Tive o prazer e a honra de estar presente, em representação da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Holandesa, num dos momentos mais marcantes do Sail Amsterdam: a receção a bordo do Navio Escola Sagres. O Sail é um acontecimento raro e grandioso, realizado apenas de cinco em cinco anos, que transforma a capital dos Países Baixos numa verdadeira celebração do mar. Durante vários dias, dezenas de embarcações históricas e modernas enchem os canais, atraindo milhões de visitantes e dando visibilidade às nações que nelas se fazem representar.

Estar na Sagres, no coração desta festa marítima, foi muito mais do que uma experiência protocolar. Foi sentir, de perto, a imponência de um navio que é embaixador de Portugal no mundo. As suas velas brancas dominavam o cais, atraíam olhares e despertavam perguntas. Cada visitante que subia a bordo não via apenas cordas e mastros, mas encontrava-se com a memória de um país que se fez ao mar. Para mim, portuguesa na diáspora, foi um reencontro íntimo com a pátria, uma ponte entre o presente internacional e as raízes que me definem.
E como se não bastasse, dias depois, vi publicada no New York Times uma belíssima fotografia da caravela portuguesa, ao fundo, recortada contra o céu de Amesterdão. Já antes tinha saído no jornal A Nossa Linda Cartela, mas vê-la naquele espaço global foi especial. Uma caravela no New York Times não é apenas uma imagem bonita. É um símbolo que viaja, que nos devolve o olhar do mundo, que recorda que o mar continua a ser a nossa identidade maior. Ao ver aquela fotografia senti um orgulho tranquilo, acompanhado da certeza de que não podemos deixar que esta herança seja apenas memória: tem de ser também futuro.

A história marítima portuguesa é feita de ousadia. Uma pequena nação, sem riquezas naturais abundantes, ousou vencer o medo e atravessar oceanos. Inovou, desenhou cartas náuticas, criou novos instrumentos, abriu rotas que mudaram a geografia do mundo. Esse espírito de aventura deu-nos grandeza. Mas também deixou marcas de luz e sombra, que hoje precisamos de revisitar com consciência crítica. Orgulho e responsabilidade andam juntos, porque só assim a memória se transforma em sabedoria.
E é precisamente no futuro que devemos pensar. O mar não é apenas postal turístico ou metáfora de saudade. O mar é estratégico. É economia azul, é energia limpa, é ciência e inovação, é sustentabilidade ambiental, é geopolítica. Portugal tem aqui uma oportunidade única de se afirmar, não pela dimensão territorial, mas pela centralidade que o oceano nos dá. Por isso é tão simbólico que já no próximo dia 9 de setembro, em Cascais, se realize o World Ocean Summit, organizado pelo The Times. Será um palco global onde o oceano será debatido como chave para o futuro do planeta. E será em Portugal, onde o mar não é apenas fronteira, mas possibilidade.
Ao regressar do Sail e ao rever a fotografia no New York Times, dei por mim a pensar também em nós, na diáspora. Quantos partem, quantos regressam? O Expresso noticiava que só em 2025 já voltaram quase seis mil portugueses, duplicando os números de há quatro anos. Essa notícia deixou-me feliz. Porque se há muitos que partem, há também muitos que voltam. E isso é bom. O regresso é parte da mesma viagem. O mar nunca foi apenas caminho de ida, foi também promessa de regresso.

Talvez seja essa a grande lição que o mar nos oferece. A vida faz-se sempre entre horizontes abertos e portos seguros, entre a coragem de partir e a esperança de regressar. E tal como os navios que continuam a navegar com a bandeira portuguesa, também nós seguimos pelo mundo, mas com o coração sempre ancorado em Portugal.
“O mar nunca foi apenas caminho de ida, é entre partidas e regressos que se revela a nossa maior força.”
Que este texto vos inspire ou vos provoque. Não procure concordância, mas romper as correntes da apatia.
Fontes : Sail Amsterdam | A Nossa Linda Cartela | New York Times | The Times – World Ocean Summit | Expresso
Por Marisa Monteiro Borsboom



