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Terça-feira - 11 Novembro 2025

EXCLUSIVO: Sem Correntes – “É rápido e não se vê muito bem”. Mas está bem à vista! 

Destaques

28 setembro 2025

Mais um caso, mais um episódio que revela não apenas o gesto em si, ofensivo, desrespeitoso ou intimidatório mas a cultura que o permite acontecer dentro das próprias instituições que deveriam ser exemplo.

Não é só sobre um deputado que envia beijos em pleno plenário. É sobre o que isso simboliza: a banalização de gestos que carregam poder, ainda que mascarados de brincadeira ou leveza. É sobre a literacia do poder, entender que cada ato, cada palavra e cada silêncio num espaço público é carregado de significado e consequências.

Quando a autoridade se exerce sem consciência da sua responsabilidade, desliza-se perigosamente para o autoritarismo e para a censura. Porque o autoritarismo não se mostra apenas nos grandes gestos de repressão, mas também nas pequenas permissões, nos sinais de desvalorização, nos abusos disfarçados de irrelevância.

E é aqui que entra a cartilha do autoritarismo: começa sempre pela normalização do desrespeito, pela desculpabilização do gesto, pela relativização da violência. A regra é simples: testar os limites. E, se não houver resistência, avança-se mais um pouco. É por isso que a responsabilidade de cada um de nós é tão vital. Porque neste momento não haverá nada mais perigoso do que compactuar, e certamente que quem não o fizer vai pagar preços elevados, mas o preço de nada fazer é o mais elevado de todos. Não podemos, por isso, mesmo compactuar.

A resistência, por isso, começa no olhar atento. Em não aceitar que se relativize. Em recusar que o “é rápido e não se vê muito bem” sirva de desculpa para o que está, afinal, à vista de todos.

A literacia democrática é feita de atenção, de denúncia e de firmeza. Só assim se evita que os corredores do poder se transformem em palcos de intimidação em vez de espaços de representação.

Esta semana, ao ler o post  de Inês Cardoso sobre o seu artigo no Jornal de Notícias, encontrei um eco do mesmo alerta. Ela escreve sobre a ausência de mulheres na vida autárquica e sobre as “piadas” em torno do corpo de candidatas. A regressão nos direitos e na interpretação de papéis de género cruza-se com a boçalidade das redes sociais e com a incapacidade de reconhecer o essencial: que o corpo de uma candidata ou a roupa que veste não devem ser critério político. É a mesma raiz, a desvalorização mascarada de normalidade, o comentário rápido que parece inofensivo mas mina a dignidade e perpetua desigualdades.

Falar de autoritarismo é também falar de censura. O discurso livre não é ilimitado, nunca o foi, a liberdade de expressão termina onde começa a violação da dignidade e dos direitos do outro. Contudo, quando o poder político ou institucional se coloca como árbitro seletivo do que pode ou não ser dito, corremos o risco de transformar a liberdade em privilégio, reservado a alguns e negado a outros. A censura, mesmo quando se apresenta sob o pretexto de ordem ou de decoro, é sempre uma ameaça: não elimina a violência do discurso, apenas a transfere, e quase sempre para os mais vulneráveis.

É tempo de coragem meus senhores e minhas senhoras, que não nos falte. Ninguém quer ser mártir da liberdade mas temo que esse tempo virá! 

Que este texto vos inspire ou vos provoque. Não procuro concordância, mas romper as correntes da apatia.

Declaração de responsabilidade: Todas as opiniões e reflexões expressas nos textos, entrevistas ou publicações da autora são estritamente pessoais. Não devem ser entendidas como representando posições oficiais de qualquer organização, empresa ou instituição com as quais mantenha ligação profissional ou institucional. Embora desempenhe diversos cargos de liderança, consultoria e direção, as suas reflexões pessoais permanecem independentes e não devem ser atribuídas a essas entidades.

Por Marisa Monteiro Borsboom

Marisa Borsboom / Correspondente no BENELUX
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