14 setembro 2025
Violência, violência e mais violência
Começo pelo que ardeu mais alto na semana: drones russos a violar o espaço aéreo da Polónia, caindo e sendo abatidos dentro de território da NATO, e Varsóvia a accionar o Artigo 4.º para consultas urgentes no Conselho do Atlântico Norte. Houve relatos de 19 incursões, com pelo menos alguns aparelhos abatidos por forças polacas e apoio aliado; para uns foi “erro”, para os polacos foi provocação deliberada. A NATO confirmou as consultas e o seu Secretário-Geral reiterou a defesa de “todo o território aliado”. Entretanto, Varsóvia pediu um briefing de emergência no Conselho de Segurança da ONU. Setembro volta a ter esta ferocidade nos nervos do mundo.
Convém recordar o básico do Tratado: o Artigo 4.º é a campainha de alarme , um “sentam-se todos à mesa para avaliar ameaças”, de quem o invoca. Depois dele vem o Artigo 5.º … um “estamos em guerra “ …é o compromisso de defesa colectiva , o um por todos e todos por um . O 5.º foi invocado uma única vez na história da Aliança: a seguir ao 11 de Setembro de 2001. A raridade do 4.º e a unicidade do 5.º dão a medida do momento. Não é retórica; é jurisprudência viva de segurança colectiva.
Do outro lado do Atlântico, a violência nos EUA empurrou mais um limite. Charlie Kirk, figura pública conservadora, foi morto a tiro enquanto discursava numa universidade em Utah. Imagens, mapas, ângulos de câmara, um rifle de ferrolho recuperado , e a rapidez com que toda a sequência circulou, sem filtro, nas timelines. As autoridades anunciaram detenção de um suspeito; o debate sobre discurso público e radicalização regressa com o peso da evidência visual.
No mesmo país, outro vídeo que não deveria existir: a morte de uma jovem refugiada ucraniana dentro de um comboio ligeiro em Charlotte. A plataforma, a carruagem, o ataque, tudo captado e difundido. O que a tecnologia mostra em HD não é apenas informação; é exposição crua que nos desarma e nos anestesia, um pixel de cada vez, em imagens que não estamos preparados para ver sem poder fazer nada.
Na Europa, a França somou crise política a uma paisagem já marcada por confrontos de rua. O governo caiu num voto de confiança esmagador, com François Bayrou a apresentar a demissão, e protestos “Bloquons Tout” a incendiarem estradas, estações e ânimos. Dias depois, a nomeação de novo primeiro-ministro enfrentou manifestações, detenções e milhares de polícias nas ruas. Política em convulsão, orçamento em guerra, e a sensação de que a rua e o hemiciclo se reflectem em espelhos partidos, reflexo de sociedades que se estilhaçam.
Em paralelo, o Médio Oriente continua em espiral, com a barbárie a normalizar a barbárie. Não faltam “imagens definitivas” de cada lado …faltam saídas. E, enquanto vamos vendo tudo, vamos também perdendo algo: a capacidade de metabolizar a violência sem a transformar em ruído de fundo. Instala-se o desespero.
O ponto onde quero chegar é simples e duro: os extremos , todos, produzem violência. A política que transforma o adversário em inimigo, o algoritmo que só nos devolve espelhos, a linguagem que troca argumentos por munições, empurram a sociedade para a borda. Não precisamos de concordar para coexistir; precisamos de balanço, de centro, de instituições que funcionem e de uma cidadania que recuse a estetização do choque.
Setembro insiste em lembrar-nos que a história também tem memória de calendário. Entre drones que atravessam fronteiras, governos que colapsam, tiros em palcos e facas em carruagens, fica o apelo a arrepiar caminho. Não por ingenuidade, mas por prudência civilizacional: recuperar o espaço onde debate aceso não é prelúdio de sangue, e discordar não é autorização para destruir.
Fecho. Trago tristeza profunda pelo estado das coisas e receio pelo que aí vem. Mas recuso ceder o meu centro aos extremos que prometem ordem com mais violência. O futuro merece mais imaginação do que isso… e como acredito em Cristo e na Virgem a eles rezo quando nada mais consigo fazer, que de nós tenham compaixão .
Que este texto vos inspire ou vos provoque. Não procuro concordância, mas romper as correntes da apatia.
Por Marisa Monteiro Borsboom



