Esta crónica foi escrita algures entre as estradas de França e Portugal.
Portugal, Ponto de Partida e de Pressão
Sabiam que somos o país mais ansioso do mundo?
É verão em Portugal. Chegam os emigrantes, chegam os que são quase emigrantes, e chegam também os que nasceram fora, mas trazem dentro um nome português e uma saudade herdada. É o tempo dos regressos, das raízes cruzadas, das famílias que falam línguas diferentes à mesa, mas que se reconhecem no cheiro dos grelhados e nos homens e mulheres que percorrem as areias de norte a sul, repetindo o incansável: “Bola de Berlim!”.
Cresci assim, a receber os meus emigrantes. Tios e primos que vinham de França, carregados de malas e de histórias, numa das gerações que “foi a salto”, quando emigrar era uma mistura de coragem, desespero e sobrevivência. As chegadas eram uma festa, as partidas um silêncio pesado, com tantas lágrimas à mistura. E, no meio disso tudo, íamos aprendendo que Portugal cabia em muitos lugares, mas não se deixava esquecer. Digo hoje, na primeira pessoa do singular, que não só não se esquece, como se reforça.
Hoje, com uma família luso-misturada, onde Portugal se entrelaça com outro país, com outros idiomas e pertenças, continuo a viver esse movimento constante de ir e voltar. Nunca imaginei que também eu viria a fazer parte dos que vivem entre fronteiras. Mas este ano, entre o calor e os reencontros, uma estatística obrigou-me a parar para pensar: Portugal é, segundo dados apresentados por Mark Manson, o país mais ansioso do mundo.
No seu vídeo, Understanding the Most Anxious Country in the World, Manson descreve Portugal com um misto de admiração e perplexidade. Como é que um país aparentemente descontraído, banhado por sol e rodeado por mar, pode liderar os índices de ansiedade clínica a nível global? Segundo estudos citados, mais de 22% da população portuguesa sofre de ansiedade diagnosticada, um número muito acima da média europeia. O autor identifica traços culturais como o medo do erro, a vergonha pública, o peso da religião e a rigidez emocional como elementos estruturantes de uma sociedade que se habituou a calar, a disfarçar, a conter. A par disto, salienta ainda os impactos da instabilidade económica, da precariedade laboral e da falta de respostas públicas para problemas de saúde mental que são cada vez mais urgentes. O que começa como uma provocação torna-se, rapidamente, num espelho. E nem sempre gostamos do que vemos.
É neste contexto que chegam as férias, quase como um ritual de expiação coletiva. Viajamos, descansamos, reencontramo-nos. Mas mesmo nas férias, muitos de nós continuam inquietos. As festas populares emocionam, mas também esgotam. Os reencontros familiares aquecem, mas às vezes ferem. E a ansiedade, essa, não tira férias. Está presente nos silêncios entre conversas, na sobrecarga de estímulos, no medo constante de não ser suficiente ou de estar a falhar algum dever invisível.
Estamos oficialmente em silly season, esse período em que os jornais se enchem de trivialidades e os governos suspiram por uma pausa. Mas a ansiedade continua. Não só em Portugal, mas em quase todos os cantos do mundo. Tornou-se sistémica, quase um novo estado civilizacional, como se a humanidade inteira vivesse agora num limbo entre o alerta e o colapso.
E ainda assim, continuamos. Voltamos sempre. Há algo de profundamente humano neste regresso ritual. Talvez não estejamos a tentar apenas regressar a um lugar, mas a reencontrar uma parte de nós que ficou suspensa no tempo.
E porque os empreendedores, como bem sabemos, nunca tiram férias – pelo menos não no calendário habitual – deixo aqui um convite* que é também uma oportunidade: no próximo dia 7 de agosto, ao final da tarde, no magnífico The Yeatman Hotel no Porto, vamos reunir-nos para uma conversa entre mundos, sobre liderança em tempos de pressão, mas também sobre identidade, pertença e futuro. Estarei lá com o meu comércio, com o Jornal Comunidades Lusófonas, e com todos os que acreditam que pensar juntos é ainda a forma mais elegante de resistir ao cansaço do mundo.
Que este texto vos inspire ou vos provoque. Não procuro concordância, mas romper as correntes da apatia.
*Douro Business Sunset- Evento exclusivo Participação sujeita a aprovação | Lugares limitados
Que este texto vos inspire ou vos provoque. Não procure concordância, mas romper as correntes da apatia.
Por Marisa Monteiro Borsboom



