes de receberem os produtos. Não trabalhamos de outra forma. Somos uma empresa que tem crédito nas agências de rating a nível Internacional e que nos dão crédito.”

“Estamos num patamar de fiabilidade perante os importadores nesses países, muita gente não tem as contas em dia. Nós temos as seguradoras, todas elas nos dão crédito, dizem que podem comprar que a nossa empresa é séria.”

Também exportam muito para o mercado da saudade: Suíça, Holanda e França, na globalidade fazem cerca de 7 a 8 milhões de euros de exportação por ano.”Mas há muitas potencialidades para fazermos mais.” Acrescenta.

Uma mensagem, CPLP e PALOP

“A Freshin estará sempre de portas abertas para tudo o que precisarem, não importa que seja um milhão dois milhões, três milhões, para nós não há limites. Esta é a mensagem e nós enviamos, com as condições da empresa, que foram já referenciadas”.

“Temos revisor oficial de contas, Técnica oficial de contas e advogados em que estes grandes negócios passam todos por eles. Eu deixo completamente nas mãos deles para que a pessoa que eu compre receba o dinheiro e a pessoa que me comprou, receba o produto, nestes grandes negócios tem de ser assim,” explica o empresário.

“Vendemos desde o Vinho do Porto mais barato até o mais caro, desde os três Velhotes, e restantes marcas que estão no mercado”. Vinhos com 20, 30, 40 anos, sejam verdes, brancos, tintos, frutas, pescados congelados com marca Freshin, e todo o tipo de fruta, nacional e internacional. Maioritariamente a fruta que vem de Espanha. Não vendemos laranja do Algarve, para mercados muito distantes, porque se for para muito longe, a fruta do Algarve chega ao destino estragada, porque não leva o mesmo tratamento que os espanhóis fazem”.

“Há dezenas de variedades de laranja, Clementina, maçãs, de tudo. Nós temos que saber para onde vai para saber qual é o acondicionamento que temos de providenciar, para que a fruta chegue ao destino em condições, ou outro produto, isso é fundamental, não basta comprar barato, é essencial saber como é que o produto chega ao destino.”

O que é preciso é produzir em força, em massa”

Portugal tem produtos de boa qualidade, mas não produz em grandes quantidades, para o empresário, Portugal tem de ser mais arrojado e produzir em massa. O problema do país é que “nos queixamos de tudo e mais alguma coisa, e vou dar um exemplo: aqui da janela do meu escritório, antigamente, o que eu via eram terrenos abandonados, excelentes para produzir cereja, para sermos o maior produtor de cereja, inclusive da Europa, e não somos. Ninguém fez nada, os proprietários dos painéis solares, porque aqui há amplitudes térmicas muito grandes, quer diárias, quer anuais, puseram ali os painéis. Agora todos reclamam, porque tem lá os painéis, mas não reclamavam antes de lá estarem e as terras deixadas ao deus dará!”

E é esse o problema, “as pessoas às vezes reclamam por coisas que não tem sentido absolutamente nenhum. É claro que ali as cerejas ficavam melhor, mas deviam ter-se lembrado antes, é preciso haver organizações sérias, bem conduzidas, e em vez de estarmos a preocupar muitas vezes com política deveriamos de nos preocuparmos mais com a economia.”

“Temos que arranjar organizações económicas portuguesas, com pessoas que saibam do negócio. Não é só da produção, não é preciso aparecer lá um engenheiro que sabe a variedade de todas as laranjas. É preciso haver negociações, como tem Espanha.”

“Espanha não se preocupou só em ser o maior produtor agrícola da Europa, que efetivamente é.” Afirma sem grandes rodeios, Carlos Maceiras. “Espanha tem produtos excecionais, mas aqui em Portugal as pessoas dizem que não presta porque os compradores portugueses que lá vão comprar trazem o mais barato, as primeiras cerejas, “as melhores laranjas do mundo são Espanholas”, reforça o Economista e Empresário.

“Vamos vender para a América do Sul em contra ciclo. De forma a valorizarmos os produtos portugueses. Termina desta forma o Economista, Gestor e Empresário, Carlos Maceiras.

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