21 setembro 2025
Há semanas em que a realidade parece uma peça de teatro mal ensaiada, onde cada actor improvisa sem talento e o público, em vez de se insurgir, aplaude de pé. Esta foi uma dessas semanas, uma tríade perfeita de ignorância, mentira e caricato.
Comecemos pelo jantar de Estado. O que deveria ser um momento solene de diplomacia transformou-se num episódio de “stand up” involuntário: um discurso desconexo, lido sem alma, que nada disse e tudo revelou. Mais estranho do que o próprio orador foi ver a sala inteira a compactuar com a farsa, como se a etiqueta pedisse que a mentira fosse tratada com reverência. É o verdadeiro rei vai nu em versão diplomática, só que com mais câmaras e menos coragem.

Da mentira passamos à ignorância, ou melhor, àquela pobreza de conhecimento que se exibe sem pudor. Ouviu-se por aí a confusão entre Hamburg e hambúrguer. Parece detalhe, mas não é. É o retrato de uma elite política e social que perdeu o respeito pela substância. Uma cidade histórica reduzida a sanduíche. Um país que não se dá ao trabalho de distinguir entre cultura e caricatura. Quem não sabe pronunciar o nome do lugar onde está, dificilmente sabe onde está.
E depois, claro, a cereja tecnológica: a demonstração falhada dos óculos de realidade aumentada. O momento em que a promessa de um futuro iluminado pela inteligência artificial se desfez em directo, entre falhas de ligação e respostas que não vinham. O mesmo metaverso que já foi apresentado como revolução mostrou-se afinal como ilusão. O riso nervoso da plateia não escondia a frustração. Rimos para não chorar, mas estamos sempre à espera da próxima mentira de marketing para nos resgatar da mediocridade.
Tudo isto seria apenas anedótico se não fosse trágico. Porque não é só a falha do político que mente, do diplomata que finge ouvir ou do executivo que promete mundos e fundos. É a falha coletiva de uma civilização que já não se ergue em grandes momentos, não se guia por grandes pensadores, não se inspira em grandes visionários.
Ignorância, mentira e caricato não são acidentes isolados. São sintomas. Sintomas de uma época que troca conhecimento por soundbites, que confunde progresso com ilusão tecnológica e que acha normal aplaudir discursos vazios.
O problema não está no hambúrguer, no teleponto ou nos óculos que não funcionam. O problema é o vazio que já aceitamos como normal.
Que este texto vos inspire ou vos provoque. Não procuro concordância, mas romper as correntes da apatia.
Por Marisa Monteiro Borsboom



